Arena Pernambuco vira despesa fixa de quase R$ 20 milhões/ano para o Estado
A despesa fixa com os custos de manutenção chama-se "Rescisão PPP Administrativa - Cidade da Copa 2014" e custará exatos R$ 19.091.407,28 apenas este ano
A informação publicada, nesta sexta-feira (23), no Diário Oficial do Estado, de que a Arena Pernambuco fechou um contrato de manutenção de R$ 532 mil para o sistema de ar condicionado é apenas uma rubrica das despesas fixas que o Complexo Multiuso incorporou ao orçamento do Estado depois de sua inauguração em 2013.
Deveria ser um projeto de sucesso com um pacote de shows e de jogos das séries A e B do futebol brasileiro, mas acabou virando um grande problema. Primeiro pela necessidade de manutenção. Depois por que não tem receitas, já que os clubes de Pernambuco não aceitam mais levar o mando de campo para o estádio. Jogar na Arena custa caro.
Mesmo no campeonato Pernambucano, Náutico, Sport e Santa Cruz preferem jogar nos seus estádios. Especialmente agora que não tem espectadores nas arquibancadas.
A manutenção do sistema de ar-condicionado talvez seja uma despesa mais que justa até porque sem isso o estádio teria deterioração do equipamento. Mas existem despesas maiores. A maior delas é o pagamento do Governo de R$ 19 milhões, por ano, das prestações da rescisão administrativa do contrato de gestão com a Odebrecht.
O Governo de Pernambuco se comprometeu a pagar em 10 anos esse valor, com o distrato do contrato de gestão com a empreiteira - que ainda cobra uma dívida na Justiça. A despesa chama-se Rescisão PPP Administrativa - Cidade da Copa 2014 e custará exatos R$ 19.091.407,28 este ano, mais R$ 17.678.339,17 em 2022 e mais R$ 16.134.261,48 em 2023.
Em meio à pandemia do coronavírus, Arena de Pernambuco completa sete anos
No geral, segundo o secretário Rodrigo Novaes, em declaração ao Jornal do Commercio, ano passado, quando se instalou a pandemia, as despesas da Arena Pernambuco que eram de R$ 1,8 milhão em 2016, passaram para R$ R$ 700 mil por mês 2020.
No período houve redução de 16% na conta de energia elétrica e 51% na conta de água, inclusive, porque o complexo tem captação de água da chuva. Por exemplo, as últimas chuvas na semana passada reduziram as necessidades de água o suficiente para 45 dias de uso, especialmente para o cuidado com o gramado.
O secretário afirmou na ocasião que o principal desafio da Arena é se tornar autossustentável. Ele disse que no ano que antecedeu a pandemia a Arena recebeu 125% mais visitantes, e demandou 126 eventos e 52 jogos.
Com a pandemia o quadro mudou e o governo está cuidando da manutenção do equipamento. O secretário enxerga a Arena como um equipamento essencial par ao turismo e cita a possibilidade de demandar jogos da Copa do Mundo em breve.
O problema da Arena Pernambuco é que ela foi projetada para ser uma fonte de receitas firmes que viraram rendas esporádicas com despesas permanentes.
Mas não tem sido fácil gerar receitas. No ano passado a arena passou seis meses fechada para visitação, devido à pandemia do novo coronavírus.
O Tour na Arena, suspenso desde março, volta com uma edição especial para quem quiser conhecer o estádio que foi uma das sedes da Copa do Mundo de 2014.
E mesmo abrindo existem as regras para a visitação guiada, onde estão a restrição de 12 pessoas por turma, distanciamento de 1,5 metro entre os visitantes e horários dedicados a grupos especiais, como idosos. Também é obrigatório usar a máscara durante todo o passeio e, na chegada dos visitantes, será aferida a temperatura corporal.
Entretanto, a Arena virou um problema depois de um estudo elaborado pela FGV que embasou decisão do governo estadual. O Governador Paulo Câmara decidiu romper o contrato de gestão.
Para complicar, o TCE afirmou num relatório de investigação que a obra custou R$ 90 milhões menos do que dito pelo consórcio.
Depois do rompimento, a crise continuou e, chegou a 2017 como o ano mais negativo da história da Arena de Pernambuco em eventos ligados ao futebol. Seguindo a tendência de 2016, o estádio recebeu o menor número de torcedores de todos os tempos, resultando também na sua pior arrecadação desde a inauguração, em 2013.
Foi o fim de um sonho que embasou a construção - pelo Governador Eduardo Campos. Segundo a Odebrecht, antes da construção do estádio, indicava-se que seria necessário que as três principais equipes do estado mandassem ao menos 20 jogos cada uma para fazer, teoricamente, a arena viável financeiramente. O problema é que hoje nenhum dos três quer joga na Arena, por terem seus estádios.
O custo da rescisão é caro. O governo de Pernambuco está pagando à construtora Odebrecht R$ 246 milhões, no prazo de 15 anos, pela rescisão do contrato de concessão.
A Arena custou R$ 479 milhões, dos quais 75% foram pagos em 2014, com valores históricos, restando o pagamento da atualização. O saldo da obra, de 25%, abatidas as parcelas mensais pagas até este mês, compõe o valor a ser pago como decorrência direta da rescisão, dando origem ao gasto de R$ 246 milhões. É esse valor que obriga o Governo a reservar por ano R$ 19 milhões no seu orçamento, embora esteja ano a ano diminuindo.