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Chamado de Zé Ninguém por Cid Sampaio, Arraes se elegeu governador assumindo perfil de origem popular

A Campanha de Miguel Arraes teve como jingle uma musica que ele se assumia com Zé Ninguém.

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Fernando Castilho

Publicado em 01/05/2022 às 19:30 | Atualizado em 01/05/2022 às 19:41
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Identificar alguém pela sua suposta irrelevância ou pela origem humilde pode custar caro ao acusador, especialmente na política.

Neste final de semana, numa de suas falas, o ex-presidente Lula chamou o atual presidente Jair Bolsonaro de "Zé Ninguém" numa tentativa de desqualificá-lo na gestão do governo.

"Zé Ninguém que só sabe contar mentiras", concluiu, ao criticar falas de Bolsonaro.

A expressão Zé Ninguém faz parte do embate político desde a década de 1960 quando o ex-governador Cid Sampaio chamou Miguel Arraes de Zé Ninguém provocando uma onda de críticas pela condição socioeconômica de Sampaio que era dono de usina de açúcar na Zona da Mata de Pernambuco.

Miguel Arraes que disputou e venceu as eleições derrotando João Cleofas aproveitou a crítica e a usou para reforçar sua presença na Zona da Mata de Pernambuco.

Arraes fora secretário de Fazenda de Cid Sampaio e deveria ter o apoio da UDN. Mas Cid decidiu apoiar João Cleofas que decidiu concorrer ao governo contra Arraes.

Arquivo PSB
Miguel Arraes com a família - Arquivo PSB

A coordenação de sua campanha lançou uma música sobre Arraes que dizia "Sou eu, o Zé Ninguém / Quem me condena razão não tem/ Sou Zé Ninguém, mas sou Trabalhador/ Quem me condena/ Entrego a Deus/ Nosso Senhor" que passou a ser cantada pela população contribuindo para fixar em Cid Sampaio a marca de candidato das elites pernambucanas.

Cid Sampaio perdeu a disputa no apoio a Cleofas e virou um político identificado como retrógrado depois de ter sido governador com uma das mais revolucionárias gestões no Estado.

Anos mais tarde, soube-se que o político da UDN tinha sido vítima de uma armação do Partido Comunista do Brasil que soubera que, numa reunião, Cid Sampaio não se colocou contra a acusação de empresários que apoiavam Cleofas e, internamente, se referiam a Miguel Arraes como um político identificado com os Zé Ninguém do Estado.

O PCB determinou que militantes infiltrados nos comícios de Cid Sampaio passassem a chamar Arraes de Zé Ninguém até que, num momento de emoção, Cid Sampaio disse que Pernambuco não poderia ser governado por um Zé Ninguém.

Foi senha para que, no dia seguinte o jornal Última Hora editado pelo Jornalista Ronildo Maia Leite revelasse o preconceito de Cid com os mais pobres.

Numa ação orquestrada surgiu o jingle já gravado pelo cantor Ari Lobo cantando a música que colou na campanha.

O jingle tinha sido escrito pelo compositor Limoeiro especialista em músicas de campanha que revelou como surgiu a frase. Sou eu, o Zé Ninguém.

Num depoimento à Rádio Jornal, ele disse que foi contratado para fazer o jingle tendo como base a expressão Zé Ninguém.

Limoeiro, entretanto, não conseguiu o verso até após repeti-lo na cama de uma prostituta no bairro do Recife Antigo onde funcionava o chamado "baixo meretrício". Incomodada porque ele repetia " Zé Ninguém, Zé Ninguém, Zé Ninguém ela o interpelou dizendo:

Zé sou eu? Ao que Limoeiro viu surgir a inspiração e gritou entusiasmado "Sou eu, o Zé Ninguém... compondo a música na mesma hora.

Arquivo PSB
Miguel Arraes com Lula - Arquivo PSB

Brasonaro, certamente não se identifica com Arraes e muito menos Lula com Cid Sampaio.

Mas se decidir pegar o mote dado por Lula pode até ser reconhecido como político identificado com o povo, uma marca do ex-presidente que conviveu com Arraes, mas com outra visão.

Na verdade, na volta do exílio Arraes saiu do MDB para fundar o seu próprio partido, o PSB que está apoiando sua nova tentativa de reeleição.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT), chamou o presidente Jair Bolsonaro (PL) de 'Zé Ninguém' e 'mentiroso', num evento com mulheres na periferia de São Paulo (SP), neste sábado (30). Segundo Lula, Bolsonaro não gosta de gente e não conhece a palavra solidariedade.

Mas entre os canavieiros da Zona da Mata de Pernambuco, até hoje quando se fala em Zé Ninguém, todos os eleitores mais velhos cantam o refrão da música da campanha de 1962. Sou eu, o Zé Ninguém...

Arquivo PSB
Miguel Arraes com Lula - Arquivo PSB

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