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Não dava mais para Copom subir taxa básica de juros só para dizer que é o xerife da moeda

O Copom sinaliza para o mercado que já é possível se pensar no primeiro ano do novo governo sem taxa Selic maior, o que dará as equipes dos vencedores o mínimo de tranquilidade.

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Fernando Castilho

Publicado em 21/09/2022 às 21:00 | Atualizado em 21/09/2022 às 21:26
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Talvez uma das maiores conquistas do Brasil depois do advento do Real sobre como mede e divulga suas contas públicas seja a instituição das chamadas atas do Comitê de Política Monetária, que nos dias 25 e 26 de outubro fará o seu 250º encontro.

Está tudo ali. Explicadinho, inclusive, quem votou contra, como aconteceu desta vez com dois dos nove votos. Então, o que os analistas podem ler e elucubrar suas mais criativas teorias. Mas no fundo, a ata do Copom segue a Lei Oficial do Jogo do Bicho, que é o papel de maior credibilidade do mercado financeiro: vale o que está escrito.

Conceitos sobre as chamadas “corretagens zoológicas” à parte, o que está dito ali é uma coisa bem simples “Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% a.a.”

E que diante das informações, o “Comitê optou novamente por dar ênfase ao horizonte de seis trimestres à frente, que reflete o horizonte relevante, suaviza os efeitos diretos decorrentes das mudanças tributárias, mas incorpora os seus impactos secundários.” Ou seja: está dizendo que até março de 2024 não deseja voltar ao ciclo de aumento de taxas.

Ajuda muito. Sinaliza para o mercado que já é possível se pensar no primeiro ano do novo governo sem taxa Selic maior, o que dará as equipes dos vencedores o mínimo de tranquilidade. Tem mais: as expectativas de inflação para 2022 (6,0 %); 2023 (5,0%) e 2024 e 3,5%.

Quer dizer: não dava mesmo para o Banco Central querer mostrar força como o “xerife da moeda” e subir 0,25% apenas para dar uma demonstração de força ao mercado.

O Copom fez o óbvio. Interrompeu o ciclo de alta, deu um refresco ao mercado, disse que em um ano e meio não pensa em voltar a subir os juros e que devemos cuidar da vida normal.

Pode, já em outubro, ocorrer uma pequena queda? Pode! Mas não dar para cravar isso antes das eleições.

Talvez se, por exemplo, o Lula da Silva vencer no primeiro turno, o que, certamente, dará um refresco do mercado internacional ao Brasil.

Mas foi importante o Copom lembrar é que o ambiente externo mantém-se adverso e volátil, com contínuas revisões negativas para o crescimento das principais economias, em especial para a China. E uma maior persistência das pressões inflacionárias globais.

E no final, o Comitê fecha com a aquele discurso em que enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.

Mas o fato é que o recado está dado. Para de subir os juros, dá pista para o mercado pensar em 18 meses e aposta que os preços do petróleo vão continuar baixando, reduzindo a pressão para a inflação interna.

Até enquanto a eleição não se resolve.

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