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Conversa de Putin com Bolsonaro ajuda e uso da Sputnik V no Brasil agora só depende do parceiro brasileiro

Uma equipe da Anvisa vai à Rússia inspecionar as fábricas de produção da Sputnik e dos seus insumos.

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Fernando Castilho

Publicado em 06/04/2021 às 17:30 | Atualizado em 06/04/2021 às 18:04
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A conversa do presidente Jair Bolsonaro com o presidente da Rússia, Vladimir Putin nesta terça-feira pode ser tratado como o maior passo para a aquisição e fabricação no Brasil da vacina Sputnik V desenvolvida pelo Instituto Gamaleya na Rússia, mas enquanto a União Química na entregar a documentação as chances de a vacina ser usada no Brasil continuam pequenas.

O fato novo dessa conversa foi que Bolsonaro estava acompanhado do presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres que informou que equipe da Anvisa vai à Rússia inspecionar as fábricas de produção da Sputnik e dos seus insumos.
Barra Torres também disse que o embaixador da Rússia no Brasil, Alexey Kazimirovitch Labetskiy, irá visitar a Anvisa nesta semana.

Os nove governadores do Nordeste assinaram, ontem, contratos com o Fundo Russo de Investimento Direto para a compra de 37 milhões de doses da vacina Sputnik V.

A fábrica a ser visitada ocupa uma área de 32 mil m². Antes da Sputnik V, o principal produto da Binnopharm era a Regevac, uma vacina contra hepatite B desenvolvida pela empresa.

Diferentemente das unidades da fábrica indiana Covaxin, as fábricas da Sputnik V são feitas na planta da Binnopharm, em Zelenograd, depois que o Instituto de Pesquisa Científica Gamaleya concluiu os estudos pré-clínicos da amostra experimental de uma das vacinas contra o coronavírus.

Ela produz o chamado Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) e, também, a vacina na formulação final que é aplicada na população.A fábrica da Binnopharm, em Zelenograd, faz parte do grupo farmacêutico russo Alium Sistema e é uma unidade de produção biofarmacêutica de ciclo vertical completo.

A entrada de Putin pode ajudar a que a empresa brasileira entregue os documentos que até agora não obteve aprovação de nenhuma das agências mais acreditadas do mundo o processo parou. Com esse cenário, a aprovação da Anvisa terá que ser integral.

A Sputnik V foi primeira vacina de coronavírus do mundo, mas foi recebida com desconfiança pelo mundo científico ocidental por não divulgar detalhes técnicos de seu desenvolvimento. Só este mês, depois do primeiro artigo científico publicado na revista internacional The Lancet, vieram mais informações sobre ela.

O problema da Sputnik V é que o mundo acadêmico ocidental não tem o volume de informações sobre sua pesquisa clínica como as demais vacinas, com dezenas de artigos publicados.

A própria Anvisa, no Brasil, tem restrições e se queixa da falta de informações científicas em revistas internacionais.

Hoje, segundo a agência brasileira, a empresa teve devolvida sua documentação por faltarem dados e estudos considerados essenciais para a concessão da autorização de uso emergencial pelo Brasil, Canadá, Reino Unido, Japão, países-membros da EMA e da OMS.

A atuação política da União Química no Congresso e junto ao Governo já lhe garantiu que, na Medida Provisória (nº 1026) que dispensou licitação para a compra de vacinas e a autorização do uso emergencial pela Anvisa, lhes fosse reservado R$ 693,6 milhões para a vacina Sputnik V, junto com mais R$ 1,6 bilhão para a indiana Covaxin.

Isso quer dizer que a União Química já tem um freguês que é o Ministério da Saúde. Mas a pressão dos governadores é muito bem vinda.
o presidente da empresa, Fernando de Castro Marques, acusou a Anvisa de estar retardando a aprovação da Sputnik V por questões ideológicas, em benefício dos laboratórios Fiocruz e Butantan.

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