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Mapa da Nova Pobreza constrange Governo de Pernambuco e obriga fome a entrar na agenda dos candidatos

O estudo da FGV Social mostra Pernambuco com 8,14% de taxa de crescimento da pobreza entre 2019 e 2021. No município do Recife, o índice de Pobreza chega a 11,4%, maior até mesmo que na Zona da Mata, com 11,1%.

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Fernando Castilho

Publicado em 30/06/2022 às 12:01 | Atualizado em 01/07/2022 às 13:24
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Para um estado que na publicidade diz que está retomando a geração de emprego e melhorando a qualidade de vida dos pernambucanos, a revelação da pesquisa da FGV Social de que a mudança da pobreza de 2019 a 2021 por Unidade da Federação em pontos percentuais na pandemia ocorreu em maior intensidade em Pernambuco (8,14 pontos percentuais) é uma ducha de água fria no discurso que o Governo do Estado deseja imprimir.

Pernambuco é um estado cuja economia busca se aproximar da Bahia, que tem o maior PIB do Nordeste, e se distanciar do Ceará, que vem em terceiro lugar. E desde 2021 o Governo de Pernambuco tenta se apresentar como um estado saneado financeiramente, com alta capacidade de investimento público e como o maior gerador de empregos formal na Região.

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Mas os números de 2021 mostram o contrário, e o mais grave, a queda brutal do Estado em gerar renda. Mas contra fatos, não há argumentos. Quando se observar o numero de pessoas abaixo da linha da pobreza pode ser que no município do Recife, o índice de pobreza cresceu a 11,4%, maior até mesmo que na Zona da Mata, com 11,1%. 

Ao observar a distribuição da população pobre no Estado, o estudo da FGV mostra que o Agreste pernambucano é a região que concentra mais pobres: 59,62%. Significa que nessa região, de cada dez pessoas, seis estão vivendo abaixo da linha de pobreza. Em seguida, aparecerem a Zona da Mata (54,89%), Sertão (54,19%), o Grande Recife (45,16%) e por fim a capital (36,19%).

"Recife tem mais de um terço da população abaixo da linha de pobreza"
Marcelo Neri, Pesquisador da FGV Social

"Durante a pandemia, foi na capital onde houve o maior salto em direção à pobreza. Cresceu 11,34% entre 2019 e 2021", informa o economista da FGV. A cidade tem cerca de 1,6 milhão de habitantes.

O estudo da FGV Social diz que Pernambuco, com 8,14% de taxa de crescimento da pobreza entre 2019 e 2021, tem quase o dobro do Brasil, bem mais que a Bahia (4,90%) e é duas vezes e meia a do Ceará (3,785).

Isso não quer dizer que os dois estados do Nordeste estão melhores nesse indicador. Quer dizer que Pernambuco está entre os piores do Brasil. E que sua economia não gera renda, a despeito de um dos polos com maior capacidade de aplicações no mercado financeiro da Região.

No fundo, o que o estudo diz é que, aqui, a pobreza aumentou e que metade dos pernambucanos está na miséria, porque Pernambuco é o quarto com maior proporção de pobres, com taxa de 50,32%, abaixo do Maranhão (57,90%), Amazonas (51,42%) e Alagoas (50,36%). O Brasil tem média nesse indicador de 29,62%.

É pobre demais com renda de menos. Isso torna muito mais desafiadora a tarefa dos próximos gestores de Pernambuco e virou dever de casa de cada um dos possíveis candidatos ao governo a se debruçarem sobe os números para ver aonde estamos errando.

Naturalmente, quem hoje está na oposição atribui toda responsabilidade ao governador Paulo Câmara. É natural e previsível. Mas impõe um desafio maior às equipes do Governo do Estado em mergulhar para que a próxima gestão possa receber informações mais propositivas.

Do que menos Pernambuco precisa é de declaração periférica de candidato interessado em post de mídias sociais.

É necessário, portanto, antes de qualquer avaliação, ter honestidade social e cívica para abordar a questão, afinal, estamos falando de 4 milhões de pernambucanos abaixo da linha de pobreza.

O que o estudo chama de Geografia Estadual da Pobreza desafia gestores a trabalhar no aspecto espacial na proporção dos pobres segundo conceito de renda per capita efetiva, todas as fontes usando linha de R$ 497 mensais a preços do quarto trimestre de 2021.

E de focar na mudança de posição entre as 27 Unidades da Federação visando ter menores taxa de pobreza.

No fundo, o objetivo de Pernambuco é ser Sant'a Catarina, cujo índice é de 10,16% na pesquisa. Até porque a principal constatação é que Pernambuco não conseguiu avançar quando precisou atuar durante a pandemia.

Como é possível ver no trabalho liderado pelo pesquisador Marcelo Nery, o contingente de pessoas com renda domiciliar per capita até 497 reais mensais atingiu 62,9 milhões de brasileiros em 2021, cerca de 29,6% da população total do país.

Este número em 2021 corresponde 9,6 milhões a mais que 2019, ou quase um Portugal de novos pobres surgidos ao longo da pandemia. Ou o equivalente ao estado de Pernambuco.

Como diz o Nery, o objetivo desta pesquisa é avaliar o nível e a evolução espacial da pobreza durante os últimos anos no Brasil, usando os microdados da PNAD Continua Anual, recém disponibilizados pelo IBGE. O convite está feito!

O desafio dos próximos gestores é que a partir de 2023, Pernambuco possa obter ganhos efetivos que cheguem à sua população. 

Pernambuco é o segundo estado no Nordeste com maior numero de famílias inscritas no Programa Auxilio Brasil, com 1.444.793. Perdendo apenas para a Bahia, que tem 2.259.173 inscritos.

Não é razoável estar nesse tipo de indicador na companhia do estado com menor PIB regional, Sergipe. Entretanto, mais constrangedor é apresentar números abaixo de seis dos nove estados do Nordeste.

Tai um bom assunto para o Governo de Pernambuco anunciar um projeto de retomada.

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"Recife tem mais de um terço da população abaixo da linha de pobreza"

Marcelo Neri, Pesquisador da FGV Social

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