Lula, Banco do Brasil, BNDES

Lula tem recaída e fala em "enquadrar" bancos públicos que no seu governo emprestaram às empresas da Lava Jato

Lula diz que é preciso "enquadrar" o Banco do Brasil para que a estatal se comporte como um "banco público", e que BNDES "deixe de fazer empréstimos" a grandes empresas

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JC

Publicado em 17/08/2022 às 20:25 | Atualizado em 17/08/2022 às 22:06
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O ex-presidente e candidato a presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, continua modulando seu discurso à platéia; o que, necessariamente, não quer dizer apenas a forma de como se comunica, mas representa mudanças radicais no conteúdo.

Nesta quarta-feira, num encontro com micro e pequenos empresários alinhados à sua candidatura, Lula  (PT) radicalizou: É preciso “enquadrar” o Banco do Brasil para que a estatal se comporte como um “banco público”, e que BNDES “deixe de fazer empréstimos” a grandes empresas e se dedicar a emprestar a pequenos e médios empresários.

O ex-presidente também disse que o BB pode ser “bonzinho se tiver orientação governamental. Se não tiver orientação, a burocracia do Banco do Brasil pensa como banco privado”.

Ele quer que o Banco do Brasil e BNDES, que são bancos públicos, "virem bancos públicos”.

O ex-presidente acerta quando diz que  não quer que "os bancos públicos tenham prejuízo, mas eles têm que prestar função social nesse país. O BNDES vai ter que se dedicar a emprestar para pequenos e médios porque o restante pode tomar empréstimo em dólar em qualquer lugar”.

Mas o ex-presidente conhece a máquina pública e sabe que a realidade dos dois bancos não tem nada a ver com o que promete quando radicaliza.

Ele sabe que no caso do BB não pode fazê-lo virar um banco público, porque o BB é uma instituição de economia mista, como a Petrobras. E nos seus governos anteriores ele ampliou a presença no capital social da instituição.

Lula sabe muito bem que banco público é a Caixa Econômica Federal. Lá, ele (como Jair Bolsonaro) pode fazer o que quiser. No Banco do Brasil tem que prestar constas aos acionistas privados.

Seria mais verdadeiro que ele dissesse que o BB poderia - num eventual governo sob seu comando - ter linhas e políticas de crédito realmente direcionadas aos empresários donos de micro e pequenas empresas.

E que criasse, como o BNDES fez, no governo Bolsonaro, fundos de aval de modo a que as empresas pudessem tomar dinheiro empestado sem ter que entregar as garantias que seus donos não têm.

O BB não empresta mais a pequenos e micro empresários porque não tem estrutura para esse público. Emprestar a esse mercado exige uma nova tecnologia que precisa de novos formatos de acompanhamento, que ate hoje o Brasil não tem. Pode fazer, mas exige, aí sim, uma decisão de mudar a chave do BB e também do Banco do Nordeste.

Agora, se existe uma promessa que o ex-presidente não pode fazer é dizer que o BNDESdeixe de fazer empréstimos” a grandes empresas e se dedicar a emprestar a pequenos e médios empresários.

Lula certamente não esqueceu que foi ele quem inventou a política de campeões nacionais, que nos levou ao escândalo da Lava Jato.

Ele, melhor que ninguém, sabe que foi no seu governo que a União transferiu R$ 500 bilhões - que não tinha e tomou emprestado no mercado financeiro – para o BNDES emprestar as grandes empresas.

Podemos acusar Jair Bolsonaro de muitas coisas. Mas a nova patente de usar o dinheiro público para fazer campeões nacionais é do governo Lula.

Falar agora que o BNDES vai se dedicar a emprestar a pequenos e médios empresários faz sentido. Mas o ex-presidente talvez seja o único ex-presidente que está impedido de falar nisso.

É importante não esquecer. Banco, seja ele público ou privado, não inventa dinheiro. Vive de captar no mercado e emprestar ganhando uma comissão (spread). Isso faz o BB, a Caixa, O BNDES e o Banco do Nordeste.

Não tem nada de graça. Salvo se o governo decidir abrir mão de seus dividendos, determinando que eles sejam aplicados em linhas de baixa remuneração para pequenos e médios clientes. Ou transferindo recursos do tesouro para fazer como foi feito nos governo do PT para grandes empresários.

O ex-presidente não precisa dizer isso a micro e pequenos empresários para que eles o apoiem. A própria composição da platéia já vai votar nele.

O que Lula parece ter esquecido é que, por força da politica de campeões nacionais, sua promessa de que houvesse uma reserva das compras governamentais destinadas a pequenas e médias empresas e que 65% das peças fossem compradas de empresas brasileiras, não foi cumprida e essas empresas ficaram de fora, especialmente das compras da indústria do setor naval.

Lula poderia ser mais responsável com o dinheiro público que ele tanto diz cuidar.

Quando critica o BB e o BNDES, o maximo que consegue é que o Brasil se lembre do que ele fez com essas instituições nos seus dois governos.

O que não traz boas lembranças.

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