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Uma coisa é importar hidroxicloroquina, outra é importar vacina pronta contra a covid-19

O Brasil pode ser o país prioritário da AstraZeneca, pois foi um dos que mais apostou na vacina da Universidade de Oxford, mas a maior fábrica de vacina da empresa é na Índia

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Fernando Castilho

Publicado em 04/01/2021 às 16:40 | Atualizado em 04/01/2021 às 17:58
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Foi assim: no começo de maio, o Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército (LQFEx) comprou 500 quilos da matéria-prima. Os indianos com a sua suavidade não criaram problemas. Temos sim e atenderemos de bom grado ao Brasil.

Na hora da fatura, com a mesma suavidade, os indianos disseram o preço de "apenas" R$ R$ 1.304 o quilo. O preço era na verdade quase seis vezes aquele pago pelo Ministério da Saúde em contrato assinado em maio de 2019, quando o Governo Federal desembolsou R$ 219,98 por quilo. Também foi necessário importar o sal difosfato, insumo da cloroquina. Foi importado de um mesmo fabricante da Índia, preço total: R$ 652 mil.

Bolsonaro mandou pagar sem licitação e a compra fez parte das ações de enfrentamento à pandemia.

Os comprimidos, como se sabe, ficaram encalhados, e o governo agora trabalha numa forma de distribuí-los, já que nenhum médico da linha de frente quer usá-los. A despeito do ministério da Saúde insistir que devem ser dados já nos primeiros sintomas. Se o medicamento fosse aplicado em massa, seria a maneira de “desovar” o estoque encalhado.

O problema da importação pela Fiocruz de 2 milhões de doses da vacina da AstraZeneca, anunciada no final de semana, é bem diferente. Os indianos também têm acordos com a empresa, que tem plantas na China e na Índia, e há leis que, naturalmente, vão priorizar a população indiana. 

Não é tão fácil, a despeito do Brasil ser o país prioritário da AstraZeneca, pois foi um dos que mais apostou na vacina da Universidade de Oxford.

E qual é o problema? É que se obtivesse um pacote de 2 milhões de vacina, o Governo Federal poderia anunciar que iria iniciar a vacinação ainda em janeiro. Mas é importante esclarecer. Ainda será preciso envasar as vacinas. E aí tem outro problema. Receber, processar e entregar. Leva tempo.

A diferença é que se o governo do premier Narendra Modi autorizar em caráter excepcional, arranja um sério problema interno. Como explicar que prestar a ampliar o seu programa com a vacina indiana o governo que tem uma planta da AstraZeneca no país aceita transferir vacina pronta?

Tem mais: o Brasil não é um parceiro da Índia como é a Rússia e a China. É muito mais fácil Xi Jinping ou Vladimir Putin ajudarem a Índia que o ao Brasil. O nível de cooperação e a corrente de comércio é muito maior.

O problema é que esse é apenas mais um problema que o governo Bolsonaro vai ter que cuidar. Havia uma certa ação política na ideia de importar a vacina da AstraZeneca da Índia. Na pior das hipóteses, Bolsonaro empatava com a vacina da Coronavac, que tem 11.5 milhões de unidades prontas em São Paulo.

O primeiro-ministro pode autorizar a deferência a Bolsonaro? Pode. Mas vai ser difícil. Isso sem falar nos preços.

Mas vai ver que Bolsonaro entrando no circuito consegue?

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