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Lula e Bolsonaro veem Petrobras como pia de água benta onde todos metem o dedo para se benzer e sair abençoado

Hoje 43,06% dos acionistas da Petrobras não são brasileiros que somam 20,19% enquanto o Grupo de Controle formado pelo governo federal que tem 36,75%.

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Fernando Castilho

Publicado em 31/01/2022 às 6:00 | Atualizado em 31/01/2022 às 9:04
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O PT, o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro estão cada vez mais parecidos em relação à questão da Petrobras e ao aumento dos preços dos combustíveis.

E os dois olham e empresa como se fosse uma grande pia de água benta onde qualquer pessoa pode, após fazer o sinal da cruz, meter o dedo, se benzer e se sentir abençoado.

Como acionista controlador o presidente do Brasil, de fato, pode muito na companhia. Mas não pode tudo. E diferentemente de Bolsonaro, Lula que sabe que a coisa na estatal “tem diretoria”.

Eleito, Bolsonaro tinha absoluta certeza que podia mandar na empresa. Foi pensando nisso que despachou para a companhia o seu general mais equipado intelectualmente para resolver “essa questão dos combustíveis, aí".

Mas Souza e Luna, pacientemente, mostrou a ele que “Maria não é João” e que, a menos que fechasse o capital da empresa, o que valia eram as regras de compliance da SEC, americana e da CVM, brasileira para a NYSE e a B3.

Hoje, 43,06% dos acionistas da Petrobras não são brasileiros que somam 20,19% enquanto o Grupo de Controle formando pelo Governo Federal (28,67%), BNDESPar (7.04%) e o BNDES (1.04%) tem 36,75%.

Bolsonaro caiu na real, mas saiu dizendo que a Petrobras “É uma estatal que só me dá dor de cabeça. Nós vamos partir para uma maneira de quebrarmos mais monopólio, quem sabe até botar no radar da privatização”.

Sousa e Luna então “desenhou” a questão para o presidente: A Petrobras não pode fazer política pública. Ela coloca recursos nas mãos de quem pode fazer. A Petrobras tem responsabilidade social e procura cumpri-la.”.

Mas no caso de Lula o discurso é mais bem elaborado.

Quando Lula diz, como disse neste final de semana numa rádio aos comunicadores Rita Soares e Daniel Nardin, da Rádio O Liberal, do Pará.), que “O combustível brasileiro não pode continuar subordinado a preços internacional”. E que sua “preocupação não é com acionista de Nova York, a minha preocupação é com o acionista povo brasileiro.” Ele sabe que esse é um terreno movediço.

Foi na Petrobras que se operou o Petrolão. E ele sabe o que se passou na estatal.
Ele sabe a resposta quando faz a pergunta por que a companhia vai ‘investir’ 65 bilhões de dólares para pagar acionista?” e faz política quando pergunta “por que não se investe em benefício do povo brasileiro?”

Só que Lula é do ramo da política e fala exatamente o que lhe interessa como candidato. E sabe que numa eventual eleição não pode intervir na empresas sob pena das ações desabarem e a estatal ser ré numa ação dos investidores internacionais quem tem exatos 43,06% das ações da empresa.

Mas ele pode sim perguntar por que “ao invés de pagar dividendos para os acionistas, a gente não faz um investimento nas nossas refinarias para que a gente adquira mais capacidade de refino para gasolina e o óleo diesel? E ele também sabe que a questão do refino do petróleo que o Brasil extrai no pré-Sal é mais complexa.

O ex-presidente não está interessado nesse debate. Ele sabe que parte do câmbio é precificado pela desorganização do governo Bolsonaro. Uma eleição tende a baixar fortemente o dólar. Como tende a cortar os juros de longo prazo pagos pelo Brasil no mercado internacional. Henrique Meirelles lhe ensinou que “o mercado olha para o futuro sempre”.

Entretanto, o candidato do PT não pode fugir ao tema e molda suas perguntas sabendo as respostas. O presidente é muito competente nesse jogo.

Quando ele diz que a Petrobras tem que “aumentar o refino” põe mel na boca dos governadores que defendem a tese e estão desesperados com a pancadaria de Bolsonaro acusando-os de serem os responsáveis pelos aumentos através do ICMS.

Lula sabe por que ouviu isso do então ministro de Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos que lhe explicou que o perfil das usinas brasileiras foi desenhado no tempo que a gente não tinha petróleo. Isso foi antes do Choque do Petróleo e da crise de 70 quando compramos nossas refinarias para processar o óleo fino do Oriente Médio.

E sabe, por que Eduardo Campos foi quem lhe explicou, que o Centro de Pesquisa da Petrobras (Cenpes) já tinha desenhado uma usina para processar o petróleo grosso que começávamos a retirar do pré-Sal.

Isso é o que acontece hoje na Refinaria Abreu e Lima que ele, Hugo Chávez e o próprio Eduardo Campos, governador de Pernambuco assentaram a pedra fundamental em Suape em 2005.

Ele sabe disso porque, não fosse o assalto que a companhia sofreu no seu governo e no governo Dilma, o Brasil poderia ter duas refinarias no Ceara e no Maranhão que tiveram problemas já na contratação dos primeiros estudos. O que aliás explodiu os custos da refinaria de Suape.

Então, quando diz que o Brasil precisa mais capacidade de refino para gasolina e óleo diesel sabe que não é bem assim. Embora no Governo Temer e Bolsonaro a companhias venha querendo vender suas unidades fora dos centros de produção.

Pouca gente percebe que o ex-presidente não fala uma só frese sem ter um objetivo como consequência. Quando diz que “a universalização do acesso à energia elétrica, não seria possível sem que o Estado controlasse a Eletrobras” está dizendo a verdade e isso é um fato.

O programa o ‘Luz para Todos’ criado para levar energia de graça para as pessoas pobres do interior foi uma proposta do então governador de Pernambuco,  Miguel Arraes, que o desenvolveu no Estado e que Lula adotou nacionalmente. Isso também é um fato histórico que Lula lembra usando sua competência política.

Mas esse é um debate que interessa a Bolsonaro, a Lula e aos governadores - que acreditam que a Petrobras vai bancar um fundo de equalização para suportar as variações cambiais. Mesmo que para isso precisem mudar a Constituição para vincular receita.

Os três personagens sabem que a Petrobras não vai se mexer para fazer política social como advertiu o general Souza e Luna. E que se comporta em relação ao tema como diz aquela frase os cães ladram "e caravana passa”. Que nesse caso poderia ser reescrita, respeitosamente, para os personagens: Os candidatos se acusam e tudo passa depois da eleição de 2 de outubro.

Naturalmente, com a conta sobrando para o consumidor.

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