Consignando a beneficiário do Auxílio Brasil gera constrangimento e Bradesco e Itaú anunciam que não vão emprestar
Atualmente, a taxa media para servidores públicos é de 20,4% ao ano. Para beneficiários do INSS, 24,8%. Para beneficiários dos Auxilio Brasil, as taxas passa de 80%
Depois que o Bradesco anunciou que não vai operar a linha de crédito consignado aos beneficiários do Auxílio Brasil que começou a ser pago nesta terça-feira (9), outro megabanco brasileiro, o Itaú Unibanco também seguiu o caminho e comunicou que não vai operar a linha de crédito.
O consignado é uma linha de crédito de baixo custo pelo fato de o tomador autorizar o desconto da prestação na hora de seu credito em conta o que praticamente reduz a zero risco de inadimplência. Mas para operá-lo os bancos precisam captar no mercado o que de certa forma nesse caso quer dizer remunerar a um investidor por uma aplicação que vai se destinar à população mais vulnerável do país.
Na semana passada o próprio presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Jr., disse que o banco entendeu que é melhor não operar o consignado para os beneficiários do Auxílio Brasil. Nesta terça-feira também o presidente do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho afirmou que o banco optou por não operar a linha de crédito.
Embora não estejam explicitando isso, há um enorme constrangimento dos bancos em entrar nesse segmento. Estimativas feitas por analistas indicam que existe um mercado potencial de ate R$ 75 bilhões que poderiam ser emprestados pelos bancos aos 20 milhões de pessoas assistidas, mas questões éticas começaram a ser levantadas sobre o tema.
O problema é que pelo que já foi divulgado os bancos que estão oferecendo as linhas de crédito estão praticando taxas muito altas mesmo se comparadas as que hoje estão sedo praticadas. Hoje segundo o BC a taxa media para servidores públicos é de 20,4% ao ano. Para beneficiários do INSS 24,8%. Para beneficiários dos Auxilio Brasil as taxas passa de 80%.
Segundo o Banco Central, 41 instituições financeiras atuam na linha de crédito consignado cobrando taxas que vão de 1,31% ao mês (16,85% ao ano) como o banco CCB-Brasil S.A. a 2,21% (29,94%) como é o caso do Banco do Nordeste do Brasil. Bradesco e Unibanco cobram 2,02% (27,13%).
Para os grandes bancos, o crédito é apenas mais uma linha dentro de uma centena de opções que eles dispõem. Mas existe um grupo de bancos que praticamente vive dessa linha captando os recursos no mercado e emprestando a aposentando e pensionistas do INSS e servidores públicos.
Hoje, segundo o Banco Central existe um total de R$516, 12 bilhões de empréstimos contratados aonde os servidores públicos tomaram R$ 295,01 bilhões e os aposentados e pensionistas R$ 191,56 bilhões. Os empregados do setor privado tomaram apenas R$ 29,72 bilhões conforme dado referente ao mês de 2022.
Uma questão central no consignado aos beneficiários do Auxílio Brasil é o risco de recebimento dos empréstimos. O projeto de lei que autorizou a pagamento de R$ 600 vai até dezembro. Se um banco ficou o contrato de 12 ou 18 meses não tem garantias de que os R$ 600 vão continuar. Se não for mantido os R$ 600 a prestação terá que ser debitada sobre R$ 400 causando um sério problema social.
Segundo o presidente do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho a decisão de não conceder consignado aos beneficiários do Auxílio Brasil foi tomada há algum tempo. "Seja pelo perfil do público, que é vulnerável, seja pela temporariedade do benefício e a mudança que ocorre mês a mês. O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Jr. foi na mesma linha "Entendemos que essas pessoas terão mais dificuldade quando o benefício cessar e, por isso, preferimos não operar."
O problema do empréstimo consignado aos beneficiários do Auxílio Brasil tem a ver com questão da vulnerabilidade do publico alvo. No caso dos aposentados e pensionistas do INSS a elevação de 45% quer dizer um problema sério porque na prática quem toma o dinheiro emprestado terá que viver com quase a metade dos seus vencimentos por vários anos.