Coluna JC Negócios

Guararapes, de onde partiria voo para buscar vacina na Índia, já foi chamado de Ibura Field

Aeroporto Internacional do Recife já teve decolagens e voo muito importantes pela sua localização estratégica

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Fernando Castilho

Publicado em 16/01/2021 às 12:40 | Atualizado em 16/01/2021 às 13:33
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Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios do Jornal do Commercio

Quando a Azul informou que seu voo para a Índia em busca de vacinas sairia do Recife - e ainda será quando a questão internacional for resolvida - muita gente estranhou o porquê da escolha do Aeroporto Internacional do Recife. Mas basicamente, a opção se deve pela proximidade do Recife em relação a Mumbai na Índia, onde aterrissaria 14 horas depois, já que o objetivo é fazer um voo direto.

Mas o que pouca gente lembra é que a posição do terminal aéreo despertou o interesse de vários países em operar nele começando pelos Estados Unidos durante a II Guerra quando decidiram trazer suas aeronaves para o Brasil, a partir do Ibura Field, como ele passou a ser chamado.

O Ibura Field era o antigo Campo do Ibura de onde se originou a antiga Base Aérea do Recife (BARF), no Jordão, ou do Aeroporto dos Guararapes, na Imbiribeira, Zona Sul do Recife. O nome surgiu em virtude da presença dos norte-americanos no Recife entre 1941 e 1945, quando o Brasil entrou na 2ª Guerra Mundial.

Segundo a jornalista Débora Oliveira, foi pelo Ibura Field que a capital pernambucana recebeu cerca de quatro mil soldados que ficaram instalados em bairros da cidade e no Ibura, na época uma área pouco ocupada. A presença deles virou uma festa e ao redor logo passou a ter casas noturnas, bares e pousadas próximas.

Segundo a FAB, a história da Base Aérea de Recife nos remete ao ano de 1927, quando Paul Vachet, piloto-chefe da CGA (Compagnie Générale Aéropostale), desembarcou em Recife no dia 21 de julho daquele ano e escolheu o campo do Ibura, o qual, anos mais tarde, daria lugar a mais antiga Base da Força Aérea Brasileira.

Em 1941, quando chegaram os primeiros militares, eles tiveram que ficar hospedados ou aquartelados em barracas no campo de pouso do Ibura. Os oficiais graduados ficavam na Avenida Alfredo Lisboa, segundo o historiador Rafael Pimentel sobre a área em sua pesquisa de graduação. Na época, as redondezas da Avenida Alfredo Lisboa, no Recife Antigo, concentravam também a ZBM, ou Zona do Baixo Meretrício.

A presença dos americanos fez até a economia da cidade mudar. Muitos estabelecimentos preferiam receber pelos produtos em Dólar Americano em lugar do Cruzeiro, moeda brasileira da época.

Após o fim da Guerra, em 1945, as tropas americanas se retiraram do Recife e a cidade deixou o clima de guerra para trás. A base evoluiu para um aeroporto formal que foi inaugurado em 1958.

Hoje, o Recife abriga na área do antigo Ibura Field o Terceiro Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA III) e pelo Grupamento de Apoio do Recife (GAP).

Ninguém imagina que seu nome oficial foi dado em 2 de julho de 1948, quando o então presidente Eurico Gaspar Dutra esteve no Recife e assinou o decreto 25.170-A, transformando o Aeroporto do Recife, localizado no Campo do Ibura, em Aeroporto dos Guararapes. Em 2001 (pela Lei nº 10.361) foi que virou Aeroporto Internacional do Recife/Guararapes - Gilberto Freyre.

O site aeroin.net, registra que o Aeroporto Internacional do Recife passou a ser administrado pela Infraero desde 7 de janeiro de 1974 e já foi palco de muitos fatos curiosos e até mesmo emocionantes, que vão desde a visita do Papa João Paulo II, em 1980. Em 1994, foi pelo Guararapes que a Seleção Brasileira saiu e chegou ao Brasil tetracampeã em 1994.

Também foi nele que tivemos uma das páginas mais tristes de nossa história. Foi no Guararapes que, em 25 de Julho de 1966, ocorreu no Brasil o primeiro ato terrorista com consequências sérias. Uma bomba explodiu no saguão do aeroporto matando o jornalista Edson Régis de Carvalho e o vice-almirante reformado Nelson Gomes Fernandes.

Para quem só conhece o novo terminal de passageiros, inaugurado em 2006, tornando-se o aeroporto com o maior número de destinos do Nordeste e do Norte do País, além de ter uma das maiores pistas de pousos e decolagens do Brasil, com 3.007 metros de comprimento por 45 metros de largura, não tem ideia de como ele mudou.

Desde 3 de março de 2020, a empresa espanhola Aena é responsável pelo gerenciamento operacional do Aeroporto Internacional do Recife Guararapes - Gilberto Freyre, que em 2019 recebeu 8.531.312 passageiros.

A Azul transformou o Guararapes no seu hub de operações no Nordeste. E também implantou seu primeiro voo internacional partindo do Nordeste, que tem como destino a cidade de Orlando, na Flórida. Em 2018, a empresa iniciou novas rotas internacionais partindo para Fort Lauderdale, também na Flórida, e algumas cidades da Argentina.

Ainda existem muitos fatos curiosos sobre este terminal. Ele já possuiu dias pistas de pouso. Elas se cruzavam onde estão hoje os hangares privados ao lado da linha férrea, que ainda existe.

Essa pista foi extinta em 1960 para dar lugar a abertura da nova Avenida Mascarenhas de Morais. Essa pista mais a atual formavam um X, que era o modelo americano de bases para maximizar o seu uso.

Outra curiosidade é que o terminal foi inaugurado em 1958, quando o Recife era a terceira capital mais importante do Brasil, e abrigou obras de todos os artistas mais importantes da época, a começar pelos jardins de Burle Marx.

Um painel de 32m² de Abelardo da Hora ainda está na antigas instalações, pois tendo sido feito com a técnica de afresco não pode ser remontado na nova estação como outras obras.

A escolha do aeroporto do Recife pela Azul tem explicações técnicas. Situado a 12 km do centro do Recife, o aeroporto atende as exigências das movimentações internacionais.

O Aeroporto dos Guararapes tem a maior, em capacidade anual, do Norte-Nordeste do Brasil. Ele opera 24 horas por dia e conta com um pátio de 21 posições de aeronaves dotadas de jetways (conectores climatizados) e conta com 64 balcões de check-in e 2.120 vagas de estacionamento.

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