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Exército sente desgaste de imagem associada ao governo de Bolsonaro

O Exército é, com certeza, a arma preferida dos brasileiros. Por isso há um enorme desconforto quando tudo isso é resumido numa performance ruim de alguns integrantes.

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Fernando Castilho

Publicado em 22/05/2021 às 12:00
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Das armas de nossas Forças Armadas, o Exército é, certamente, a que mais sofre com o desgaste da imagem do governo do presidente Jair Bolsonaro. Talvez devido à quantidade de integrantes que passou a integrar em cargos públicos e, consequentemente, ser associado aos insucessos da administração.

O Exército é, com certeza, a arma preferida dos brasileiros. Até pela presença na sociedade, até porque seus comandantes e até os generais que assumiram o comando do Ministério da Defesa, terem se tornado mais conhecidos, que seus colegas das armas da Aeronáutica e Marinha. E pelas grandes operações que desenvolveu na sociedade nos últimos anos.

O problema é que no Governo Bolsonaro, generais da reserva do Exército estiveram ligados ao presidente desde a eleição, na transição, nos primeiros meses da administração e pelo volume de cargos que passaram a ocupar.

E exatamente por isso quando, Eduardo Pazzuello, ainda na ativa; Braga Neto, agora na Defesa e Luiz Eduardo Ramos, na Secretaria Geral da Presidência aparecem no noticiário no Ministério da Saúde; nas manifestações antidemocráticas pedindo ações contra o STF entre outras instituições e na elaboração de um suposto “orçamento paralelo” é a imagem da arma é quem sai desgastada.

O problema é que no noticiário, o nome do personagem que está no governo vem com o posto antes. O general Eduardo, o general Braga Neto, o general Ramos... Não vem com uma referência a um almirante ou brigadeiro, por exemplo. Até porque eles não estão.

Também é importante não esquecer. Os três comandantes militares e o próprio ministro da Defesa foram substituídos, no último dia 30 de março, exatamente por não aceitarem as pressões do presidente para que manifestassem apoio aos atos que pudessem atropelar a Constituição. Eles se recusaram a associar o prestígio dos militares junto a sociedade ao governo quando ele ameaçou à Carta Magna.

Esse é um problema perturbador. Na próxima semana, quando a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde Mayra Pinheiro, for depor da CPI da Covid, será identificada como capitã do Exército, ou a "capitã Cloroquina".

O novo presidente do Ibama - que substitui um civil afastado pelo STF - será um coronel do Exército. E a denúncia de uma tentativa de gastos não autorizados no ministério da Saúde está ligada a um coronal do Exército reformado que está no comando do MS no Rio de Janeiro.

Isso se deve ao fato de a arma, de fato, ter cedido mais integrantes e ex-integrantes que as outras duas. Mas quando vem a crítica, o nome dela vem em primeiro lugar e isso é muito desgastante.

O caso do general Eduardo Pazzuello se tornou o exemplo desse enorme prejuízo de imagem. General de Intendência, na ativa, sua presença no noticiário da epidemia do coronavírus foi o ápice de um desgaste que nenhum oficial do Alto Comando jamais imaginou.

Nos últimos dois anos, o “verde oliva” também passou a ter uma associação que em nada agrada à tropa. As manifestações de rua contra a ordem democrática e às instituições feitas por apoiadores do presidente que, invariavelmente, usam o verde do Exército.

Todos os brasileiros têm um enorme orgulho de seus militares nas forças federais. Pelos valores que, ao longo dos anos, eles vêm professando. Por isso não agrada a muita gente quando o verde oliva do Exército está associado à marca do radicalismo dos apoiadores do presidente. Isso incomoda à tropa.

Nos últimos 50 anos, o nível intelectual dos oficiais de alta patente foi elevado a um patamar que nos coloca em linha com o oficialato das grandes nações. Prova disso é a participação do Brasil nas grandes manobras internacionais como ator importante.

Por isso há um enorme desconforto quando tudo isso é resumido numa performance ruim de alguns integrantes. E mais ainda quando no noticiário se faz essa associação. A grosso modo pode-se dizer que após quase 30 meses da atual administração, a imagem das Forças Armadas sofreu mais quem nos 30 anos após a redemocratização. E dentro delas, certamente, a mais foi prejudicada foi a do Exército.

Felizmente, a solidez da imagem das Forças Armadas é tão grande entre os brasileiros que não resvala para maiores danos sobre a sua importância e função estratégica.

Mas depois de quase 50 anos se esforçando para se apresentar à sociedade brasileira como estritamente profissional e de altíssimo nível técnico internacional, não parece confortável ser associada aos desacertos do Governo Jair Bolsonaro a quem, por dever constitucional, tem a missão de defender.

 

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