Com investimentos de R$ 1,2 bilhão no Nordeste, espanhóis da Aena querem gerir mais aeroportos no Brasil
Apesar das consequências da situação macroeconômica mundial, a Aena Brasil mantém firme o seu plano de investimentos nos aeroportos que administra.
Quando no dia 15 de março de 2019 venceu uma acirrada concorrência na 5ª Rodada de Concessões de aeroportos brasileiros, o gigante espanhol Aena - que pagou R$ 1,9 bilhão por seis operações no Nordeste (num ágio de 1.010.69%) - ressaltou no comunicado aos acionistas que aeroportos eram responsáveis por 6,5% do trafego aéreo de passageiros no Brasil.
Naquele dia, a maior operadora aeroportuária do mundo em número de passageiros, com mais de 275,2 milhões, em 2019, na Espanha, passou a gerir as operações do Recife (PE), Juazeiro do Norte (CE), João Pessoa (PB), Campina Grande (PB), Aracaju (SE) e Maceió (AL) que, em 2019, somaram 13,7 milhões de passageiros acolhidos.
Prestes a completar três anos do Nordeste, os espanhóis parecem muito satisfeitos com o negócio. No mês passado, eles anunciaram que estarão investindo R$ 1,2 bilhão nos terminais onde Recife terá atenção especial devendo receber R$ 508,9 milhões na modernização de serviços e até a expansão do terminal de passageiros que deve ficar pronta em dois anos.
“Sabemos que a escolha do destino e a formatação da malha aérea podem incluir variáveis que nem sempre dizem respeito ao aeroporto”, diz o diretor-presidente da Aena Brasil, Santigo Yus que assinou o financiamento com o BNB e o BNDES. “Mas queremos colocar toda a nossa qualidade à disposição das companhias, dos operadores de turismo” adverte.
ENTRE OS MAIS OTIMISTAS
Os espanhóis, certamente, estão entre os novos operadores de aeroportos mais otimistas com Brasil. Junto com o GRU Airport – Aeroporto Internacional de São Paulo (o consórcio formado pela Invepar (Investimentos e Participações em Infraestrutura S.A.) e ACSA (Airports Company South África), que opera o maior complexo aeroportuário da América do Sul, eles são o que mais estão dispostos a investir no país.
Santigo Yus esclarece que a pandemia do novo Coronavírus, sem dúvida nenhuma, impôs a maior crise já conhecida ao setor do transporte aéreo em todo o mundo. “Os aeroportos administrados pela Aena Brasil, hoje, ainda somam, aproximadamente, 85% do número de passageiros registrados em 2019, com graus diferentes na velocidade de restauração do mercado perdido” esclarece.
“Mas, apesar das consequências da situação macroeconômica mundial, por causa da covid-19, que tem elevado os valores de contratação das obras, a Aena Brasil mantém firme o seu plano de investimentos nos aeroportos que administra” confirma o executivo.
Isso quer dizer que no primeiro trimestre de 2022, estão sendo iniciadas as obras estruturais que visam implantar nos equipamentos o padrão de qualidade Aena, com foco na eficiência, no conforto e na tecnologia.
IMPLANTAR O PADRÃO Aena
Pesquisa da consultoria Cirium, apontou que o equipamento do Recife com maior pontuação nas Américas. - Matheus Ribeiro / Setur PE / Divulgação
O executivo esclarece que, embora a companhia tenha se esforçado para atender os clientes com a qualidade que deseja, ela ainda opera com boa parte das instalações e da infraestrutura do antigo administrador dos terminais.
A mudança para o padrão que fez a companhia espanhola uma referencia global é o que Santigo Yus deseja. Além dos trabalhos de construção civil (reforma e ampliação de terminais, reforço e requalificação de pistas e implantação de áreas de segurança).
Também prevê a compra de esteiras, raios-x, pontes móveis, e na instalação de novos sistemas tecnológicos, que possam refletir o padrão Aena em todas as etapas do processamento de bagagens e passageiros.
O aeroporto do Recife vai ganhar 40% a mais de área passando de 52 mil m² para 76 mil m² (acréscimo de 23,4 mil m² em área construída). Além disso, 10 mil m² do prédio atual vão passar por reformas. Para comportar um número maior de aeronaves, o pátio vai ser aumentado em mais de 61 mil metros quadrados, e as pistas de táxi e de pouso e decolagem terão também melhorias em segurança operacional.
É um discurso bem diferente do que uma boa parte do setor está se queixando nas operações de aeroportos. A operadora do Aeroporto de Natal - que foi o primeiro do Brasil a ser transferido para iniciativa privada, em 2011, ser construído do zero pela argentina pela Inframérica (Corporación América S/A) e o Aeroporto Internacional Tom Jobim - Galeão, no Rio de Janeiro, operado Changi de Cingapura, decidiram devolver as concessões a União.
DEBATE SOBRE REEQUILIBRIO
Natal foi o primeiro do Brasil a ser transferido para iniciativa privada, em 2011, ser construído do zero pela argentina pela Inframérica (Corporación América S/A) - NE10
Recentemente, a ANAC concluiu a análise de pedidos de reequilíbrio econômico-financeiro de operadores de 15 aeroportos por perdas causadas pela pandemia, limitando o escopo ao ano de 2021. Segundo a agência reguladora, três pedidos seguem em análise: Galeão, no Rio, São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte e Confins, em Minas Gerais. Mas o maximo que a agencia admite são revisões pontuais de valores de 2021.
No caso de Natal, a expectativa, segundo os estudos de viabilidade do Governo Federal, era que o terminal potiguar movimentasse cerca de 4,3 milhões de passageiros. Mas só transportou 2,3 milhões. Cingapura também citou o desempenho econômico do Brasil desde 2013 e os efeitos da pandemia de covid-19 sobre a aviação civil quando decidiu deixar a operação.
Não é o caso de São Paulo que em dezembro de 2021 viu as, operações nacionais receberem uma média de 76.300 passageiros diários em 562 pousos e decolagens, representando um aumento de 19,1% quando comparado ao ano anterior. Já na comparação a 2019, houve uma retomada de 84,2% do potencial.
Também não é o caso do Aeroporto Internacional do Recife Guararapes - Gilberto Freyre que ficou entre os cinco melhores do mundo em 2021, considerando os terminais de médio porte, no The On-Time Performance Report, da consultoria Cirium onde o Recife obteve a maior pontuação de todas as Américas.
De acordo com o relatório “2021 Winner - The Platinum Award Operational Excellence”, o terminal do Recife foi o mais bem avaliado do país (único brasileiro situado entre os cinco melhores, observando todas as categorias), superando a marca de 90% de pontualidade dos voos, levando em conta pousos e decolagens.
Os espanhóis que tiveram os aeroportos de Menorca e Bilbao ficaram exultantes. “Apesar desta avaliação positiva para a retomada interna, é bom que se diga que ainda não retornamos ao patamar pré-pandemia”, esclarece Santigo Yus com uma ponta de vaidade.
Na verdade, o Aeroporto Internacional do Recife é o que registra maior movimentação de voos e passageiros, entre todos os operados pela Aena Brasil. Sua posição geográfica privilegiada favorece as conexões de voos internacionais como porta de entrada e saída na América do Sul e a companhia observam atentamente essa possibilidade.
“Nossa intenção é preparar toda a infraestrutura do Recife para oferecer o melhor, a fim de que as companhias aéreas possam colocar a cidade dentro das suas rotas, tanto nacional quanto internacionalmente. Nesse sentido também definimos uma atrativa política de incentivos para as linhas aéreas que desejem operar em nossos aeroportos, esclarece o diretor-presidente da Aena Brasil.
INTERESSE NOUTRAS OPERAÇÕES
Aeroporto Internacional Tom Jobim - Galeão, no Rio de Janeiro, operado Changi de Cingapura que decidiu devolver as concessões a União. - DIVULGAÇÃO
Nas últimas rodadas de concessões a Aena participou ativamente “acreditamos nas potencialidades do mercado brasileiro e temos interesse, de acordo com as condições, em investir no país” admite Santigo Yus.
O grupo não descarta estar presente na 7ª rodada onde serão oferecidos quatro lotes de aeroportos oferecidos à iniciativa privada ainda no primeiro semestre de 2022, com investimentos na casa dos R$ 8,63 bilhões entre eles o aeroporto Santos Dumont (RJ) isoladamente. Embora a questão de Natal (RN) e Galeão (RJ) possam vir a fazer parte de nova disputas.
“Avaliamos as possibilidades de novas outorgas a cada rodada de concessões, estudando caso a caso” explica o executivo da Aena concluindo com uma sinalização bem clara. “Estaremos sempre atentos às oportunidades que surgirem no nosso setor”.
A julgar pelo estão fazendo no Nordeste, não se pode duvidar os apetite dos espanhóis pelo Brasil.