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Nos tempos do PIX, cheque saiu de uso sem que jovens saibam como foi usado para fazer pagamento de compras

Com a chegada do Banco 24 Horas e do internet banking a coisa começou a mudar especialmente com a facilidade do uso do cartão de crédito.

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Fernando Castilho

Publicado em 15/01/2022 às 19:00
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Lembra do cheque? O cheque. Aquele título de crédito à vista que o brasileiro transformou numa nota de crédito inventando o pré-datado? O cheque que o nosso Banorte transformou em recebível antecipando o crédito na conta da empresa?

Pois bem. Virou peça de museu. Especialmente depois do PIX.

E milhões de jovens que hoje usam os diversos meios eletrônicos de pagamento nunca ouviram falar dele.

A bem da verdade o cheque é uma instituição internacional. Ele foi oficializado quando os bancos ingleses adotaram a ideia e instituíram o uso do cheque entre 1759 e 1772, incluindo sua numeração em série, usada para evitar falsificações do documento ainda existe no Brasil.

Mas tem gente pensa diferente. Por exemplo, alguns especialistas têm opiniões controversas sobre a origem do cheque na história: alguns dizem que os romanos inventaram o cheque por volta de 352 a.C.

Imagina um senador romano pagando uma compra na Via Ápia com um cheque? Mas parece que ele foi mesmo criado na Holanda, no século XVI.

No Brasil, a inflação fez do cheque um instrumento de muita negociação. Trocar um cheque na sexta-feira por exemplo poderia garantir a compra de alimentos e dar ao emitente três dias de ganhos com a inflação.

 

Marcello Casal JrAgência Brasil
Desde o dia 4 de outubro, o limite para pagamentos digitais entre pessoas físicas à noite, entre 20h e 6h, é de R$ 1 mil - Marcello Casal JrAgência Brasil

 

BOMPREÇO TROCAVA CHEQUE

Outra coisa curiosa. Milhares de pessoas compravam no Bompreço e pagavam com cheque. O Bompreço até trocava cheque nos fins de semana.

Outra coisa curiosa. Aa pessoas pagavam a conta do bar, na sexta-feira de madrugada, com um cheque e ainda botavam a data da segunda-feira.  E como o valor era baixo o cheque só chegava na conta do cliente na quarta-feira.

Quando o Bompreço lançou o Hipercard, o Nordeste acelerou o uso do cartão como meio de pagamento em parceria com o Banco Banorte. De certa forma, o Hipercard virou o cartão de crédito do pobre A. Não cobrava anuidade, e era aceito como as bandeiras Visa e Mastercard. Um luxo!

O cheque também permitiu uma invenção bem brasileira. Virar nota promissória informal e até num recebível.

Primeiro, o comercio começou a aceitar o cheque pré-datado. O cheque servia para comprar fiado em até seis vezes. Era pura confiança e o risco era do dono da loja.

Foi aí que o Banco Nacional do Norte, o Banorte inventou a antecipação de cheques.

Curiosamente isso começou quando um gerente do banco chegou no escritório de um comerciante no bairro de São José e viu que ele tinha uma gaveta com milhares de cheques separados por datas. Ele perguntou quanto tinha ali e assustou-se com o valor.

 

NE10
Com a estratégia, que inclui também o Master, cartão deixa de ser exclusivo no setor de supermercado do Hiper Bompreço - NE10

 

BANCO 24 HORAS MUDOU RELAÇÃO

Foi aí que veio a ideia de ficar com os cheques como garantia de um empréstimo. O banco anteciparia e cobraria os cheques nas datas. Por uma taxa, antecipava o capital de giro. Foi um sucesso e logo todos os bancos criaram a custódia de cheques pré-datados antes de o Banco Central reconhecer.

Mas com a chegada do Banco 24 Horas e do internet banking a coisa começou a mudar especialmente com a facilidade do uso do cartão de crédito.

Em 1999, os cartões representavam só 16% das vendas, e os cheques movimentavam 63,5% do mercado.

Naquele ano, uma quantidade gigantesca de 4,116 bilhões de folhas de cheque foi compensada no País.

Primeiro, depois de 1995 com o fim da inflação as pessoas deixaram de usar cheque e a pagar as contas com mais dinheiro mesmo. Ao longo dos anos ele foi caindo em desuso.

ARTES/JC
USO DE CHEQUES NO BRASIL - ARTES/JC

Ano passado, por exemplo, ele pagou operações no valor de R$ 667 bilhões representados por 219 milhões de cheques emitidos.

Entretanto é quase nada comparável aos 3,3 bilhões emitidos em 1995 quando começou a era do Real e que pagaram R$ 2 trilhões.

O uso do cheque está tão em desuso que pouca gente hoje passa cheques sem fundos. Em 2021, o número de cheques devolvidos (18,6 milhões), representou 8,5% no total de cheques compensados no país.

NÃO ACEITAMOS CHEQUES

Aliás, as lojas hoje já ostentam uma placa no caixa “Não aceitamos cheques”. Nos shoppings a maioria das lojas exibe essa plaquinha no caixa.

Na verdade, o cliente bancário tem deixado, cada vez mais, de usar cheques. Ele tende a ser um documento apenas por empresas ou pessoas físicas em transações mais tradicionais.

E assim como o brasileiro deixou de andar com dinheiro físico deixou de emitir cheques. Assim como muitos jovens nunca viram um toca disco de vinil muito nunca viram um cheque.

Tudo isso tem a ver com a chegada dos novos meios de pagamento através dos canais digitais (internet e mobile banking), que atualmente são responsáveis por 67% de todas as transações feitas no país

E no Brasil essa expressão máxima é o PIX que em apenas um ano motivou 7 bilhões de transações com R 4 trilhões de volume financeiro.

Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Pagamentos tiveram início no último dia 25 de maio - Marcello Casal Jr/Agência Brasil

PIX ACEITO PARA PAGAR CALDO DE CANA

Aceito em todos os lugares o PIX é certamente o maior avanço nos meios de bancarização. Também tem o fato de bancos que não cobram nada pela conta.

Dependendo do banco um talão de cheque pode custar até R$ 10,00. Imagina um jovem que não quer pagar nenhum real de taxa ou anuidade de cartão de credito pagar isso por um talão de cheques com 20 folhas?

Isso não quer dizer que em alguns lugares a pessoas não possa pagar com um cheque. Mas hoje isso virou um mais gesto de poder e conta bancária forte do que outra coisa.

Até porque se o cheque não tiver fundos o emitente pode ser processado pelo por estelionato e ficar sem poder movimentar a conta bancária. Um crime que os jovens nem sabe o que é.

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