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Tragédia do mundo real desmonta "eficiência" do Governo e PCR em ajudar às vítimas das chuvas no mundo digital

Em nota oficial, Palácio do Governo informa já ter liberado 90,11% dos R$ 124,7 milhões inicialmente previstos. Mas na Prefeitura do Recife, o quadro hoje é caótico e gera protestos de rua

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Fernando Castilho

Publicado em 06/07/2022 às 16:30 | Atualizado em 06/07/2022 às 19:59
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No final de maio e começo de junho, quando a tragédia das chuvas se abateu sobre o Recife, provocando mortes na capital de Pernambucana, o prefeito do Recife, João Campos, usou suas redes sociais para dizer que sobre os R$ 1.500 de auxílio anunciado pelo governador Paulo Câmara, estava colocando mais R$ 1.000.

Ele chegou a estimar que aquela atualização do valor do auxílio-moradia também seria destinada para exatos 5.594 atuais beneficiados, além das famílias que serão cadastradas no programa pelas equipes de Defesa Civil e Assistência Social.

Naquela semana, enquanto dezenas de famílias ainda estavam enterrando seus parentes a recomendação era de que para receber o auxílio, tanto do Governo do Estado, como da prefeitura, as famílias devem estar cadastradas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico).

E que equipes da Prefeitura do Recife iriam realizar visitas às comunidades e às áreas mais afetadas, com identificação específica, para incluir as informações das pessoas no CadÚnico e cadastrar as habitações que foram danificadas. O governador Paulo Câmara também se utilizou das redes sociais do Governo para comunicar diretamente a destinação de R$ 120 milhões para atender as  famílias atingidas.

SIDNEY LUCENA/JC IMAGEM
Protesto no Recife cobra por pagamento de R$ 2,5 mil do AME - SIDNEY LUCENA/JC IMAGEM

No mundo digital ao qual o prefeito João Campos tem se utilizado com sucesso para se comunicar diretamente com a população, o problema pareceu resolvido. Seus anúncios de ampliação da vacinação da covid-19 através do Conecta Recife lhe renderam grande interação.

O que acontece agora, mais de um mês depois da tragédia e duas semanas após uma nova cheia, dessa vez em mais 18 municípios da Zona da Mata, é uma realidade que nada tem a ver com a comunicação dos gestores que não se apressaram como da comunicação da informação positiva em falar diretamente sobre o tema relacionado ao dramático atraso de pagamentos e a terrível constatação de que seus nomes não estado do CadÚnico que sustenta burocraticamente o modelo de pagamento.

Agora, no lugar de João Campos e Paulo Câmara, falam apenas os assessores que tentam explicar na TV aberta que Prefeitura e Governo do Estado estão trabalhando, mas que não conseguem dar conta de tantas famílias atingidas pela tragédia.

Eles não têm sido convincentes.

Em nota oficial, o Palácio do Governo informa já ter liberado 90,11% dos R$ 124,7 milhões inicialmente previstos para o pagamento, o que corresponde a R$ 112.362.514,12 para 74.907 famílias de 23 municípios.

Esses valores são destinados às pessoas que ficaram desabrigadas ou desalojadas por causa dos temporais no Estado, que já provocaram 132 mortes e incontáveis danos materiais.

Na Prefeitura do Recife, o quadro hoje é mais caótico.

Porque as 5.594 citadas com precisão pela prefeito parecem ser muito maiores abrindo uma onda de protesto no posto de Cadastramento da Rua do Imperador para onde centenas de famílias está acorrendo todas as madrugadas.

O nível de críticas, protestos com queima de pneus é alerta para gestores que acreditam firmemente que uma postagem no YouTube no Instagram, no Twitter e do Facebook é suficiente para assegurar respeito.

Infelizmente, nem Paulo Câmara nem João Campos voltaram as suas redes sociais para tentar dar uma palavra direta de apoio às famílias que não estão sendo alcançadas.

E como sempre acontece nem sempre o setor publica acolhe com empatia e dignidade a quem desesperado pede ajuda.

Primeiro porque a estrutura não tem como suportar, segundo porque gestores não têm atitude de criar soluções que possam responder às necessidades de quem está em desgraça.

Isso expõe o cansaço da população que já vivia em vulnerabilidade social, em uma eterna batalha para conseguir um pedaço de terra e comprar móveis e eletrodomésticos e não saber se será atendida. Boa parte não será mesmo. E muito vão ficar sem receber nada.

Nesta segunda feira subiu para 132 o número de vítimas das chuvas em Pernambuco desde o último dia 25 de maio. A 132ª pessoa morta em consequência das enchentes foi o agricultor Elísio Corrêia Costa, 64 anos.

Além disso, quase 10 mil pessoas estão desalojadas ou desabrigadas em Pernambuco por causa das fortes chuvas que caíram na Zona da Mata e Agreste do Estado no último fim de semana.

Os números do quadro geral desmoralizam todo o discurso do governador e do Prefeito do Recife nas plataformas digitais nas quais aparecem anunciando soluções definitivas.

Não é pouco dinheiro que o governador Paulo Câmara está gastando R$ 120 milhões para atender a quem foi atingido. E mesmo para uma prefeitura com caixa razoável como o Recife é muito dinheiro. Mas não é suficiente e nem poderia.

Apesar de no YouTube, no Instagram, no Twitter e do Facebook a solução parecer resolvida. O problema é que isso fica gravado e os gestores agora pagam esse custo em tempo real com os protestos no Centro do Recife e nas rodovias do Estado.

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