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Consultorias financeiras com sede no Recife cuidam de R$ 10 bilhões de investidores de Pernambuco

Os pernambucanos, de fato, são extremamente reservados sobre dinheiro. O que não quer dizer que não apliquem muito no mercado financeiro.

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Fernando Castilho

Publicado em 29/01/2022 às 23:00
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Os pernambucanos são conhecidos pela sua discrição em relação a falar do saldo de sua conta bancária. Uma lenda urbana financeira diz que a mulher de um pernambucano só sabe o que ele tem guardado em duas ocasiões: no inventário do espólio ou na separação litigiosa. Os pernambucanos, de fato, são extremamente reservados sobre dinheiro. O que não quer dizer que não apliquem muito no mercado financeiro.

Pernambuco - é importante lembrar - foi sede de vários bancos de atuação regional, exatamente pelo tamanho e amplitude de suas atividades comerciais. Tanto que alguns estudos mostram que ao menos 30% do PIB de Pernambuco está investido fora do Estado.

No que diz respeito apenas à pessoa física, analistas do mercado financeiro estimam em R$ 10 bilhões o total de dinheiro aplicado em ações, fundos, títulos de renda fixa e demais papéis do mercado. Dificilmente se saberá exatamente pela boca dos investidores.

Mas o mercado financeiro está muito atento a esse dinheiro. Tanto que nada menos de 16 escritórios de serviços de oferta e distribuição de produtos financeiros têm sede no Recife. E crescendo ou se fundindo para ganhar musculatura e... clientes.

Desses, a mais conhecida é a Finacap, fundada por dois ex-executivos do Banorte, que virou marca de corretora independente do mercado de títulos mobiliários, e de certa forma gerou 15 “filhotes” liderados por executivos que deixaram os grandes bancos para cuidar diretamente de carteiras de antigos clientes.

Eles aproveitaram a onda iniciada pela corretora XP, de Guilherme Benchimol, seguida pelo tradicional Banco Safra e pelo BTG Pactual, liderado por André Esteves, mas nascido Pactual DTVM, em 1983, no Rio de Janeiro, por Luiz Cezar Fernandes André Jacurski e Paulo Guedes.

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Equipe da Athena BGA no Recife - Divulgação

A Athena BGA é um dos escritórios que viu essa possibilidade quando Benchimol abriu esse mercado. Thiago Pflueger está na assessoria da XP mais antiga do Nordeste. Sua parceria já dura 12 anos e viu a chegada de novos concorrentes.

Mas ele diz que, diante do mercado, a concorrência ainda é muito pequena em Pernambuco. O nicho que ocupamos é muito restrito. As consultorias e assessorias de Pernambuco representam 1,4% do Brasil e 50% dos clientes do Recife com conta na XP não são atendidos por escritórios locais, revela o analista. Ele está no grupo dos que acreditam que é preciso fomentar o mercado para fazer com que todo mundo cresça. “Então, não me preocupa a concorrência. Eu acho que é muito bom, me desafia a crescer. E faz o cliente ter melhor serviço”.

A Athena BGE é uma fusão da Atena, que era na época o maior escritório do Recife, com a BGA, o segundo.

O otimismo de Pflueger e seus sócios faz sentido. A XP tem, em Pernambuco, 11 agentes além da Finacap, que também é parceira. A praça Recife, por exemplo, foi a primeira filial da CMS Investimentos, um dos maiores parceiros da corretora, fora de São Paulo, exatamente mirando o potencial de mercado de Pernambuco.

 

Na “esteira” dele o Banco Safra já tem dois escritórios autônomos. O BTG Pactual tem um e a Guide que desde 2018, junto a Rio Bravo Investimentos, faz parte da gigante Fosun.

O que ocorre em Pernambuco, segundo o CEO da Finacap, Luiz Fernando Corrêa é uma evolução natural do mercado. “Uma espécie de retorno ao atendimento local que o Estado já teve no passado, quando foi sede de vários bancos”.

De certa forma Luiz Fernando avalia que estamos vendo num novo formato. Um movimento que já experimentamos no passado. Talvez a novidade seja que o perfil dos agentes autônomos melhorou muito.

De fato. Talvez porque o próprio nível do investidor potencial, o agente tem que “sustentar” uma conversa robusta. Daniel Lins, da VLGI, concorda com Thiago Pflueger, da Athena BGA. “O Brasil ainda tem muito a crescer em relação a isso. Basta ver quantidade de CPFs na Bolsa, crescente, mas ainda muito pequeno”. E de certa forma” tem mesmo pouca gente para atender essa demanda de investidores, inclusive mulheres.

“Eu acho que a gente ainda tem pouquíssima presença feminina, principalmente aqui em Pernambuco”, diz Pflueger. E a presença de investidores mulheres é crescente.

“Uma de nossas sócias da Athena BGA, Camila Haeckel Blanke, costuma dizer que as mulheres investidoras costumam ‘ser mais calmas e conservadoras, se expõem menos ao risco e tendem a ter mais paciência e visão de longo prazo’”.

Haeckel atua no mercado há mais de 10 anos e diz que se incomoda com “terceirização” de assuntos financeiros e com o fato de que muitas mulheres acreditam que o cônjuge sabe mais sobre o assunto.

As estimativas dos especialistas de investimento de que Pernambuco já abriga operações que passam dos R$ 10 bilhões, na verdade, revelam as dificuldades de um cliente, mesmo de alta renda de um banco privado, ter atenção de um operador que está na Região.

Ter um atendimento mais personalizado, com uma prateleira de serviços muito maior do que os bancos oferecem, faz toda diferença, diz João Echiburu da Dapes, parceira do Safra Invest. Faz mesmo.
Finacap foi pioneira na gestão de fundos há 25 anos

 

FINACAP FOI PIONEIRA HÁ 25 ANOS

Arquivo da Empresa
Luiz Fernando, Aristides Bezerra e Samuel Emery Lopes da Finacap - Arquivo da Empresa

O Banco Banorte, que fora incorporado pelo Banco Bandeirantes, sofreu intervenção quando o diretor da corretora de valores mobiliários do banco pernambucano Aristides Bezerra propôs virar agente autônomo criando um novo negócio com Samuel Emery Lopes. Nasceu a Finacap que, em março próximo, completa 25 anos na condição de uma das 10 unicas corretoras autônomas do Brasil. A gestora de ativos tem mais de R$ 1,2 bilhões.

Bezerra e Samuel ainda estão lá e trouxeram como CEO Luiz Fernando Correa de Araújo, que virou a face da companhia que já desenvolveu produtos como o seu Fundo Finacap Mauritsstad FIA, com ativos de R$ 160 milhões, um fundo de previdência com mais 50 milhões, além de atuar como gestores dos recursos da Seguradora Excelsior, com quem tem uma parceira desde 2016.

O mercado pernambucano, estimado em R$ 10 bilhões, sob os cuidados de ao menos 15 outros escritórios autônomos, de certa forma, é filho da Finacap, que viu dezenas de profissionais do sistema financeiro que atuavam no Nordeste passarem a atuar na distribuição de produtos do que hoje se chama de marketplace financeiro, onde marcas como XP, Safra e BTG são as grandes ancoras para centenas de profissionais de bancos que, agora, cuidam das carteiras de antigos clientes.

Para Luiz Fernando, reconhecido no setor como um pesquisador do mercado internacional de ações, de certa forma estamos voltando ao período em que o agente autônomo tinha sua carteira de clientes e atendida em colaboração com os bancos.

“O fato novo desse movimento e que eles estão vindo de experiência em grandes bancos e formatando carteiras de distribuição. Isso, consequentemente, levará a especialização, foco em nichos e formatação de novos produtos. Alguns deles vão mesmo se tornar corretoras e desenvolvedoras de fundos e outros produtos demandados pelos seus clientes, diz.

 

VLGI GANHA ROBUSTEZ NO NE

 

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Daniel Lins Lima gestor da VLGI no Recife. - DIVULGAÇÃO

 

Daniel Lins Lima, que faz parte do VGLI Investimentos, diz que o Norte e o Nordeste são regiões extremamente importantes para expansão dos agentes autônomos do investimento. Exatamente por serem regiões que têm investidor, mas que os grandes bancos não atuam de uma forma muito intensa.

Para Daniel Lins, de fato, esse é um mercado por ocupar. “É um universo gigantesco”, diz. Estima-se que mais de 92% do dinheiro investido no Brasil está nos grandes bancos. Então, os escritórios não captaram nem 8%. É menos do inverso nos Estados Unidos.

“Eu sempre digo à equipe: temos um oceano de oportunidades pela frente”. Tem mesmo. Somente em 2021 foi que o número de CPFs cadastrados em alguma plataforma chegou a 5 milhões.

Foi quando mais pessoas com um pouco mais de recursos começaram a procurar agentes autônomos para fazer seus investimentos e viu quanto é importante ter alguém dedicado e exclusivamente para ele. Eles logo perceberam que essas pessoas são experientes; que já estão no mercado há anos e também são ex-diretores de instituições líderes e que que viram essa oportunidade e assumiram o espaço vazio

Daniel, que tinha um escritório como outros sócios, identificou que poderia fazer uma fusão com escritório maior (com R$ 3 bilhões em aplicações) e com mais retaguarda, uma mesa de renda fixa, uma mesa de renda variável e suporte de um estrategista chefe que acaba sendo um diferencial.

Mas a VLGI também está apostando num programa de assessor júnior, um projeto bem robusto em que o assessor para ficar pronto não tem somente a capacidade técnica como capacidade de articulação.

SAFRA, XP E  BTG PACTUAL

 

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Equipe do escritório de agentes autônomos do Safra Invest. - DIVULGAÇÃO

A disputa pelo mercado de Pernambuco já trouxe ao Recife dois escritórios do Safra Invest, plataforma do Banco Safra. Um desses é o Dapes, liderado pelos executivos Henrique Vasconcelos, Rodrigo Menezes e João Melo Echiburu.

O outro representante do Dafra Invest é a Marco Zero.

Para João Melo, a proposta como agente autônomo é prestar um serviço de assessoria de investimentos e cuidar do patrimônio dos clientes como um todo, não só bolsa. E o sucesso que eles estão obtendo é exatamente trazer soluções diferentes e disponíveis numa plataforma aberta de investimentos.

“O Banco Safra tem duas agências em Recife e atende a um nicho de relevância econômica. Mas não tem como ter agência em cada lugar. Então, o Safra seguiu o caminho de ter escritórios com atendimentos personalizados como o nosso. Mas também de oferecer a robustez operacional por trás de um banco de 180 anos e que nos auxilia a fazer com que as contas sejam abertas com a alta tecnologia e aproveitar toda essa potencialidade”, diz o executivo.

Ele lembra que quando fundou a empresa, em 2010, o serviço era basicamente corretagem. Mas hoje a demanda de mercados potencialmente fortes mudou e desafiou toda a equipe. João Melo chama atenção para um movimento importante, o interesse de jovens ainda nas faculdades em entrar nesse mercado.

“Está claro que praças como Recife, Salvador e Fortaleza, onde existem empresas de boa administração, tendem a contratar serviços como o nosso. os mega bancos não vão deixar de existir. Eles têm um papel importantíssimo. Mas a gente vê nascer em interesse de pessoas em abordar esse mercado fora deles.”

Segundo o analista, são pessoas que são atraídas na faculdade e, de fato, muitos jovens miram a possibilidade de ganhar muito dinheiro por ser um segmento promissor. Isso faz escola.

“Na Dapes, a gente já tem algumas pessoas que já foram formadas dentro de casa. Eles começaram novas do zero no entendimento da coisa tinha muito interesse tinha muita vontade de crescer e estão crescendo com a gente”, diz o gestor.

 

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