SELIC: Copom avisa que juros continuarão a subir enquanto governo continuar a gastar o que não tem
O mundo vai continuar com inflação em alta. O Brasil, se não fizer nada, vai comprometer suas contas públicas muito seriamente
O ex-ministro da Fazenda e hoje consultor econômico Mailson da Nóbrega costuma dizer que uma das grandes conquistas do real foi a instituição no Conselho de Política Monetária (Copom) de uma sistemática de esclarecimentos de suas posições e a colocação argumentos técnicos para explicar suas decisões. Está tudo ali. E todo mundo pode ler.
Serve até para se ver quando ele avalia errado os cenários e perde o tempo de atuar e de funcionar como o guardião da moeda. Mas é uma conquista que poucos países têm.
Nesta quarta-feira (3), o Copom fez sua 248ª reunião e decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 13,75% a.a. Mas mandou recados importantes para o governo, que parece está se lixando para o dia depois de 31 de dezembro de 2023, quando pode tomar posse novo presidente.
Está escrito como na pule do jogo do bicho. Nos cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções e que riscos de alta para o cenário inflacionário estão: a persistência das pressões inflacionárias globais e a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país.
Traduzido no bom português, a notícia é: o mundo vai continuar com inflação em alta, e o Brasil, se não fizer nada, vai comprometer suas contas públicas muito seriamente. E, modestamente, reconhece que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente são maiores que a usual.
Complicado quando Banco Central diz que a incerteza da atual conjuntura, tanto doméstica quanto global demanda cautela adicional em sua atuação.
O Banco Central está sozinho na defesa da redução da inflação no Brasil. O governo Bolsonaro está torrando uma montanha de dinheiro, se lixando para o fato de que a inflação desse jeito não baixa.
Na verdade, o discurso é que (entre agosto e setembro) vai haver deflação devido a redução dos preços dos combustíveis. Dez entre dez economistas sabem que o que nos espera a partir de novembro não é boa coisa. Mais ainda se Bolsonaro perder a eleição.
O Copom diz que perseverar em sua estratégia (de alta dos juros) até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.
Ou seja: podemos ter uma Selic de 14% a partir da próxima reunião, em setembro. E fecha a conversa dizendo que espera uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços das commodities internacionais em moeda local e que uma desaceleração da atividade econômica mais acentuada do que a projetada possa fazer os preços reduzirem e inflação baixar.
Pode ser. Mas função de Banco Central é essa mesmo. Trabalhar para fazer que a inflação baixe. Na tora! Subindo os juros valendo!