João Campos mostra a Lula, legado que seu pai deixou com a Jeep Goiana e impacto em Belo Jardim com a Moura
Doze anos depois, João Campos levou para Lula um estudo aprofundado patrocinado pela Stellantis e pela Moura criado por Eduardo Campos.
Enquanto Paulo Câmara e Danilo Cabral foram tomar café da manhã no Hotel Atlante Plaza, quase escondidos para só depois postarem uma foto asséptica e inodora no Instagram ao lado de Lula e João Campos, o prefeito do Recife chegou para a conversa com o ex-presidente com um documento de 36 páginas, produzido pela Consultoria Ceplan, liderada pela economista Tânia Bacelar, com um pacote de informações sobre os “Principais Impactos dos Setores Automotivo e Autopeças no Estado de Pernambuco”.
Certamente, Lula não terá paciência para ler o estudo por completo. Mas para João Campos foi uma forma de prestar contas do gesto do então presidente para com seu pai e com Pernambuco a 15 dias de deixar o governo em, 2010, quando assinou protocolo de intenções para instalação da fábrica da Fiat, no Complexo Industrial Portuário de Suape.
A Fiat, como se sabe, virou FCA e depois Stellantis com a fusão da ítalo-americana Fiat Chrysler e do grupo francês PSA, dono das marcas Peugeot e Citroën. Assim como a planta saiu de Suape para Goiana quando Eduardo Campos mostrou ao então presidente da Fiat na América Latina, Cledorvino Belini o terreno às margens da BR-101 Norte.
Doze anos depois, João Campos levou para Lula um estudo aprofundado patrocinado pela Stellantis e pela Moura onde está, certamente, o maior bloco de informações sobre o que hoje se chama Polo Automotivo de Pernambuco onde já foram investidos R$ 13,9 bilhões (R$ 3,6 bilhões alocados ao longo dos últimos seis anos de operação), além dos investimentos realizados por um parque de fornecedores (supplier park) formado por 22 das 34 empresas instaladas no segmento no estado e que são fornecedoras de produtos e serviços ao grupo.
O documento deve ser tarefa de casa para as duas candidatas ao Governo de Pernambuco se, de fato, estiverem interessadas em abordar a questão da industrialização de Pernambuco.
Porque ele mostra como é importante ancorar uma nova estratégia de desenvolvimento industrial de Pernambuco ao que ele já tem como um importante ecossistema na área de TIC: o Porto Digital, situado no Recife, que conta com 350 empresas e mobiliza cerca de 15 mil empregados
Até porque o Polo Automotivo de Pernambuco foi responsável pela reconfiguração da sua pauta de comércio exterior através do escoamento da produção dos automóveis já que 2015 até 2021, a produção da Stellantis em solo pernambucano foi responsável por 5,7% das exportações brasileiras.
A professora Tânia Bacelar reconhece que presença dos complexos fabris da Stellantis e da Moura em Pernambuco são representativos do movimento de desconcentração territorial da indústria automotiva e de autopeças no país e ajudam na percepção de que o Nordeste vem melhorando, embora o peso da herança de desigualdades e pobreza ainda é muito forte, o que continua a justificar tratamento diferenciado de políticas públicas nacionais.
Faz sentido. Esse movimento dialoga com duas grandes mudanças ocorridas no Nordeste, nos anos mais recentes, no setor secundário de sua economia:
A reviravolta que a Região nordestina se dá na sua inserção no mercado de energia do país que começa a vivenciar, na sua porção mais desenvolvida, crises na oferta energética, e o avanço da sua indústria de transformação, ao mesmo tempo em que o Brasil assiste sua principal base indústria no eixo Sul Sudeste.
Até porque, como afirma o pesquisador, Clelio Campolina Diniz - em estudo recente para o Ipea - o Nordeste passou de 8,5%, em 2000, para 10,5% em 2018 seu peso no valor da transformação industrial do país.
E em Pernambuco a presença do complexo automotivo revolucionou a secular pauta de exportações de Pernambuco, desbancando os tradicionais produtos do complexo açucareiro. Com ele, o setor industrial cresceu paulatinamente de 27% em 2010 para 37% em 2019.
O estudo que João Campos entregou a Lula precisa mesmo ser lido e riscado tanto por Marilia Arraes e Raquel Lyra. Para se ter uma ideia de tal importância baste ver a evolução financeira das aquisições de insumos e serviços realizadas pelo Grupo Stellantis para a sua planta fabril de Goiana.
Entre 2015 e 2022, os R$ 91,6 bilhões representam 46% das aquisições realizadas pelo Grupo e destinadas às suas fábricas da América do Sul no mesmo período.
E desses, R$ 91,6 bilhões, aproximadamente 26,7% couberam ao atendimento via fornecedores alocados em Pernambuco, sendo 23,7% oriundos do parque de fornecedores em Goiana. Outros 33,1% vieram de fornecedores nacionais e 40,2% de componentes importados.
O espalhamento dessa atividade do Polo Automotivo não vai chegar apenas na geração de empregos já que 21% desses trabalhadores são residentes em Goiana e 50% são oriundos de outras cidades da sua Área de Influência que inclui Abreu e Lima, Condado, Igarassu, Paulista, Aliança, Olinda, Recife, outros municípios de PE e até João Pessoa.
Tem a ver com arrecadação de ICMS. Segundo dados da Secretaria da Fazenda de Pernambuco houve um aumento substancial de 28,4% ao ano no valor da arrecadação do ICMS oriundo do segmento de fabricação automotiva no estado entre 2015 e 2021, saltando de R$ 204 milhões para R$ 917 milhões.
A parcela de arrecadação relacionada ao polo automotivo (0,8% em 2015), alcançou participação de 3,8% no total arrecadado por Pernambuco em 2021.