Sem Putin ter o que mostrar como vitória total na Ucrânia, sofrimento da população civil vai continuar
A imagem que ficou para o mundo foi a Rússia mandando uma delegação de diplomatas e a Ucrânia enviando ninguém menos que seu ministro da defesa, Oleksiy Reznikov.
A primeira rodada de negociações diplomáticas sobre a guerra na Ucrânia não chegou a nenhuma proposta. As delegações de Moscou e Kiev que se reuniram por cinco horas na região de Gomel, na Bielorrússia, perto da fronteira com a Ucrânia já sabiam que esta não seria uma conversa conclusiva.
Até porque nenhuma das partes tinha colocado nada na mesa.
E a imagem que ficou para o mundo foi a Rússia mandando uma delegação de diplomatas e a Ucrânia enviando ninguém menos que seu ministro da defesa, Oleksiy Reznikov.
Certamente, Putin jamais enviaria para essa conversa inicial o seu ministro da Defesa Sergei Shoigu. Mas o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky mandou. E ele chegou fardado.
Na verdade, o fato mais importante está na reunião para marcar um a outra reunião. O que quer dizer que do lado da Rússia a pressão vai aumentar nos próximos dias. E do lado da Ucrânia o sofrimento das populações civis mais ainda.
O que talvez esteja surpreendendo o mundo não seja a saída de mais de 500 mil refugiados, mas as imagens de ucranianos jovens voltando para o seu país dispostos a lutar por uma guerra que todos sabem que não tem como vencer, ao menos militarmente.
Reunião entre representantes da Rússia e da Ucrânia em Belarus - SERGEI KHOLODILIN / BELTA / AFP
Além disso, o país - cujo presidente passou o maior “pito” que um presidente americano recebeu nos últimos 100 anos quando Volodymyr Zelensky disse a Joe Biden nas redes sociais que não precisava de carona, mas de munição - sabe exatamente o sofrimento que lhes será imposto. Embora, a julgar pela disposição da população nas redes sociais e na imprensa internacional, o país parece estar disposto a resistir.
O principal problema dessa conversa inicial é que Wladimir Putin não tem mesmo como sequer falar em cessar fogo porque a verdade é que, após cinco dias no território da Ucrânia, os seus soldados não conseguiram ocupar nenhuma cidade ucraniana importante.
Isso, tecnicamente impede a Rússia de discutir um cessar-fogo nessa situação pois em relação aos seus objetivos militares seria um grande constrangimento. Imagina o que isso teria de repercussão na narrativa internacional de que estão ganhando a guerra?
Mas existe uma coisa que Volodymyr Zelensky já conseguiu além de constranger o mundo ao se queixar do abandono ao que país foi deixado pelos atores internacionais e que estava lutando sozinho com seu povo:
Ele ganhou a guerra de narrativas pelo seu modelo direto de comunicação com sua população.
Volodymyr Zelensky disse a Joe Biden que iria ficar l
E lutar. Nos últimos dias, a cada seis ou 12 horas, ele aparece num novo vídeo em Kiev postado no Youtube, dizendo onde está e o que está fazendo.
Essa comunicação direta já lhe rendeu 94% de apoio. Isso não lhe tira o risco de ter o seu palácio presidêncial atingido por um míssil de cruzeiro disparado da Rússia. Mas ele está nas ruas.
Para claro que Volodymyr Zelensky, um ator que virou comediante decidiu encenar seu maior papel ao vivo usando todo o seu conhecimento de câmera e enquadramento.
o lança-míssil FGM-148 Javelin fabricado pela americana Raytheon and Lockheed Martin cujo designe Texas Instruments. - Divulgação
LANÇA-MÍSSIL FGM-148 JAVELIN
Ele virou celebridade global e a comunidade europeia teve que mudar de atitude e começar a falar abertamente de mandar armas e munições.
Na verdade, os Estados Unidos já mandaram um carregamento do lança-míssil FGM-148 Javelin fabricado pela americana Raytheon and Lockheed Martin cujo design é daTexas Instruments.
Ele pesa apenas 24 quilos custa US$ 175 mil e cada disparo custa US$ 80 mil. Só que ele tem o poder de destruir um tanque. Precisando de apenas um soldado para dispará-lo.
Nas mãos dos bem treinados soldados ucranianos o míssil tem feito um estrago nas linhas de tanques o que, certamente os generais russos não imaginavam. Porque ele se presta a um tipo de resistência tipo guerrilha só que com uma arma que destrói um taque que custa US$ 1 milhão.
Claro que esse equipamento não vai decidir a guerra, mas definitivamente a idéia de que Putin ocuparia a Ucrânia em 48 horas derrubaria o governo e assumira o país parece que vai ter que esperar alguns dias.
Isso quer dizer que a Rússia vai apertar o cerco e vai destruir mais a Infraestrutura ucraniana e provocar mais mortes de civis e explodir o numero de refugiados.
E esse parece ser o cenário que o mundo vai ser acostumando.
Nesta quarta-feira, a guerra de Putin completa uma semana. E os números já são dramáticos. Mesmo com o cerco dos mercados internacionais nas suas finanças, Putin tem como resistir por muito tempo e aumentar a pressão.
E esse é o cenário que o mundo vai ter de se acostumar. Ninguem razoavelmente informado poderia imaginar que em 2022 o mundo enfrentaria o desafio de ver uma guerra clássica no continente europeu.
Mas Wladimir Putin fez calculando todos os riscos e custos embora não imaginando que desta vez o mundo poderia se unir contra ele no mercado financeiro. Do campo de batalha aos campos de futebol onde a FIFA baniu seu país da Copa de 2022.
Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, está usando uma ocmunicação direta com os seus compatriotas. - UKRAINE PRESIDENCY / AFP