A infestação de uma praga provocada por um inseto aparentemente inofensivo, porém capaz de provocar a morte de bezerros, diminuir a fertilidade das vacas e aumentar a incidência de abortos, desafia a atuação da Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária do Estado de Pernambuco (Adagro).
É preciso que a Adagro atue com mais força junto a produtores rurais e criadores de gado, no sentido de proibir o uso in natura da chamada cama aviária, conhecida como cama de frango ou cama de galinha, um adubo orgânico de baixo custo, utilizado principalmente por pequenos produtores, mas que termina induzindo a infestação da mosca, especialmente em pequenas propriedades.
Em Pernambuco, nove municípios estão enfrentando infestação da mosca-dos-estábulos: Barra de Guabiraba, Bonito, Sairé, Camocim de São Félix, Cortês, Amaraji, Chã Grande, São Joaquim e Ribeirão.
Em nota, a Adagro informou que realizou reuniões de orientação em todos os municípios onde há incidência de mosca-dos-estábulos e que implanta três bloqueios de fiscalização móvel por semana nas rodovias de acesso à Barra de Guabiraba e demais municípios.
O problema da cama aviária é que ela só deve ser usada depois de pequeno tratamento de modo a eliminar os ovos da mosca, impedindo a eclosão. Jogada diretamente no campo, ela de fato ajuda muito no crescimento do pasto.
Este ano, por força do período chuvoso mais forte o fenômeno ficou mais grave na região. Atualmente, existe inclusive uma lei estadual que proíbe o seu uso como adubo exatamente entre julho e outubro. Portanto, a infestação registrada é consequência da falta de fiscalização.
Além disso, como adubo, a cama aviária é muito boa para agricultores que produzem inhame, cará, banana, tomate e outras culturas. Entretanto, se chove muito, se criam as condições de eclosão do inseto, que uma vez adulto se alimenta de sangue disponível no gado que pasta na propriedade.
Ainda segundo a Adagro, suas equipes técnicas fiscalizam diariamente as áreas de onde há registro da mosca. Desde julho, início do plantio até agora, os trabalhos são intensificados.
Até agora, 30 propriedades foram vistoriadas e duas foram notificadas, pois em alguns casos os produtores que usam a cama são arrendatários e não permanecem nos locais de plantio.
Segundo uma instrução normativa (Nº 25, de Julho do ano de 2009), do Ministério da Agricultura, no uso da pastagem adubada com cama aviária, é necessário que o material seja totalmente incorporado ao solo e o pastoreio somente após 40 dias. E quando isso não acontece, a infestação da mosca é certa.
“O cheiro forte da cama de galinha é um atrativo para a mosca, sem falar os nutrientes, garantindo as condições ideais para a reprodução. Sem o ambiente adequado, a mosca coloca 400 ovos por postura, mas apenas de 5 a 10 vão eclodir. Já nas condições ideais, eclodem 200”, compara o pecuarista e coordenador do braço ambiental da União Nordestina da Agropecuária (UNA), João Tavares.
O presidente da Adagro, Paulo Roberto Lima, afirma que a agência vem ampliando a fiscalização com base nas denúncias dos pecuaristas, mas lembra que existe um trâmite burocrático da visita de um fiscal até a determinação da multa, que vai de R$ 1 mil a R$ 50 mil para quem descumprir o período de defeso.
Ele também se queixa de que a região é muito grande e tem aproximadamente 1,2 mil produtores. “Temos fiscais em Bonito, no Agreste, e estamos deslocando pessoal de Recife, Caruaru, Palmares e Garanhuns para atender a demanda” promete.
Uma das causas do problema é que nem todo produtor rural está disposto a esperar 40 dias para que a decomposição da cama aviária seja incorporada, e na falta de fiscalização, eles acabam aplicando o adubo diretamente no solo, e não raro, acabam sendo os mais prejudicados, pois a infestação acaba prejudicando seus animais.
Entretanto, as reclamações estão sendo feitas à Adagro pelos criadores de gado de corte e de leite que acabam tendo o seu rebanho atacado pela Stomoxys calcitrans. A mosca se alimenta do sangue dos animais, provocando perda de peso do gado.