Brasil vende mais para a China e importa inflação do dólar sobre o real
Construção civil sofre com aumento de preços de produtos como ferro, fio de cobre, alumínio e até de vidro que sofrem com o aumento do dólar.
Quem precisou comprar cabos elétricos para instalações seja comercial, residencial ou industrial já viu que, desde que a economia voltou a rodar no Brasil, os preços dispararam. Chegaram subir 73%.
O caso do fio de cobre, que inclusive é alvo de roubos nas ruas e avenidas da Região Metropolitana do Recife, é apenas mais um na alta generalizada de preços.
Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), 84% das 206 empresas consultadas em pesquisa da entidade responderam, em março, que há desabastecimento de aço em suas regiões. Mas o maior problema é que o prazo médio de entrega em alguns itens chega a 90 dias para mais de um quarto (26%) dos empresários consultados pela entidade.
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O caso do cabo elétrico tem a ver com as nossas exportações. A alta do cobre fez o valor das exportações brasileiras saltar 46,33% em 2021. As consecutivas altas do cobre no mercado internacional provocaram um salto no valor das exportações brasileiras do metal vermelho nos primeiros meses de 2021.
Pouca gente sabe que o Brasil também virou um exportador de cobre depois que uma descoberta em Carajás elevou a produção de cobre da Vale nas minas Sossego e Salobo, onde já se produzia o metal. Somando mais um produto para a produção de minério de ferro no Brasil.
E, como cobre é uma commoditie, a China, que já comprava minério de ferro, também passou a comprar cobre do Brasil, que não tinha esse produto na prateleira. As importações de cobre da China em março aumentaram 25% em relação ao ano anterior, em meio ao aumento da demanda pelo metal. A Administração Geral das Alfândegas informou as chegadas de cobre em bruto e produtos derivados que totalizaram 552.317 toneladas no mês passado, 34,7% superior a fevereiro.
Tudo isso é bom porque a balança comercial brasileira teve um saldo positivo de US$ 18,2 bilhões (R$ 95 bilhões) nos quatro primeiros meses deste ano, valor 104% maior do que o registrado no mesmo período de 2020.
As vendas externas de produtos agropecuários cresceram 24,4% no período, na comparação anual, enquanto as exportações da indústria extrativa aumentaram 50,8%. Mas esse movimento tem consequências na economia interna.
Os preços das commodities estão em alta graças à recuperação da economia mundial, devido ao controle da pandemia nos Estados Unidos, Europa e China. Só que o Brasil não tem renda para aguentar esse aumento de preços.
Em nível global, a manufatura da China se expandiu em um ritmo mais rápido do que o esperado em março. Nesse mês, as importações de concentrado de cobre ou minério de cobre parcialmente processado foram de 2,17 milhões de toneladas, o maior já registrado. Ou seja, o Brasil virou exportador, mas a demanda da China fez os preços dispararem.
Assim como a dona de casa está pagando o preço em dólar pela carne de boi, porco, frango e até do ovo, o impacto das exportações brasileiras nas commodities está batendo forte na construção civil. Em uma mistura de desvalorização do real, explosão de consumo em 2020 de produtos de material de construção (por força do auxílio emergencial), aumento das exportações de minério de ferro (também de cobre) para a China e aumentos em cadeia da indústria do plástico ao metal, do ferro ao cobre e o alumínio.
Desta forma, pode-se dizer que o dólar que beija Chico - na hora de vender proteína animal - é o dólar que bate em Francisco - quando compra, por exemplo, cobre, perfis de alumínio e itens mais específicos, como máquinas e itens importados que a indústria da construção está incorporando.
No entanto, com um dólar custado ao menos R$ 5,30, todas as commodities relacionadas como matérias prima da construção não baixam. Os fabricantes de ferro, por exemplo, já avisaram: a partir deste mês, vão subir 6%, todo dia 1º, até agosto, cravando 18%. Dos itens essenciais, a única baixa - pela redução de consumo formiguinha - é o cimento, que num ano subiu 21,95% e ficou lá até abril.
O ano de 2020 foi bom para o varejo de material de construção, que vendeu à vista com fila de espera de vários itens. Mas, este ano, mesmo que as vendas estejam voltando ao normal, o preço tem novo patamar.
No geral, o INCC está em 12,98%, em 12 meses. Mas até abril já subiu 5%. É ruim para quem já vendeu que não repõe o aumento de custo e ruim para quem comprou porque o mercado de imóveis está com oferta demais.
Para dessa dificuldade está na dificuldade do dólar. Os preços subiram porque o dólar se valorizou. Antes da pandemia, no fim de janeiro de 2020, a cotação do dólar era R$ 4,29. Hoje o dólar está na faixa de R$ 5,30 e na hora de refazer os estoques de insumos, a indústria viu uma disputa maior pelos mesmos produtos.
Além disso a atividade econômica em outros países voltou com força, em especial na China, que saiu comprando além de alimentos, muito minério e aço, por exemplo. E essa disputa provocou escassez e aumento dos preços.
O caso do A China, por exemplo, sempre foi um exportador de plástico PVC. Mas, a exemplo do que acontece no Brasil, a indústria chinesa também queimou seus estoques no momento mais crítico da pandemia.
Só que a China viveu este período muito antes de todo mundo e por isso foi a primeira a recompor estoques. E de uma hora para outra o país que era exportador de PVC passou a comprar o material de todo o mundo.
Isso afeta a produção mundial e o Brasil, não podia ser diferente, está também batendo recordes de produção de plástico PVC.