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Morre Alex Periscinoto, o publicitário que popularizou o Fusca como carro econômico

Sua agência criou peças icônicas para o Fusca, modelo da Volkswagen que ganhou o coração dos brasileiros e até hoje é motivo de paixão de colecionadores

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Fernando Castilho

Publicado em 18/01/2021 às 8:40 | Atualizado em 18/01/2021 às 10:39
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O lendário publicitário Alex Periscinoto morreu nesse domingo (17) aos 95 anos. Ele foi vítima de complicações da Covid-19. O profissional faria 96 anos em abril. Diretor de arte por dom e formação, ele dirigiu a comunicação do Mappin, rede de varejo que exigia o desenvolvimento de vitrines atrativas e store planning caprichado. Ele foi um dos responsáveis por tornar o Fusca o carro mais vendido no Brasil.

Nos anos 60 foi contratado pela Almap e depois se tornou sócio de José de Alcântara Macha e Otto Scherb.

Na agência, criou peças antológicas para o Fusca, modelo da Volkswagen que ganhou o coração dos brasileiros e até hoje é motivo de paixão de colecionadores.

Os anúncios da Volkswagen eram em branco e preto. Publicados sábado, domingo, segunda. E mostravam a valorização dos modelos da marca na hora da revenda com o título: “Cheque ao portador.”

A ideia de valorização do carro levou à produção de um anúncio que virou célebre. A ideia era a de uma não depreciação do produto. E a imagem de um Fusca pela metade. Metade da página em branco, metade da página com a imagem do Fusca, e o motorista dentro, com esse título: “É isso que ele estaria valendo depois de um tempinho, se não fosse um Volkswagen.”

Segundo ele, na década de 70 a publicidade afirmava que quando você compra um carro, você na hora talvez não se preocupe com a hora de vender, mas você gosta de saber que não vai perder muito dinheiro. Todos os demais concorrentes perdiam uma nota, até hoje é assim. A Volkswagen foi quem inovou com os anúncios que tinham essa missão.

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Fotos de Fusca / Volkswagen / Carro / Veículo / Direção / Dirigindo - DIVULGAÇÃO
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A sua agência é a maior vencedora da história do Prêmio Colunistas, já sendo Agência do Ano em 1977, na 10ª versão da premiação. Isso três anos depois de, em 1974, o próprio Alex ter sido escolhido o Publicitário do Ano.

Fundador da Almap, o publicitário Alex Periscinoto foi o responsável pelas históricas campanhas da Volkswagen nos anos 60.

O Clube de criação divulgou nota afirmando que Alex Periscinoto foi "um dos grandes nomes da publicidade brasileira". "Alex Periscinoto morreu neste domingo, 17, aos 95 anos. Sua trajetória conta também parte da história da indústria da comunicação. Sua carreira começou pelo desenho. Depois seguiu pelo varejo, até que se encontrou na agência de publicidade. Periscinoto foi sócio da Almap, entre 1960 e 1998, quando vendeu suas ações para a rede BBDO e passou o comando da empresa para Marcello Serpa e José Luiz Madeira".

A nota diz ainda que "no Brasil, a criação de campanhas separava redatores e ilustradores. Em geral, os desenhistas, em um estúdio, recebiam o texto e instruções de como deveriam ilustrar a peça. Na DDB, Periscinoto viu que os anúncios eram criados em dupla: redator e diretor de arte trabalhavam juntos. Na mesma incursão pela agência, passou por uma sala, viu uma campanha desenhada, para ser aprovada. Era da Volkswagen."

Historiadores de publicidade registram que Alex foi o responsável pelo primeiro comercial para televisão no Brasil, para a Cera Dominó. Periscinoto foi o primeiro jurado brasileiro do Festival Internacional do Filme Publicitário, hoje Cannes Lions, em 1973.

Alex Periscinoto, junto com Roberto Justus e Washington Olivetto, foram reconhecidos por suas contribuições à propaganda brasileira pelo LIDE – Grupo de Líderes Empresariais, durante a quarta edição do Fórum de Marketing Empresarial. Promovido em parceria com a Editora Referência, o evento acontecerá de 16 a 18 de agosto no Sofitel Jequitimar, no Guarujá (SP).

Sua última atividade profissional foi na consultoria SPGA, especializada em organizar concorrências de publicidade para o mercado anunciante.

Caçula em uma família de imigrantes italianos de 11 irmãos, Alex foi educado no bairro paulistano do Belém e começou a trabalhar como operário nas Indústrias Matarazzo, na qual chegou ao departamento de desenhos em tecidos.

Em 1945 ingressou na Sears como desenhista industrial até alcançar a gerência do setor. De lá foi para o Mappin, assumindo a área de promoção e propaganda do magazine.

De 1960 a 1998, Alex Periscinoto foi Sócio e Diretor de Criação da agência de propaganda ALMAP/BBDO. E foi Sócio Diretor da SPGA – Salles, Periscinoto, Guerreiro e Associados, empresa de consultoria de marketing.

Dentre as diversas premiações recebidas no decorrer de sua carreira destacam-se: “Profissional do Ano” – 1972; duas vezes eleito “Publicitário do Ano”, em 1973 e em 1984; “Publicitário dos últimos 20 Anos” em 1988, concedido pelos Colunistas de Propaganda Brasileiros; “Os Melhores dos 30 Anos”, em 1997, do Prêmio Colunistas e Prêmio Meio & Mensagem; e no ano de 2000, recebeu a estatueta de ouro do Prêmio Colunistas, prêmio considerado como o “Oscar” da Propaganda.

Em 1998, foi nomeado Secretário de Publicidade Institucional da Secretaria de Estado de Comunicação de Governo da Presidência da República; e atualmente é membro da Academia Brasileira De Marketing.

Confira algumas frases interessantes que Alex Periscinoto citava nas suas palestras (nem todas são dele): 

"A cruz é o logotipo da igreja católica"

"Somos o reality show de Deus, somos bilhões de atores amadores, ruins, interpretando diariamente, durante 24 horas, sem interrupção pros comerciais, um espetáculo que poderia se chamar BBU- Big Brother Universal e que, só sendo Deus pra nos aguentar"

"A igreja cria, a publicidade cópia. Exemplo: a 'Biblia Pauperum'- 'Bíblia dos Pobres', criada no século XV para os fiéis analfabetos, é a mãe das histórias em quadrinhos que a publicidade e os cartunistas fazem hoje".

"Careca, não. Deficiente capilar"

"Ao contrário da lenda, nenhum médico é um Google ambulante com respostas na ponta da língua pra tudo quanto é problema de saúde do ser humano."

"A linguagem publicitária é tão mais eficaz quanto melhor souber trabalhar com o vocabulário do público. Publicitário não inventa nada. Publicitário é revendedor de material

"Criatividade publicitária é saber ver além do óbvio"

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