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Gonzalo Vecina considera aética iniciativa de empresários de comprar vacina fora do SUS

Ex-presidente da Anvisa, Vecina duvida que uma empresa ou grupo de empresas possa comprar um lote, porque segundo ele não tem vacina para vender ao setor privado

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Fernando Castilho

Publicado em 29/03/2021 às 7:00 | Atualizado em 29/03/2021 às 9:02
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Médico sanitarista, fundador e primeiro presidente da Anvisa, Gonzalo Vecina Neto disse neste domingo (28) em entrevista ao comunicador Tony Araújo, da Rádio Jornal, que não acredita que o setor privado possa fazer compras de vacinas antes do Ministério da Saúde e questionou se é ético uma empresa comprar vacinas passando na frente de outros brasileiros?

Vecina duvida que uma empresa ou grupo de empresas possa comprar um lote, porque segundo ele não tem vacina para vender ao setor privado. "Vamos fazer uma pergunta: vão comprar de quem? As empresas Pfizer, Janssen, Moderna, AstraZeneca, já disseram que não vão fazer isso". E sobra a indiana Covaxin?

"Bom, a Covaxin é uma vacina sobre a qual não temos nada de informação sobre sua fase 3. Além disso, a Índia tem as 20 maiores indústrias do mundo e 2.980 quem não funcionariam no Brasil. Então temos de tomar cuidado com o que vem da Índia para garantir se essa vacina é segura".

"Mas eu quero colocar uma coisa muito séria. É justo, no século XXI, que quem tem dinheiro se salve antes dos demais? É justo que quem tenha dinheiro possa, por exemplo, fazer um transplante na frente de outros que estão na fila única do Ministério da Saúde?", disse Vecina.

"A reposta civilizada é não! Não podemos ir por esse caminho. Tem que ter fila única. E é o Estado quem fala como organiza essa fila, quem vai receber. E essa fila anda de acordo com o princípio civilizatório do Estado. Eu não sei como os nossos empresários aceitaram esse debate de querer brigar para passar na frente. Isso é uma imoralidade e falta de ética" concluiu o fundador e primeiro presidente da Anvisa.

Na semana passada, os empresários Luciano Hang, dona da varejista Havan, e Carlos Wizard, da holding Sforza, lançaram um abaixo-assinado para pressionar a mudança da lei que libera a compra de vacinas pela iniciativa privada, desde que os imunizantes sejam doados para o Sistema Único de Saúde (SUS).

No começo do mês, após uma articulação de um grupo de empresários, o Senado aprovou a Medida Provisória (MP) 1.026/2021, que facilita a compra de vacinas contra a covid-19. O texto determina que a aplicação de vacinas contra a covid-19 deve seguir o Plano Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde.

O texto, sancionado pelo presidente da República, dispensa licitação e estabelece regras mais flexíveis para a aquisição de insumos e serviços necessários à imunização contra essa doença.

Agora os empresários querem que a legislação permita a compra de imunizantes pelas empresas, mas sem a contrapartida ao sistema público de saúde.

Apesar da dura crítica, a proposta de compra de vacinas pelo setor privado, que já conseguiu aprovar uma lei no Congresso autorizando a importação direta por empresas ou entidades fora do sistema SUS e do ministério da Saúde, Vecina Neto disse que a expectativa é que se tudo der certo, podermos ter vacinado 70% do público alvo em setembro

"A expectativa nós teremos que vacinar a nossa população com as vacinas do Butantan e da Fiocruz e com 40 milhões do consórcio da OMS. E torcer para que recebamos alguma coisa dos 100 milhões prometidos pelo Pazuello da Pfizer de 40 milhões da Janssen", disse o professor assistente da FSP/USP.

Vecina falou também sobre produção de vacinas brasileiras. Segundo ele, a estimativa do governador João Dória é exagerada, pois no mínimo a vacina do Butantan (Butanvac) precisará de seis meses.

Ele disse que a planta onde será feita a vacina é a mesma onde está sendo feita a vacina da gripe H1N1, que precisará ser limpa e programada para a nova vacina se todos os passos da fase 3 forem cumpridos. Já a vacina anunciada pelo ministério da Ciência de Tecnologia e que está sendo desenvolvida em Ribeirão Preto ainda depende uma fábrica.

O ex-presidente da Anvisa acredita que o Brasil vai precisar de seis meses com a produção plena da SinoVac e da vacina da AstraZeneca para chegar, em setembro, a 70% da população imunizada.

"A partir de abril, se conseguirmos multiplicar por quatro a nossa performance, a Butantan e a Fiocruz entregando 40 milhões/mês, a partir de maio, abril, junho, agosto e setembro podemos chegar a 100 milhões de vacinados dos 170 milhões que é o público-alvo. O que seria um sucesso."

Vecina também se mostrou cético sobre a comissão criada pelo presidente Bolsonaro para acompanhar a crise do coronavírus.

"Eu acho que não vai dar em nada. Era o ministério da Saúde quem deveria liderar. Não consigo ver o Congresso sentando uma vez por semana avaliando o que o Ministério da Saúde deve fazer? Temo que essa comissão seja um factoide para tentar surpreender e que depois seja obrigada a se desmentir em público." disse Gonzalo Vecina Neto.


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