Dispersão entre preços vira palavra da moda para se falar de carestia sem controle de alimentos no Brasil
Alta dos preços assusta pois não é mais apenas um item, mas toda a cesta de compras de alimentos
Dez em três dez economistas estão usando a expressão "Dispersão entre preços" para explicar a subida generalizada de preços na economia brasileira, especialmente, depois que as previsões apontam para uma inflação de, pelos menos,10% no ano de 2021.
E embora o presidente Jair Bolsonaro, a cada dia, se apegue mais a fé do que aos fundamentos da economia para dizer que as coisas vão melhorar. Nesta quinta-feira, ao es referir ao preço do gás de cozinha ele disse os preços poderão cair pela metade “se Deus quiser”, se os impostos forem reduzidos. Mas a verdade é que a queda dos preços dos combustíveis é um problema bem mais terreno.
Os livros dizem que "Dispersão entre preços" é o fenômeno que acontece quando, num determinado mercado, vendedores diferentes cobram preços também diferentes por produtos idênticos (homogêneos) que é chamado dispersão de preços.
Na pratica, isso quer dizer que numa estratégia de proteger os vendedores começam a subir os preços de forma a que possam não melhorar a rentabilidade, mas conseguir receber o suficiente para comprar o que vendeu. Isso naturalmente vira uma ciranda onde cada um vai aumentando o preço sem qualquer embasamento.
Mas "Dispersão entre preços" também tem a ver com o espalhamento dos custos de fato especialmente por algum motivo especifico. Aquilo que todos nós chamamos de carestia.
Nesta quinta-feira, por exemplo, o Banco Central informou no seu Relatório de Inflação que as projetos para o ultimo trimestre nos levam a 10,2% em dezembro afirmando que a persistência da alta dos preços dos produtos industriais ao consumidor está ligada à continuidade da elevação expressiva dos preços na fábrica, que por sua vez refletem forte repasse de custos de insumos.
Na ponta da linha, isso quer dizer que temos um quadro que não vai melhor, nos próximos meses, até porque o governo não está atuando.
Mas o próprio comportamento do presidente afirmando que não pode fazer nada e responsabilizando, no caso dos combustíveis os estados, não aponta caminhos.
Um fato que mostra a questão da disparada dos que os analistas chama de "Dispersão entre preços" é a tentativa da Petrobras que anunciou para, em breve, vai investir R$ 300 milhões em um programa social para garantir a compra de gás de cozinha por famílias em situação de vulnerabilidade social.
O problema é que, segundo a estatal, o programa ainda está em fase de estudos e deve contribuir com o acesso a insumos essenciais, com foco no gás. Ou seja, não tem data para acontecer. O que deve ajuda a espalhar a tal "Dispersão entre preços".
Para a dona de casa esse negócio de "Dispersão entre preços" quer dizer carestia na hora de ir a feira e isso vai da carne ao embutido. Da verdura à frutas, por exemplo.
Nesta quarta-feira, o IBGE divulgou o Índice de Preços ao Produtor (IPP) sobe 1,86% em agosto. Pouca gente sabe o que é isso.
Mas ele é importante porque ele é voltado para a indústria e mede a variação de preços de venda recebidos pelos produtores de bens e serviços. OU seja mede os preços de produtos “na porta de fábrica”, sem impostos e fretes, e abrange as grandes categorias econômicas: bens de capital, bens intermediários e bens de consumo (duráveis, semiduráveis e não duráveis).
E os números deste mês forma muita altos. Para se ter uma idéia o acumulado no ano até agosto atingiu 23,55%, contra 21,29% em julho/2021. Entre as atividades que tiveram as maiores variações percentuais na perspectiva deste indicador estão: indústrias extrativas (68,49%), refino de petróleo e produtos de álcool (47,03%), metalurgia (40,59%) e outros produtos químicos (37,34%).
A variação de preços de 1,86% em relação a julho repercutiu da seguinte maneira entre as grandes categorias econômicas. Ou seja registro essa tal de Dispersão entre preços.
Então quando se observa, por exemplo, a indústra de alimentos. Os preços do setor variaram, em agosto frente a julho, 2,19%. É a sétima taxa positiva observada ao longo do ano (a única negativa foi a de junho, -0,14%) e a segunda maior de 2021 (perde para 2,66%, de abril).
Com isso, o acumulado no ano acelerou de 10,06%, em julho, para 12,47%. Como ocorre desde junho, o resultado dos últimos 12 meses é menor do que o observado no mês anterior (junho 2021/junho 2020, 30,96%; julho 2021/julho 2020, 28,19%; e agosto 2021/agosto 2020, 25,72%).
Isso quer dizer que a indústria está enfrentando uma inflação muito forte e não apenas num ou outro setor.
Segundo o IBGE num ano (setembro de 2020 a agosto de 2021) a inflação no setor subiu 25,28%. É muito alto pois a mesma inflação no setor de bebidas em 12 meses foi de 2,11%.
Tudo isso tem a ver com a vida real.
Outro coisa que preocupa é a inflação dos produtos de refino de petróleo e produtos de álcool. Esse é o nome gera da gasolina e óleo diesel. Pois bem segundo o IBGE o acumulado no ano saiu de 44,27%, em julho, para 47,03%, sendo o maior agosto da série. Nos últimos 12 meses, a variação foi de 56,84%, a menor desde março (52,67%).
Claro que os resultados estão ligados principalmente aos preços internacionais e à variação de preços de diversas matérias-primas importadas ou não, como a nafta. Mas tudo ajuda na Dispersão entre preços. Porque a economia é uma grande corrente de preços.