DEBATE NA BAND: Economia fica de fora no embate entre Lula e Bolsonaro e não deve entrar nos próximos encontros
Lula tem enorme dificuldade em abordar a questão da Petrobras. Bolsonaro tem o mesmo sentimento quando trata da questão das vacinas
Caso o cidadão, eleitor, contribuinte ainda tenha a expectativa de ouvir propostas sobre economia brasileira pós-eleição dos dois candidatos à presidência da República no segundo turno, é bom reduzi-las ao mínimo, porque elas não devem acontecer.
E, sendo honesto, não é porque eles não apenas não desejam, mas porque ambos têm uma enorme dificuldade de abordar a questão a despeito de ambos já terem sido presidentes. Jair Bolsonaro e Lula da Silva não sabem como falar disso com um nível básico e compreensível para o eleitor, e isso ficou muito claro, neste domingo, quando tiveram uma hora para isso no debate da Band.
É importante pontuar. Lula, o PT e uma grande parte da sua militância ainda têm uma enorme dificuldade de se render aos fatos relacionados com a corrupção na Petrobras. Não conseguiram em quatro anos e não conseguirão nos próximos quatro. Seria mais fácil reconhecer o que aconteceu e tratar a questão daqui para frente, mas o ego ideológico os impede.
Da mesma forma que Jair Bolsonaro e seus apoiadores mais radicais não conseguem entender o que foi a tragédia da pandemia do covid-19 no Brasil e vão continuar negando, como deixaram de se vacinar. E que a decisão de priorizar a economia seria melhor porque, sem as vacinas, as pessoas iriam morrer mesmo.
Isso ficou claro na abordagem de Lula e de Bolsonaro, quando ambos demonstraram desconforto e responderam as questões formuladas por eles mesmos - onde, para Lula, a Operação Lava Jato deveria investigar e manter as empresas funcionando ainda que retirando os donos do comando.
Assim como Bolsonaro avalia que foi um equívoco dos governadores não respeitarem a União na abordagem da questão e que quando foi possível comprar vacinas, comprou mais de 500 milhões de doses.
Os dois estão errados, mas eles vão continuar pensando assim, independentemente de quem seja o vencedor em 30 de outubro.
Mas, voltando à questão da abordagem de temas econômicos. O que se viu no primeiro debate em que ambos puderam confrontar diretamente suas ideias é que daquelas mentes não vão sair, ao menos na campanha, ideias mais consistentes. E não se deve achar que é só intencional.
O problema é que Jair Bolsonaro acha que seu ministro Paulo Guedes fez tudo certo para manter o crescimento econômico, e que - não fosse a pandemia e a guerra da Ucrânia - o País iria ter um crescimento forte - o que, segundo ele, já está acontecendo com as medidas que o ministro tomou; razão pela qual se vencer as eleições, ele estará no comando por mais quatro anos.
Da mesma forma que Lula, ao avisar que não haverá privatização da Petrobras e de outras estatais, sinaliza que sua decisão nos dois governos de turbinar a empresa, a custa de endividamento e ampliação das atividades no espectro químico e de energia foi acertada, a despeito dos desvios que pessoas cometerem. E de insistir na ideia rudimentar que pode gerir a empresa, adotando o real como única referência, como se a Petrobras não operasse em dólar.
O problema é que Lula acha que o problema do extraordinário déficit nas contas públicas pode ser equacionado numa grande reunião com os 27 governadores, onde eles definirão o que querem do Governo Federal e que, em 2023, ao mandar o Orçamento Geral da União, sejam inseridas as demandas sociedades.
Lula disse no debate que vai replicar a nível federal o que o PT e vários partidos fizeram nas cidades em que governaram, o que rendeu boas imagens, belos discursos e pouca efetividade na hora da aplicação dos recursos. Imaginaremos o Brasil debatendo nacionalmente suas metas e as obras de governo que devem receber verba.
Da mesma forma que o problema de Bolsonaro, no debate, foi que não tem nada a ver com orçamento secreto e que essa foi apenas uma demonstração de que o Parlamento pode ser um parceiro do Executivo ao distribuir os recursos de acordo com a destinação dos deputados e senadores.
Tem. Embora o Congresso, através do centrão, possa ter adquirido essa competência sem que o presidente percebesse a tempo e travasse a ideia. E mesmo quando disse que não controla o OS, já que jamais repassaria recursos para os 13 deputados do PT que receberam parte dos recursos, não aborda a questão de frente.
Isso os condena a algumas certezas sobre como seria a economia sob Lula e sob Bolsonaro. Lula reafirmou a intenção de retomar política de atuação forte no Estado na economia, inclusive como gerador e emprego e numa ação firme para reduzir a carência de alimento de 33 milhões de pessoas e de ter uma presença internacional na questão ambiental trazendo contribuições internacionais. E de não fazer privatizações, especialmente a Petrobras.
E que Bolsonaro manterá suas ações atuais sem se preocupar muito com o extraordinário déficit que ele mesmo construiu no esforço da campanha eleitoral, acreditando que o Congresso encontrará formas de equacionar o problema sem furar o teto de gastos - entendendo que a Economia brasileira vai crescer com a ampliação do modelo liberal que Paulo Guedes diz adotar.
Questões importantes como taxas de juros, combate sustentado à inflação, política de investimentos e controle de gastos - assim a presença do Brasil na economia internacional e o futuro de nossas relações com a China e Estados Unidos ficaram para os próximos debates, se eles decidirem inclui-los por alguma conivência.
Mas sempre é bom lembrar:
Debates como o de ontem sevem mais para que o eleitor reafirme sua escolha, que confira o desempenho dos candidatos, especialmente a performance do que eles dizem na linguagem não verbal, como gestos dos olhos, mãos e presença diante do adversário - que mesmo o que pretendem fazer para melhorar as condições de vida da população a partir de decisões políticas relacionadas à economia.
Então, desejar que Lula e Bolsonaro, com as suas limitações sobre o tema, o abordem com profundidade, talvez seja um pouco demais dos analistas.
A disputa é pelo cargo de presidente da República e não de ministro da Economia, que ao menos até agora, Lula, ao contrário de Bolsonaro, não disse e não deve dizer até o final das eleições para desespero do mercado, que deseja "precificá-lo" o mais rápido possível.