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Bucho, mocotó, tripa e até órgãos sexuais: a China quer tudo do boi do Brasil

Os testículos e especialmente o vergalho, que é o conhecido "cipó de boi", ou o pênis bovino, têm um alto valor comercial naquele país

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Fernando Castilho

Publicado em 10/06/2021 às 7:00 | Atualizado em 10/06/2021 às 11:59
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Os frigoríficos produtores de carne bovina do Brasil aguardam, para este ano, o fechamento de uma das mais importantes negociações lideradas pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina, com a China, no mercado de proteína animal. Trata-se da permissão do governo chinês para que as indústrias brasileiras exportem diretamente miúdos bovinos, hoje vendidos apenas para Hong Kong e que representam 7% das exportações do setor.

Identificados na linguagem da Cacex, do Ministério da Economia, como “despojos comestíveis de carnes, preparados ou preservados”, ele abrange tudo que existe dentro do boi. Dos intestinos e vísceras ao vergalho (órgão genital no boi), vendido como afrodisíaco nos preparos de sopas e mais valioso que carnes que os chineses continentais compram do Brasil.

E no país que se orgulha de abrigar o maior plantel de gado bovino para criação e abate do mundo e exportar US$ 8,5 bilhões por ano, vendendo 2 milhões de toneladas abrindo um mercado que hoje não pode ser acessado diretamente - embora os frigoríficos já vendam para o país indiretamente, uma vez que empresas de Hong Kong reexportam para a China continental.

Isso faz de Hong Kong o segundo maior cliente do Brasil, que compra US$ 80 milhões/mês (ou US$ 1 bilhão por ano) desses itens.

Se a China importar miúdos brasileiros, a expectativa é dobrar esse volume com preços bastante interessantes, já que os chineses preferem os miúdos para sua culinária de sopas e caldos.

FERNNADO CASTILHO
Masterboi Pará Vísceras e Miúdos Bovinos - FERNNADO CASTILHO

Os chineses comem literalmente tudo que está dentro da barriga do boi. Isso quer dizer dos grandes órgãos, como fígado, coração, língua, bucho e tripas, mas também itens que no Brasil não têm valor comercial, como testículos e especialmente o vergalho, que é o conhecido "cipó de boi", ou o pênis bovino, cuja cartilagem tem um alto valor comercial naquele país por suas propriedades afrodisíacas.

Por mês, a China continental compra do Brasil carne bovina fresca, refrigerada ou congelada U$ 1,5 bilhão. Hong Kong compra US$ 265 milhões, incluindo as compras de miúdos. Mas com autorização do governo chinês para a venda de miúdos, a expectativa do setor é que imediatamente os miúdos (7,33%) e tripas (1,96%) possam chegar próximo dos demais cortes hoje comprados pela China. Um novo e espetacular mercado.

Segundo o presidente da Masterboi, Nelson Bezerra, essa linha de produtos oriundos dos bovinos vai consolidar a posição do Brasil no mercado chinês, que só compra diretamente a carne desossada e resfriada. A empresa, que já vende esse produtos para Hong Kong, acredita que os negócios podem crescer exponencialmente após a autorização de Pequim.

Os chineses agora estão abrindo uma negociação para que além da carne desossada, o Brasil venda diretamente os órgãos internos. E isso pode ser um novo mercado tão importante como o de carnes dianteiras ou os cortes mais nobres.

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Masterboi Pará Vísceras e Miúdos Bovinos - FERNNADO CASTILHO

A perspectiva sobre miúdos é aguardada também pelos produtores de frango e suínos. Os chineses também consomem miúdos desses animais. No caso do frango, o pé de galinha tem alto valor pela oferta de colágeno. O Brasil exporta US$ 500 milhões/ mês de carnes para a China e Hong Kong alcança US$ 80 milhões.

No Brasil, com exceção do fígado, quase nenhum órgão interno do boi tem grande valor comercial. Nas grandes cidades, todo esse volume de proteína é desconhecido, já que no Brasil apenas as carnes despertam interesse do consumidor.

Na China, porém, toda essa série de itens está arraigada à culinária que não desperdiça nenhum desses órgãos. Mocotó, bucho e tripas gozam de tanto prestígio na China como picanha e alcatra no Brasil.

Segundo Nelson Bezerra, os preços da carne bovina no Brasil, onde o consumo de 2020 caiu para o de 25 anos atrás, só deve baixar ano que vem. Mas não retornando a preços de 2016 e 2017. Os preços devem cair com maior oferta de animais para o abate.

Para o empresário, a crise do mercado de carne foi contratada em 2006, quando os baixos preços fizeram o Brasil abater milhões de vacas, reduzindo o plantel e toda criação. Somente em 2012, os preços pararam de cair ajudados pelas exportações.

Com o dólar alto e a exportação, o mercado cuidou de reduzir o tempo de abate do boi, mirando num animal gordo, criado em até 24 meses com a adoção do semiconfinamento. Nesse sistema, o animal sai do pasto livre e passa a ser engordado com milho.

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Masterboi Pará Vísceras e Miúdos Bovinos - FERNNADO CASTILHO

Novo frigorífico industrial da Masterboi em Pernambuco irá gerar cerca de 800 empregos

O Brasil está tendo uma nova revolução na maneira de criar boi, analisa Bezerra. No passado, o gado chega a ter 48 meses, caiu para 36 e a meta de muitos criadores é chegar a 24 meses com o semiconfinamento, que produz um animal como maior marmoreio de sua carne.

O aumento do rebanho provocou outro fenômeno relacionado ao preço do milho que, além do frango e suínos, passou a ser usado na engorda do boi, melhorando a qualidade da carne. Somente quando o plantel se recuperar, a carne tende a baixar de preços.

Esse movimento vem se mantendo, mas as cotações do dólar frente ao real elevaram os preços no mercado interno. E foi isso que fez com que, segundo a Conab em 2020, o consumo brasileiro de carne bovina ser de 29,3 quilos, quando em 2006 chegou a 42,8 quilos.

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Masterboi Pará Vísceras e Miúdos Bovinos - FERNNADO CASTILHO

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