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Latência, Standalone, Faixa de 3,5 GHz, IoT. 5G no Brasil vem com sopa de letras e siglas que confundem usuário

Infraestrutura da futura rede 5G é um grande mercado para centenas de empresas que vendem equipamentos e serviços com redes de fibra ética.

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Fernando Castilho

Publicado em 21/02/2021 às 12:00 | Atualizado em 21/02/2021 às 12:36
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A chegada da 5G no Brasil virou tema de mais um embate no Brasil com a China, nosso maior parceiro comercial, porque o presidente Jair Bolsonaro, e alguns de seus ministros, acreditam na tese defendida pelos Estados Unidos de que a empresa Huawei, a maior fabricante do mundo de equipamentos para redes de comunicações, está a serviço do Governo e do Partido Comunista Chinês.

Bolsonaro exigiu que o Ministério das Comunicações colocasse no edital que vai leiloar as frequências da futura rede 5G a construção de uma rede separada por onde devem trafegar as informações do governo e de empresas estatais.

No mundo corporativo de TI, pouca gente está preocupada com a opinião do Bolsonaro sobre a Huawei, por entender que ela estará na retaguarda do sistema adotado. Só na China, 800 milhões de usuários já usam o 5G diariamente na chamada Internet das Coisas.

E no meio do debate sobre a implantação do 5G no Brasil, o ministro das Comunicações, Fábio Faria avisou que o governo é a favor da "exigência da implantação de redes standalone, a 5G de verdade".

Faria liderou uma turnê de técnicos do Ministério das Comunicações e do Tribunal de Contas das União por países sedes de fornecedores globais de telecomunicações – Suécia (Ericsson), Finlândia (Nokia), Japão (NEC e Fujistsu) e China (Huawei) - com o objetivo de conhecer todas as tecnologias disponíveis. O edital das frequências e, portanto, das empresas deve ser publicado em agosto.

Mas para o futuro consumidor que não se acostumou com a sopa de expressões em inglês que os técnicos do setor pronunciam quando se referem ao assunto como latência, espectro e IoT, a palavra standalone que, grosso modo, pode ser definida como uma rede inteiramente nova que não tem dependência alguma da 4G, só ajuda a complicar o assunto.

Afinal, o que tudo isso tem a ver com o nosso celular que vive irritando quando não pega um muitos lugares? Quando a rede wi-fi é lenta e se quiser baixar um simples vídeo as vezes tenho que esperar muito tempo?

Tudo! Respondem os técnicos afinal, a 5G promete três coisas que seriam mesmo o ideal. Velocidade na transferência de dados até 20 vezes mais que as atuais, latências (tempo de um pacote de dados ir a outro ponto), mais baixas e maior densidade de acessos por km² de modo que muita gente possa acessar a rede com essa qualidade prometida.

Mas, curiosamente o que os empresários, investidores, engenheiros e técnicos do setor estão interessados é como a definição do modelo de negócio do 5G no Brasil pode gerar de negócios.

Isso acontece porque, mesmo que o vencedor seja obrigado a montar esta tal de rede novinha para atender às exigências do novo modelo, terá que contratar serviços que vão muito além dos equipamentos vendidos pela Huawei que o governo Bolsonaro tentar impedir de liderar o 5G no Brasil.

E isso já faz com que companhias como a Um Telecom, que cresceu vendendo suporte, é dona de 16 mil quilômetros de fibra ótica estando presente onde as grandes operadoras não chegam, vejam a 5G como oportunidade de agregar valor às soluções desenvolvidas.

O segmento que ela faz parte é chamado de empresas competitivas. No setor existe acima as operadoras (Oi, TIM. Claro e Vivo) e os provedores de acesso à internet.

Isso quer dizer que existe um mercado de produtos e serviços que os vencedores do leilão do 5G no Brasil terão que contratar, mesmo que o governo exija uma rede standalone, afirma Rui Gomes, CEO da Um Telecon, uma empresa pernambucana provedora de serviços que cresceu fornecendo equipamentos de retaguarda e acesso a fibra ótica.

O grupo que ela faz parte faturou, ano passado, R$ 300 milhões nas áreas de fibra ótica, provisão de internet ao consumidor final, segurança de rede e até computação nas nuvens, e que mira sua presença no 5G como fornecedor de novos produtos atrelados à conectividade, agregando valor.

Para Rui Gomes, standalone ou non-standalone (modelo que aproveitaria a base 3G e do 4G), a 5G terá que falar com os atuais celulares. Então, para ele centenas de empresários do setor a questão são serviços ancorados na fibra ótica que farão a 5G cumprir os requisitos exigidos e que nenhuma companhia poderá fazer sozinha.

É um negócio que as tais competitivas já têm 40% das vendas de banda larga conquistados nas grandes cidades e nos locais onde Oi, Claro, Vivo e TIM não chegaram. Elas não chegarão também no 5G e terão que ampliar serviços comprados de terceiros.

Para a Um Telecom, cujos sócios controlam a Connectoway, revenda dos sistemas Huawei no Brasil, o 5G exigirá investimentos que as operadoras não farão sozinhas. Rui Gomes vê no 5G uma oportunidade "para quem agregar valor à conectividade".

Mas para o consumidor futuro quer dizer que ele terá que se acostumar a conviver com uma verdadeira sopa de letras. Termos como Latência, Faixa de 3,5 GHz e a tal IoT, a chamada Internet das Coisas.

E para completar, o ministro se encarregou de acrescentar mais palavras novas. "A nossa ideia é realmente implementar o 5G standalone, (os técnicos chamada de 5G AS) que é o 5G de verdade, para que a gente possa acolher toda a tecnologia que pode nos dar para desenvolver o nosso país. O 5G non-standalone é como se fosse um 4G Plus", disse Fábio Faria.

De acordo com o ministro, o 5G AS é o que pode trazer as oportunidades para novas empresas, novas tecnologias, novas profissões e vai ajudar muito as empresas a fornecer a IoT ´Internet das Coisas.

Do ponto de vista do Governo, admite Rui Gomes da Um Telecon, o ministro está certo. Afinal, é papel do Estado querer sempre uma tecnologia mais avançada e que ganhe o tempo do Brasil na tecnologia. Mas isso tem um custo que ter que ser avaliado.

Ele tem razão. Uma arquitetura 5G AS de tipo standalone, não há dependência alguma do 4G é o ideal. Mas pouco países bancaram isso. Mas no mundo real, 90% dos anúncios globais de ativação 5G se referem, na verdade, a redes 5G NSA – ou seja, ainda baseadas no que existe na 4G. Ou seja, usam parte do parque de máquinas.

O problema é o que isso tem a ver com o preço final para o consumidor. Todo mundo quer uma 5G que permita baixar um filme enquanto usa o metrô ou ônibus. Mas se for para pagar R$ 200, por mês, pouca gente aceita. Então, tem quer ver quanto isso vai custar na ponta.

Enquanto isso é bom ir se acostumando com essas novas palavras. Ah, inclua na lista throughput (transferência de dados), network slicing(ou fatiamento de rede para clientes B2B que são os negócios de empresa para empresa) e espectro que é o nome que define as faixa por onde os dados da 5G junto com as outras Gs devem trafegar. Sacou? 

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