Coluna JC Negócios

Falta de verbas para concluir obras de habitacionais vira desafio para João Campos que prometeu entrega rápida

Desde agosto, a Caixa e o Ministério do Desenvolvimento Regional cortaram o repasse do dinheiro dos habitacionais da chamada Faixa 1.

Imagem do autor
Cadastrado por

Fernando Castilho

Publicado em 12/02/2022 às 18:30 | Atualizado em 06/05/2022 às 20:35
Notícia
X

Nas redes sociais, onde atua com desenvoltura, o prefeito João Campos deixou de falar num tema que ocupou bastante espaço no primeiro semestre do ano passado: a entrega de, ao menos, quatro habitacionais que a PCR está construindo, alguns deles há anos e que no final da gestão Geraldo Julio foram desembaraçados.

O prefeito não tem o que postar. Desde agosto, a Caixa e o Ministério do Desenvolvimento Regional cortaram o repasse do dinheiro dos habitacionais da chamada Faixa 1, em que a prefeitura praticamente doa o imóvel social.

Atualmente estão em construção quatro conjuntos habitacionais, com um total de 1.528 unidades habitacionais (UHs): Habitacional Encanta Moça I e II (Bode) - 600 UHs; Habitacional Vila Brasil I (Joana Bezerra) - 128 UHs, Habitacional Vila Brasil II - 320 UHs (Joana Bezerra), Pilar (Bairro do Recife) - 256 UHs - e Sérgio Loreto (São José) - 224 UHs. E todos eles estão parados.

 

PREFEITURA DO RECIFE
Conjunto Habitacional Encanta Moça I e II, que estão sendo erguidos na área do antigo Aeroclube, às margens da Via Mangue. - PREFEITURA DO RECIFE

A questão dos habitacionais é um problema sério desde a administração de João da Costa, quando tinha dinheiro para obra. Conjuntos como os habitacionais Vila Brasil I (Joana Bezerra) foram localizados em um terreno que exigiu fundação grande. Estourou os custos.

O maior entrave é que o Recife não tem terreno que suporte o valor do financiamento do Faixa 1. Na verdade, o custo do terreno e quase três vezes maior do que nos demais municípios da Região Metropolitana do Recife.

Geraldo Julio entrou e saiu da PCR sem concluí-los. Na saída ele, finalmente, conseguiu equalizar o projeto. Eles estão quase prontos e devem ser ocupados pelos moradores da atual Favela do Papelão.

O caso dos habitacionais do Joana Bezerra I e II foram contratados com verba assegurada, mas não contavam com o contingenciamento. Também estão no meio da construção, mas estão parados.

Não apenas no Recife, mas em todo Brasil, mais de 153 mil moradias estão em andamento e atualmente encontram-se paradas, embora no final do ano o congresso tenha aprovado um projeto que assegura dinheiro para a conclusão dos empreendimentos já contratados.

No ano passado, o governo federal entregou apenas 19.684 unidades habitacionais do faixa 1 do Casa Verde e Amarela. Simplesmente porque faltou dinheiro.

Foi assim: o programa tinha perto de R$ 4 bilhões para 2021. Paulo Guedes contingenciou tudo e o MDR ficou sem verba. Começou uma articulação das entidades no Congresso para retomar as obras e ver o que dava para terminar.

Foi então aprovado um Projeto de Lei do Congresso Nacional (PLN 34/2021) que liberou crédito especial de R$ 763,6 milhões para programas de infraestrutura urbana.

A maior parte dos recursos, cerca de R$ 674 milhões, teve o objetivo de viabilizar no Ministério do Desenvolvimento Regional, recursos para finalizar operações em curso, retomar obras com execução paralisada e fazer novas contratações voltadas à produção habitacional subsidiada pelo Programa Casa Verde e Amarela.

Mas tem fator complicador. É que depois da explosão dos custos da construção essa verba paga apenas valor histórico dos contratos. E por isso as empreiteiras contratadas pelas prefeituras não retomaram as obras.

Rodolfo Loepert - PCR
João Campos anuncia novo conjunto habitacional e creche para moradores do bairro do Monteiro. - Rodolfo Loepert - PCR

Na época, entidades como a CBIC, que representa as empreiteiras contratadas, comemorou uma vez os recursos que iriam especificamente para Casa Verde e Amarela, ajudando na retomada de obras, gerando mais empregos, movimentando a economia e dando um maior acesso às moradias.

Ficou acertado que o MDR e a caixa escreveriam as condições de repasse desse dinheiro que está na Caixa Economia parado.

O problema é que aquilo que o MDR chama de “atualização por conta da pandemia covid-19” ainda depende de uma regulamentação para viabilizar um reequilíbrio de preços devido à pandemia, e que sem esse ajuste não tem mesmo como terminar a obra, devido à inflação na construção civil.

Para se ter uma ideia do problema, basta dizer que segundo o estudo “Impactos Econômicos dos Cortes no Programa Casa Verde e Amarela”, encomendado por entidades da indústria da construção, a média de gastos com programas como o Minha Casa Minha Vida foi de R$ 11,3 bilhões ao ano entre 2009 e 2019.

Sem mais dinheiro, as obras correm em 2022 um sério risco de parar definitivamente, porque até agora não saiu essa regulamentação, embora a Caixa informe que em relação à verba não tem problema.

Oficialmente, a Prefeitura do Recife diz que os repasses foram retomados no final do ano passado para os habitacionais do FAR - Fundo de Arrendamento Residencial. Foram. Mas estão parados e quando forem liberados não serão suficientes para a conclusão das obras.

A Prefeitura do Recife tem interesse que a obra termine, mas não tem caixa para viabilizar a entrega das 1.528 unidades em construção. E porque tem esperanças de que o fluxo federal volte, evita aportar verba e fazer terminar a obra.

Mesmo sabendo dos riscos que é deixar um habitacional quase pronto na frente de uma favela que abriga seus futuros donos.

Prefeitura do Recife
Ao tomar posse João Campos visitou as obras do conjunto Ruy Frazão protendo entregar a obra no mesmo ano. - Prefeitura do Recife

 

Tags

Autor