Sem verba para "segurar morro", Prefeitura do Recife - que implantou solução em 1976 - adotou lona plástica
Muros de contenção. Experiência de sustentação de morro da Zona Norte adota em 1976 e que é referencia até hoje por não ter continuidade causou nova mortes.
A tragédia das chuvas ocorridas na semana passada e que tirou a vida de ao menos 84 pessoas precisa ser analisadas pelo Governo de Pernambuco e pelas prefeituras à lua de experiências igualmente trágicas como a do Córrego do Boleiro, em 2019, na cidade do Recife, que serviu para mostrar que a experiência de sustentação de morro da Zona Norte adota em 1976 e que é referencia até hoje por não ter continuidade causou nova mortes.
Naquela ano, quando 45 pessoas perderam a vida, a Prefeitura do Recife, o Governo do Estado haviam relegado uma experiência bancada pelo então Banco Nacional da Habitação BNH (extinto em 21 de novembro de 1986) que se juntaram num ação que partiu de uma constatação como o novo quadro urbano do Recife a partir da ocupação dos morros da Zona Norte:
Não dava para simplesmente transferir as pessoas do morro e que haviam construído suas casas por conta e risco.
A solução de engenharia proposta, a partir dos anos de 1976, foi a de "segurar o morro" com a construção de um sistema de barreiras de pedra e concreto, escadarias com linha de escorrimento da água e participação da comunidade na fiscalização da obra e monitoramento da vegetal proibindo plantar bananeira, por exemplo.
O dinheiro veio do BNH que entendeu que era preciso mudar a legislação que não incluía esse tipo de linha de crédito entregando a fiscalização ao município. Na época, havia linhas do BNH para fazer conjunto habitacional. Mas a Prefeitura do Recife - ouvindo a comunidade - aceitou proposta de buscar uma solução de preservação para o investimento que a comunidade já havia feito no local.
Ficou mais barato do que simplesmente retirar as famílias para outro local rompendo a rede social que já estava estabelecida depois de anos de convivência.
A falta de recursos para investimento para manutenção dos muros de contenção engaçou a rede social que protegia o morro da vegetação e a Prefeitura do Recife começou a colocar lona plástica como solução provisória.
O programa não teve continuidade nos outros morros de modo que o muro de contenção foi sendo substituído pela lona plástica como solução padrão.
Assim, como os deslizamentos do Córrego do Boleiro, em 2019 e agora os eventos do Jardim Monte Verde, são uma boa expressão dessa falta de atenção embora esse fenômeno ocorra também no Recife e dos demais municípios.
O comportamento dos prefeitos e do próprio governo do Estado mais interessado em construir novos habitacionais deixou os morros - onde parte da população reside - fora do radar das políticas sociais.
No fundo, há mesmo uma rejeição de prefeitos à ideia de botar dinheiro em muro de contenção, fazer escadaria e cuidar da vegetação com envolvimento direta da comunidade que o sentimento de pertencimento com o local que construiu sua própria habitação e traçou sua rede social em detrimento de um habitacional para chamar de seu.
Por isso talvez seja bom aos novos gestores e técnicos do Governo do Estado e da Prefeitura do Recife revisitar o Córrego do Boleiro e a Zona Norte do Recife e ver as soluções propostas ainda em 1976 e que funcionam até hoje. Há anos os morro da Zona Norte não tem tragédias do porte do Jardim Monte Verde.
Sem preconceito. Porque às vezes inovar é fazer o mesmo apenas de modo mais moderno.