Com Arthur Lira, Congresso faz opção para trocar conceito de negociação política às claras por acertos às escondidas
O problema de Arthur Lira é que ele está motivado demais para entregar resultados e parece claro que a competência na gestão da crise não é das maiores.
Existe uma velha frase do Dr. Ulysses Guimarães - sobre a qualidade do Congresso brasileiro - afirma que quem reclama do baixo nível do atual é porque não conhece o próximo. O Congresso Nacional elevou a percepção de casa de acertos às escondidas em lugar de negociação política à claras.
É importante não criminalizar a política. No Congresso, a principal atividade é a negociação. Isso é o normal e no nosso regime presidencial é bom que deputado brigue por programa, projeto e emenda. Foi eleito para isso e é o normal.
Mas por qual razão o país está chocado com o nível de negociação da Câmara sobre a liderança de Arthur Lira? Talvez porque Lira faça o certo de forma errada em lugar de fazer o errado de forma certa.
Quando se fala de negociação é bom lembrar de Michel Temer - que durante anos negociou em favor do Governo - e comandava valores, proporcionalmente, muito maiores que o que Lira negocia.
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Claro que, em uma legislação onde quem comandava a casa era Michel Temer, Aldo Rebelo, Luiz Eduardo Magalhães e Inocêncio Oliveira, Arthur Lira era baixo clero. Alguém se lembra dele sendo chamado a opinar sobre alguma negociação importante?
O problema de Arthur Lira é que ele está motivado demais para entregar resultados e parece claro que a competência na gestão da crise não é das maiores. Tomemos o caso das emendas de relator que foram aprovadas no Governo Michel Temer.
Seria objeto de negociação para projetos específicos e de grande valor para que pudessem ser liberados recursos mais robustos. Ou seja, o relator do Orçamento Geral da União teria o poder de juntar dinheiro para coisas grandes.
E o que Lira fez? Transformou as emendas de relator num instrumento de varejo. Com isso, abriu as portas do inferno para comprar voto de deputado baixo clero.
Nada contra. Mas aí ele faz isso às escondidas. Ora, a única coisa que deputado não pode fazer na Câmara é conseguir emenda às escondidas. Onde já se viu deputado conseguir verba de emenda e não sair dizendo da TV Câmara até a rádio difusora do seu município?
A emenda de relator é um tipo de emenda que foi incluída no Orçamento de 2020 pelo Congresso, que passou a ter controle de quase o dobro da verba de anos anteriores.
Tudo bem. Prestigio do Congresso. Mas aí Lira faz disso um instrumento de pressão pessoal. Tentando mostrar serviço a Bolsonaro. Mas quando isso for revelado fica todo mundo nu.
Ele tentou capitalizar esses recursos para privilegiar aliados políticos e, com isso, ampliar a base de apoio deles no Legislativo, mas a partir de sua decisão pessoal.
E estava achando que poderia fazer isso secretamente, numa casa onde qualquer conversa de duas pessoas vasa para a Imprensa na saída de uma delas da sala.
Ora, quanto maior a obrigatoriedade de fornecer dados, menor será o poder de aliados do governo na articulação com congressistas, pois a maior transparência irá expor o privilégio dado a quem vota em projetos de interesse do Palácio do Planalto.
O problema é que Arthur Lira fez da negociação normal um privilégio de poucos. Ou dos deputados que ele acredita serem seus aliados.
Como se deputado fosse aliado de alguém na hora que o negócio é arranjar verba para seus correligionários.
Claro que Lira pode aprovar a PEC dos Precatórios. Mas saiu todo melado e com a fama de ser braço auxiliar de Bolsonaro sem que Bolsonaro o veja dessa forma.
No fundo, ele ainda não conseguiu entregar tudo que prometeu, assegurou uma má vontade do Senado e mesmo aprovando a PEC dos Precatórios corre o risco de virar um presidente de negociações secretas aos olhos dos demais deputados ao saber que ele privilegiou inimigos nas suas bases eleitorais.
E sempre é bom lembrar. Rodrigo Maia teve muito mais pode que Lira e saiu derrotada de forma humilhante. Arthur Lira deveria pensar nisso.