Alta dos alimentos fez Banco Central virar passageiro na viagem de combate à inflação
A atuação do Banco Central no combate a inflação começa a ser questionada abertamente por economistas e analistas do mercado.
Elogiado por todos na atuação contra a crise da covid-19 quando afrouxou o crédito (embora não tenha chegado na ponta para micro e pequenas empresas), a atuação do Banco Central no combate a inflação começa a ser questionada abertamente por economistas e analistas do mercado entendendo que, de comandante no trem contra a alta dos preços, o BC virou passageiro e agora corre atrás do prejuízo aumentando a taxa de juros.
De fato, uma consulta às decisões do Copom desde o ano passado quando, na retomada, as indústrias viram que a inflação nos alimentos tinha voltado com força. Também é possível ver que, no final do ano quando essa alta se consolidou, o BC manteve a taxa de juros em 2% sem dar sinais de preocupação.
O problema é que quando se observa os índices históricos da indústria de transformação, nos últimos 12 meses, o alerta de um aumento generalizado já estava escrito.
A ideia de que a inflação dos alimentos era transitória avaliada nas atas do Copom agora é vista como um equívoco grave dos integrantes do colegiado do BC que mantiveram e as taxa de juros nos menores índices da história - 2%.
Mas os avisos de que a alta de preços estavam nos índices do IBGE desde dezembro. O IPP - Índice de Preços ao Produtor - que voltado para a indústria e mede a variação de preços de venda recebidos pelos produtores de bens e serviços saiu de 0,39%, em dezembro, para 5,16% em fevereiro sem que isso fosse um motivo de alerta.
Parece claro que Banco Central não percebeu que essa tendência estava consolidada e que poderia subir.
Em janeiro, a inflação da indústria de fabricação de produtos alimentícios, por exemplo, já estava em mais de 16% e subindo.
Somente agora quando chegou a 32% o BC parece ter entendido que não era mais sazonal.
O Copom também entendeu que a inflação na indústria de fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis - que em janeiro tinha cravado 39% - não deveria ser considerada importante. O índice chegou a inimagináveis 76% em junho.
O curioso desse comportamento dos diretores do BC é que não houve pressão dos agentes econômicos para a pressão dos alimentos fosse motivo para uma revisão da ação do BC em relação aos juros.
Somente ontem o BC avisou que a inflação ao consumidor continua se revelando persistente. Os últimos indicadores divulgados mostram composição mais desfavorável.
O economista Luís Eduardo Assis, ex-diretor de Política Monetária do Banco Central faz nesta quinta-feira, numa entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo uma avaliação interessante.
“O Banco Central teve que iniciar um ciclo de elevação dos juros com um desemprego acima de 14%. Isso não acontecia antes. A última vez que ele começou a subir juros foi em 2013, e o desemprego estava na faixa de 7% ou 8%”
É verdade. Mas o índice de 14% do desemprego está aí desde janeiro sem que o BC decidisse a iniciar a retomada ao aumento das taxas de juros.
Outra coisa que chama a atenção é a advertência que a próxima reunião marcada para 21 e 22 de setembro de que nela, o comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude, 1% de ponto percentual.
A ideia que passa é que, agora, o BC está correndo atrás quando deveria se antecipar. E mesmo que suba para 7% em dezembro está ficando claro que o guardião da moeda piscou.
Ou como se diz na sabedoria popular: De maquinista no trem do combate a inflação o BC virou passageiro.