Enquanto caminhoneiro autônomo recebe R$ 1 mil de auxílio, agronegócio compra caminhão de R$ 750 mil
Esta semana, a empresa Amaggi finalizou a compra de 440 caminhões Volvo, sendo 400 FH540 6×4, cuja unidade custa R$ 750 mil
Enquanto o Governo Bolsonaro vai pagar um auxílio de R$ 1.000 aos caminhoneiros autônomos até dezembro, o agronegócio virou o maior cliente da indústria de caminhões depois da greve de 2018 e, a cada safra, compra caminhões de R$ 750 mil para as suas frotas próprias.
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Isso não existia há quatro anos. O transporte da safra era todo terceirizado. Mas a perda de carregamentos e a escassez de caminhões depois da greve fez o setor mudar e, com os dólares recebidos nas exportações de grãos. Desde então, as vendas só fazem crescer.
Esta semana, a empresa Amaggi finalizou a compra de 440 caminhões Volvo, sendo 400 FH540 6×4, cuja unidade custa R$ 750 mil. A encomenda é tão grande que a entrega terá que ser escalonada.
O caso da Amaggi, que pertence ao grupo liderado pelo ex-ministro Blairo Maggi, é especial pelo tamanho da companhia que, sozinha, produz 1 milhão de toneladas de grãos. Mas não é um fato isolado. No mês passado, a indústria matriculou 760 novos caminhões que devem serem usados na safra que está começando a ser exportada.
Essa realidade não tem nada a ver com os caminhoneiros autônomos, que cada vez mais estão fora do mercado, especialmente do agro, devido a dificuldades de se manterem e ter caminhão comprando combustível no varejo do posto, enquanto as empresas compram no atacado das distribuidoras.
Na verdade, os atores que ajudaram a eleger Jair Bolsonaro para a presidente da República e André Janonnes deputado por Minas Gerais - os dois, agora candidatos em 2022 - perderam protagonismo.
Isso coloca em cheque a validade da ideia de alguns deputados do Centrão, que ainda atribuem importância ao segmento de autônomos como agentes estratégicos para o transporte da produção do agronegócio, como foi até 2018.
Cada caminhão Volvo, sendo 400 FH540 6×4, que levarão a produção das lavouras do Centro-Oeste até os terminais de transbordo da região Norte, formam uma composição de 74 toneladas de PBTC (Peso Bruto Total Combinado), na configuração rodotrem basculante da Librelato, com duas caçambas de aço com ângulo de basculamento de 40 graus.
Isso quer dizer que cada um deles custa R$ 1 milhão. Um caminhoneiro autônomo pode, no máximo, pedir emprestado R$ 100 mil. Ou seja, o setor está condenado a usar caminhões seminovos.
O pacote de compras da empresa de Baliro Maggi vai ajudar numa parceria para explorar uma nova área em Rondônia, que pertence aos herdeiros do Rei da Pecuária, Garon Maia. Sai o gado e entra a produção de grãos.
De acordo com a Amaggi, a empresa adquiriu 25% do capital da sociedade e deve desenvolver as atividades em um prazo de 15 anos. A Agropecuária Maggi terá direito de uso e exploração de terras cultiváveis para a produção de grãos de soja, milho e algodão.
Um negócio tão grande que foi preciso ser analisado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que analisou o acordo entre o grupo Amaggi e a família Maia, para a criação de uma nova empresa, a Tropical Farms S.A. O acordo permite que essa empresa atue em 31 mil hectares do estado de Rondônia.
Os caminhões este ano passam a operar ainda na BR-163, uma das principais vias de escoamento da safra do Mato Grosso com uma novidade:
Parte da frota dos novos Volvo FH rodará no trecho entre Mato Grosso e o Pará, abrangendo regiões mato-grossenses de cidades como Sorriso, Sinop e Matupá, até chegar ao novo porto de Miritituba (PA), onde os grãos são descarregados em uma estação de transbordo e seguem para exportação.
Esse é um fato novo no agronegócio, que está incluindo o Nordeste na produção e exportação com a consolidação do MATOPIBA um acrônimo formado pelas siglas de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia e que designa uma nova fronteira agrícola que está se consolidando.
O Matopiba já responde por aproximadamente 10% da produção brasileira de grãos e fibras, principalmente soja, milho e algodão.
Na verdade, essa nova fronteira agrícola brasileira é considerada complexa, o que torna ainda mais audacioso o desafio de garantir uma agricultura moderna e sustentável na região.
O Matopiba reúne 337 municípios, 31 microrregiões e representa um total de cerca de 73,1 milhões de hectares (51% da área dos quatro estados). O Tocantins tem 37,95% da área, Maranhão 32,77%, Bahia, com 18,06%, e Piauí, 11,21%.
O problema é que esse território abrange os biomas Cerrado com 90,94% (de toda a área), Amazônia, com 7,27%, e Caatinga, com 1,64%. E dos 95 milhões de hectares, somente 5 milhões são utilizados com agricultura.