ELEIÇÕES 2022: Bolsonaro só foi a Londres e à ONU para fazer campanha mesmo
Jair Bolsonaro só está preocupado em gerar fotos e imagens para jogar em tempo real antes que alguém reclame no TSE que não pode usar um novo ato de governo como ato de campanha
É perfeitamente compreensível que candidatos à presidência da República e especialistas da área jurídica questionem a legalidade do ato do presidente Jair Bolsonaro de fazer um discurso político-eleitoral na sacada da residência oficial da embaixada do Brasil no Reino Unido, assim como deve fazer outro na porta do Hotel Omni Berkshire Place, na região de Midtown Manhattan.
Bolsonaro tem o que para fazer nos dois locais? Fazer uma excursão ao Harry Potter pelo Warner Bros?
Ou, em Nova Iorque, levar sua comitiva para um jantar festivo no restaurante francês do chef Daniel Boulud, gastando U$ 500 por pessoa numa refeição na região de Upper East Side, na ilha de Manhattan?
Claro que não. Bolsonaro esgotou neste final de semana em Caruaru e Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste de Pernambuco, o estoque de manifestações com muita gente e agora vai ter que gerenciar os últimos 10 dias de campanha para manter o percentual de votos que lhe conferem as pesquisas.
Bolsonaro está lá preocupado como que vão dizer dele usar uma roupa preta e sua mulher, Michelle, vergar um modelito preto com rede no rosto e posar com seu maquiador e influenciador Augustin Fernandez?
Ele está preocupado em gerar fotos e imagens para jogar em tempo real antes que alguém reclame no TSE que ele não pode usar um novo ato de governo em ato de campanha.
Tanto que levou a equipe completa e fez logo na chegada à embaixada do Brasil uma live para dizer que “Não tem como a gente não ganhar no primeiro turno”.
Vai dizer o que? Que está ali pela longa amizade que tinha com a Rainha Elizabeth? Ou que espera atenção especial do Rei Chales III? Bom, o bom senso manda que não se atreva a fazer nenhuma comparação de sua Michelle com a rainha Camilla Parker Bowles. Imagina?
O que o presidente foi fazer em Londres foi o que já fez e vai fazer até pegar o avião e ir para Nova Iorque. Ou alguém acha que o comício foi porque apareceram 300 pessoas vestidas de verde e amarelo sem articulação? Tem muita gente em Londres que está se lixando para o assassinato do jornalista Dom Phillips. A manifestação foi organizada e pontual.
Ruim foi para Arthur Lira, sair de sua Alagoas, onde está levando pancada de Renan Calheiros para viajar sem querer. E para a polícia de Londres, toda mobilizada para o funeral, ter que deslocar efetivo para cercar os manifestantes que eram xingados por bolsonaristas, que gritaram frases contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelos ecologistas que estavam do outro lado da rua.
Então, a reação de Lula e de seus apoiadores e até de juristas renomados é previsível e normal.
E vai acontecer antes e depois de ele abrir a Assembleia Geral da ONU, onde vai dizer que temos que enfrentar ameaças e consequências da crise sanitária internacional, que em relação ao conflito na Ucrânia, quer solução duradoura para essa crise, que a ONU tem que ter papel preponderante na resolução e é a necessidade de se garantir a segurança alimentar no mundo com uso sustentável da terra. Nada que lhe comprometa.
Mas o que ele deve falar mais é de sua reeleição e dizer que o processo eleitoral faz parte da vida democrática de todos os países e o Brasil é um exemplo de uma democracia vibrante e que elas são disputadas muito seriamente, com muita competição. E aí só Deus sabe o que vem depois.
O problema é que Bolsonaro tem um lugar especial. Ele fala depois do secretário-Geral da ONU, António Guterres, e antes do presidente norte-americano, Joe Biden. Tem tudo contra se fizer bobagem, mas isso não o interessa.
Ele vai dar seu recado e trazer os vídeos de sua fala para turbinar suas redes.
Então, de certa forma, ele está certo do ponto de vista estratégico quando faz campanha usando dois momentos internacionais. Sabe que ninguém que já viu a campanha vai mudar de opinião com as suas lives e sua fala na ONU.
E quer saber? Se Lula fosse o presidente disputando uma reeleição faria também, talvez melhor orientado e pela experiência internacional que adquiriu depois de dois mandatos. Até porque haveria uma fila de gente querendo ter encontros reservados com ele.
E de perfil bem diferente que os presidentes do Equador, Guillermo Lasso; da Guatemala, Alejandro Giammattei; da Polônia, Andrzej Duda; e da Sérvia, Aleksandar Vui, com quem Bolsonaro tem agenda.
Mas iria aproveitar, sim, para pedir votos no seu discurso.