Miss Alemanha, Domitila Barros expõe desafio de ONGs brasileiras em captar recursos depois da guerra da Ucrânia
De uma maneira geral, todas as ONGs brasileiras que dependem de financiamento externo, especialmente de países da Europa, vão sofrer muito, adverte Domitila
Domitila Barros nasceu numa família que tem se dedicado a ajudar gente no bairro da Linha do Tiro, na Zona Norte do Recife. No mês passado, ela virou Miss Alemanha, país em que mora e conseguiu uma bolsa para um mestrado na Universidade Livre de Suely, a Freie Universität, onde cursou o mestrado em Ciências Políticas e Sociais.
Ela já tinha se formado em serviço social pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).
Barros é um belo exemplo de como educação de qualidade pode transformar pessoas especialmente se elas tiverem a consciência de sua dimensão social. Festejada em vários países, identificada como greenfluencer e nômade digital, ela é especialista em marketing social e foi recentemente homenageada pelo Ministério de Relações Exteriores do governo da Alemanha.
De volta à sua Rua Ary Peter, 80, na Linha do Tiro, onde funciona o Centro de Apoio para Meninos e Meninas (CAMM), ela revela que a guerra da Ucrânia impôs um novo desafio à ONG que sua mãe criou depois de ser influenciada pelas palavras da sindicalista venezuelana Domitila Barrios, que conheceu nos bancos da UFPE em 1975 e a quem homenageou com o nome da filha primogênita: captar recursos sem reais.
A ONG, esclarece Domitila Barros, até agora sobreviveu de doações, a sua maioria estrangeiras. "A Alemanha tem sido uma das maiores colaboradoras da instituição. Mas com a chegada de milhares de refugiados, não só a nossa, mas centenas de ONGs que atuam no Brasil vão ter mais dificuldades de receber recursos", diz.
A instituição vai fazer 40 anos e este ano está se credenciado para poder receber recursos de pessoas físicas que desejarem doar parte do imposto de renda para projetos sociais. Ela também pode receber doações diretas.
O orçamento anual é de R$ 250 mil para manter ações de educação, educação ambiental, oficinas de criatividade na formação de crianças para a ação comunitária. Milhares de crianças já passaram por lá e Domitila participou de todas essas ações.
O que chama atenção no discurso da ativista social e influencer - embora não faça disso o seu trabalho - é a consciência de que a sua visibilidade como Miss Alemanha.
Ela costuma dizer que, diferentemente dos outros países, o concurso naquele país foca na participação das candidatas em atividades de apoio às minorias e projetos de impacto social.
O trabalho que Barros já desenvolve no país lhe deu uma enorme vantagem. Ela não faz o tipo de defensora da “paz mundial”. Ela atua para mudar comportamentos.
"Eu tenho falado muito para empresas e organizações que é importante praticar. Não basta dizer que ter atitudes sociais e ambientalmente corretas é importante. É necessário praticar", diz.
Barros se propôs a visitar emissoras de rádio, TV e aonde for convidada para falar do trabalho da ONG onde se criou e onde saiu por força da educação e pedir ajuda para que ela se mantenha.
De uma maneira geral, adverte, todas as ONGs brasileiras que dependem de financiamento externo, especialmente de países da Europa, vão sofrer muito. "Na minha cidade, Berlim, o fluxo migratório chegou a 22 mil pessoas dia vindas da guerra. Isso naturalmente vai concorrer com as necessidades de instituições brasileiras. Preciso dizer isso e pedir ajuda", destaca.
Talvez esse seja sua mensagem mais importante: chamar a atenção para mais um reflexo da guerra no Brasil.
Num mundo em que arranjar dinheiro para crianças no Brasil já é um grande desafio, como captar recursos em reais que possam suprir a falta de euros?
A propósito, o CNPJ do Centro de Apoio para Meninos e Meninas é 08.961.286/0001-83.