Não dava mais para Copom subir taxa básica de juros só para dizer que é o xerife da moeda
O Copom sinaliza para o mercado que já é possível se pensar no primeiro ano do novo governo sem taxa Selic maior, o que dará as equipes dos vencedores o mínimo de tranquilidade.
Talvez uma das maiores conquistas do Brasil depois do advento do Real sobre como mede e divulga suas contas públicas seja a instituição das chamadas atas do Comitê de Política Monetária, que nos dias 25 e 26 de outubro fará o seu 250º encontro.
Está tudo ali. Explicadinho, inclusive, quem votou contra, como aconteceu desta vez com dois dos nove votos. Então, o que os analistas podem ler e elucubrar suas mais criativas teorias. Mas no fundo, a ata do Copom segue a Lei Oficial do Jogo do Bicho, que é o papel de maior credibilidade do mercado financeiro: vale o que está escrito.
Conceitos sobre as chamadas “corretagens zoológicas” à parte, o que está dito ali é uma coisa bem simples “Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% a.a.”
E que diante das informações, o “Comitê optou novamente por dar ênfase ao horizonte de seis trimestres à frente, que reflete o horizonte relevante, suaviza os efeitos diretos decorrentes das mudanças tributárias, mas incorpora os seus impactos secundários.” Ou seja: está dizendo que até março de 2024 não deseja voltar ao ciclo de aumento de taxas.
Ajuda muito. Sinaliza para o mercado que já é possível se pensar no primeiro ano do novo governo sem taxa Selic maior, o que dará as equipes dos vencedores o mínimo de tranquilidade. Tem mais: as expectativas de inflação para 2022 (6,0 %); 2023 (5,0%) e 2024 e 3,5%.
Quer dizer: não dava mesmo para o Banco Central querer mostrar força como o “xerife da moeda” e subir 0,25% apenas para dar uma demonstração de força ao mercado.
O Copom fez o óbvio. Interrompeu o ciclo de alta, deu um refresco ao mercado, disse que em um ano e meio não pensa em voltar a subir os juros e que devemos cuidar da vida normal.
Pode, já em outubro, ocorrer uma pequena queda? Pode! Mas não dar para cravar isso antes das eleições.
Talvez se, por exemplo, o Lula da Silva vencer no primeiro turno, o que, certamente, dará um refresco do mercado internacional ao Brasil.
Mas foi importante o Copom lembrar é que o ambiente externo mantém-se adverso e volátil, com contínuas revisões negativas para o crescimento das principais economias, em especial para a China. E uma maior persistência das pressões inflacionárias globais.
E no final, o Comitê fecha com a aquele discurso em que enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.
Mas o fato é que o recado está dado. Para de subir os juros, dá pista para o mercado pensar em 18 meses e aposta que os preços do petróleo vão continuar baixando, reduzindo a pressão para a inflação interna.
Até enquanto a eleição não se resolve.