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Paulo Guedes mostra a Rogério Marinho que ele não pode servir ao Governo e ao Congresso ao mesmo tempo

Paulo Guedes acertou os cortes com o presidente e pegou Marinho cancelando seus recursos dentro do orçamento. Deixou o ministro do Desenvolvimento Regional sem nada para oferecer e inaugurar obra

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Fernando Castilho

Publicado em 24/04/2021 às 19:00 | Atualizado em 24/04/2021 às 20:57
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Político boa praça, ministro legal para receber deputado e resolver pequenas demandas, Rogério Marinho sabe, hoje, que terá que escolher se serve ao Governo Bolsonaro ou se prestigia seus antigos companheiros de Parlamento no comando da pasta do Desenvolvimento Regional.

Marinho fez carreira no Legislativo, embora tenha passagens no Executivo de seu estado, o Rio Grande do Norte. Educado, atencioso e sempre disposto atender a todos, ele perdeu a eleição em 2018. Mas seu trabalho nas comissões da Câmara Federal chamou a atenção de Paulo Guedes, que o levou para equipe onde se tornou a voz do ministério da Economia na articulação da reforma da Previdência.

Bolsonaro viu a capacidade de articulação de Marinho e o chamou para um ministério que é sua cara. Pequenas verbas, muitas obras pequenas e a possibilidade de dezenas de inaugurações pelo interior do Brasil levantando a bola para Bolsonaro cabecear no gol. Marinho virou figurinha carimbada no Planalto.

O problema é que depois da reforma da Previdência e do orçamento de Guerra que permitiu pequenas sobras para concluir várias obras quase prontas, Marinho viu que, em 2021, não poderia convidar o chefe para fazer muita inauguração e decidiu agir.

Voltou a frequentar o Congresso e arranjou porta-vozes defendendo a liberação de verbas para mais obras. Pequenas obras que pudessem ser entregues este ano. Deu certo. Os deputados cravaram uma tempestade de emendas, estouraram o orçamento. Acendeu a luz amarela do Ministério da Economia. Paulo Guedes pregou na pasta de Marinho a expressão "Ministro Fura Teto".

O tempo passou, Marinho continuou trabalhando ativamente no Congresso articulando mais emendas de deputados que, na outra ponta, iriam ajudar sua pasta pois permitiriam grande número de inaugurações. O estouro veio quando ficou claro que não dava para pagar tanta emenda.

Num acordo com o Congresso, o Governo acertou os cortes na tempestade de emendas e se comprometeu a ajustar as suas contas domésticas.

Foi aí que Marinho viu que não se pode servir a dois senhores. Ou fechava com seus antigos colegas, ou fechava com o governo.

Paulo Guedes acertou os cortes com o presidente e pegou Marinho cancelando seus recursos dentro do orçamento. Cortou R$ 2,66 bilhões de um orçamento de R$ 4,96 bilhões. Deixou o ministro do Desenvolvimento Regional sem nada para oferecer e inaugurar obra.

A pancada pegou Marinho numa das ações que mais tem potencial de mostrar Bolsonaro atuando na ponta: As verbas do Orçamento de 2021 para dar continuidade às obras da Faixa 1 do programa Casa Verde e Amarela. Da verba de R$ 1,540 bilhão, ficaram R$ 27 milhões — uma redução de R$ 1,513 bilhão, ou 98,2%.

A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e todas as suas entidades associadas - que sempre incensaram Marinho - sentiram-se traídas. Justamente ela que tem se destacando como uma das entidades associativas que mais tem apoiado o Governo Bolsonaro.

Com o veto que praticamente zera as despesas que estavam reservadas ao Fundo de Arrendamento Residencial (FAR), serão paralisadas as obras de 250 mil casas que hoje estão em construção no país. O montante emprega diretamente em torno de 250 mil pessoas e outras 500 mil entre empregos indiretos e induzidos.

Foi a segunda decepção do setor da construção civil com Governo Bolsonaro desde que assumiu. Já em setembro de 2019, o governo decidiu deixar de bancar parcela de subsídio dos empreendimentos das faixas 1,5 e 2 do programa Minha Casa Minha Vida.

Determinou que 100% do benefício fosse bancado pelo FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), que reúne recursos acumulados compulsoriamente pelos trabalhadores.

Foi a expulsão do setor da Construção Civil do paraíso criado pelo PT em 2009 quando criou o MCMV. Até aquele ano, a União pagava 90% dos projetos e o FGTS cobria o resto da Faixa 1.

O setor reclamou, mas não foi para o confronto. Afinal, tinha ainda 250 unidades em construção. Confinavam que Rogério Marinho resolvesse a questão.

Este ano, Rogério Marinho se comprometeu a manter os projetos de 44.500 unidades que deveriam ser entregues desde 2018 e que estavam sem ser finalizadas. Ontem, até mesmo esse sonho acabou.

Para o ministro ficou a lição. As emendas dos deputados que ajudou a destinar na sua articulação no Congresso estão preservadas, mas o dinheiro que ele contava para turbinar a sua atuação e levar Bolsonaro para inaugurar obra, não vai chegar.

O jogo do poder tem regras claras. Se é ministro, tem que defender todas pautas do Executivo. Não pode ficar querendo servir ao Congresso. O Congresso que fica do outro lado da Praça dos Três Poderes está do outro lado do balcão. É perto, mas não é a mesma casa.

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