BTG Pactual propõe comprar Banco Econômico e pode encerrar a liquidação extrajudicial decretada em 1996
O BTG Pactual informa que pretende subscrever e integralizar ações de empresa que controla o Banco Econômico da família Calmon de Sã da Bahia
Através de uma operação de aumento de capital social da IEP Itapiracem Empreendimentos e Participações S.A. e da Vitória Empreendimentos e Serviços Ltda. controladoras dos ativos do Banco Econômico S.A, do banqueiro Ângelo Calmon de Sá, o Banco BTG Pactual S.A. (“BTG Pactual”) vai assumir a totalidade de ações de emissão da companhia abrindo a possibilidade de resolução de uma dos mais antigos processo de liquidação extrajudicial do mercado financeiro brasileiro.
O Econômico foi, por muitos anos, o maior e mais agressivo conglomerado financeiro do Nordeste com uma das maiores operações na área de crédito imobiliário além de operações de câmbio o que deve se constituir na base da operação financeira que está levando ao BTG Pactual a se interessar pelo negócio.
A operação, como afirma o próprio liquidante Natalício Pegorini em comunicado de Fato Relevante, ontem, tem o objetivo de possibilitar o levantamento do regime de liquidação extrajudicial em que o Banco se encontra desde 1996. Nela, o BTG Pactual informa que pretende subscrever e integralizar ações dessa nova emissão mediante a capitalização de determinados créditos que detém em face da própria companhia fazendo a subscrição das ações a serem emitidas no âmbito do aumento de capital, nos termos da legislação aplicável.
A operação está condicionada à verificação de determinadas condições, dentre elas a obtenção de todas as aprovações regulatórias necessárias, inclusive do Banco Central do Brasil e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica permitindo a cessação do regime de liquidação extrajudicial da Companhia.
Diferentemente de outras instituições que foram liquidadas pelo Banco Central, o Banco Econômico tinha um perfil reconhecido no mercado de crédito imobiliário e financiamento pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) o que a levou a emitir um grande volume de certificados do Fundo de Compensação de Variações Salariais – FCVS.
O FCVS é um fundo público de natureza contábil e financeira, criado no âmbito do antigo Sistema Financeiro da Habitação – SFH, em 1967 com a finalidade de garantir o limite de prazo para amortização da dívida dos mutuários decorrentes de financiamentos habitacionais.
Nos últimos anos, esses certificados de prazos de 10 e até 20 anos têm se valorizado, especialmente os que estão registrados na Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos Privados (CETIP) com é o caso dos títulos do Banco Econômico.
Os CFCVS têm atraído a atenção de Fundos de Investimentos como, por exemplo, os abrigados nas diversas carteiras do BTG Pactual que investem em títulos de longo prazo.
Além desses títulos, o Econômico abriga um considerável volume de títulos cambiais que também estarão a disposição dos novos donos da empresa agora seria controlada pelo BTG Pactual.
A operação de uma proposta de aumento de capital social da foi elogiada por analistas de mercado ouvidos pela Coluna por reunir também os ativos de empresas controladas que o banco tem no seu patrimônio que, uma vez aceitas, poderão ser igualmente alienadas com deságio.
São ativos de terras e fazendas na Bahia, a massa da antiga Usina Aliança, entre outros imóveis.
Em comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o BTG Pactual informou que a operação faz parte da estratégia de investimentos da área de Special Situations (situações especiais) do banco.
Essa divisão é focada na aquisição e recuperação de carteiras de créditos inadimplidos e compra de ativos financeiros alternativos. Ela é especializada na recuperação dos negócios de instituições financeiras em regime especial.
Se aceita pelo BC e pelo Cade, a operação abre a possibilidade de uma solução de mercado para uma das mais icônicas decretação de liquidação extrajudicial do Brasil.
CRÉDITO IMOBILIÁRIO
O Banco Econômico virou a imagem de Calmon de Sá que se notabilizou pela presença tanto no mercado financeiro como na política.
Ele começou sua vida profissional como diretor da Construtora Norberto Odebretcht, onde havia ingressado como apontador de obras, iniciou sua vida pública na Bahia, durante o governo de Antônio Lomanto Júnior .
Sua vida de banqueiro começou quando foi chamado para sanear, administrativamente, o Banco Econômico, primeira casa bancária do país, fundada em 1834, do qual era um pequeno acionista.
Como banqueiro, ele foi diretor da Federação Nacional de Bancos e presidente da Associação de Bancos do Estado da Bahia. Ele foi nomeado em março de 1974 presidente do Banco do Brasil, em substituição a Nestor Jost.
Em 1977, o presidente Ernesto Geisel o nomeou ministro da Indústria e Comércio, em substituição a Severo Gomes (1975-1977).
Em 1992, o presidente Fernando Collor de Melo o escolheu para o Ministério do Desenvolvimento Regional,. Com o impeachment de Collor, Calmon de Sá voltou à presidência do Banco Econômico que, em 1996, teve sua liquidação decretada.