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Fiepe fez debate para assegurar compromissos de candidatas com interesses da indústria

Mesmo com apoio do PSB, Marilia Arraes tentou impultar a Raquel Lyra um apoio disfarçado de Paulo Câmara para sua candidatura. O Governador foi criticado por ambas.

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Fernando Castilho

Publicado em 18/10/2022 às 18:40 | Atualizado em 18/10/2022 às 20:23
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Embora o foco do primeiro debate neste segundo turno das duas candidatas ao Governo de Pernambuco, Marília Arraes e Raquel Lyra, tenha sido a demarcação de posições no campo político, os objetivos da Federação das Indústrias de Pernambuco no debate promovido, nesta terça-feira (18), foi o de estabelecer compromissos das candidatas com as suas pautas econômicas.

O ambiente e o propósito do encontro foram de arrancar de ambas o estabelecimento de uma pauta que interessa ao setor e que está listada em dezenas de documentos que entidades como ela já produziram. E, em certa medida, resumem o descontentamento do setor empresarial, especialmente o local, com a falta de atenção do governador Paulo Câmara em oito anos.

As candidatas sabiam disso e, à sua maneira e objetivo distintos, aproveitaram a oportunidade para despejar uma tempestade de críticas ao governador de Pernambuco, agradando a platéia, servindo para tentar mostrar uma posição de total distanciamento dele e da gestão do PSB.

 

RENATO RAMOS/JC IMAGEM
DEBATE CNN/FIEPE DAS CANDIDATAS AO GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO: RAQUEL LIRA x MARÍLIA ARRAES. NA FOTO RAQUEL LIRA - RENATO RAMOS/JC IMAGEM

Claro que Marília Arraes tem uma posição desconfortável com o apoio do PSB à sua candidatura, expressa numa nota em que se comprometem a trabalhar para a eleição do ex-presidente Lula.

Mas isso não impediu que, no embate desta terça-feira, Marília tenha despejado um pacote de críticas que surpreendeu até mesmo Raquel Lyra - que veio para o encontro com o mesmo embrulho de acusações de modo que, se pode dizer, devido ao que ambas disseram sobre ele de forma acusatória, Paulo Câmara talvez tivesse ali um tempo para exercer o que nos debate chamamos de “direito de resposta”.

Ironias à parte, é importante não perder de vista o cenário desse primeiro embate das duas candidatas. A Fiepe é uma entidade empresarial. Representa a indústria que se queixa de falta de atenção do governo por anos.

O que ela pretendeu com o encontro foi saber o que pensam as duas candidatas e como, numa eventual eleição, a vencedora vai se relacionar com a instituição.

Isso ficou muito claro quando os dois representantes da entidade, Bruno Veloso (Sindicato do Cimento) e Felipe Coelho Filho (Sindicato de Produtos de Limpeza), perguntaram às candidatas suas propostas sobre qualificação profissional e geração de emprego.

E mais ainda quando colocaram no final do encontro um decálogo de perguntas que exigia delas um aceite às pautas que, junto com outras entidades, a Fiepe vem tratando há anos sem serem ouvidas por Paulo Câmara.

Raquel e Marília prometeram que vão ouvir e conversar com os empresários de Pernambuco, numa crítica a Paulo Câmara, que se desmancha em salamaleques às empresas de fora de Pernambuco e quase não visita quem é da terra.

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DEBATE CNN/FIEPE DAS CANDIDATAS AO GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO: RAQUEL LIRA x MARÍLIA ARRAES. - RENATO RAMOS/JC IMAGEM

Existem coisas que são consensuais, como a defesa pelos projetos do Arco Metropolitano e da ferrovia Transnordestina, que ambas se comprometeram. Mas estavam na lista pontos como a questão dos incentivos fiscais e o pedido de extinção do Fundo Estadual de Equilíbrio Fiscal, que cobra de grandes empresas do setor industrial as devoluções de 10% dos benefícios fiscais concedidos pelo Programa de Incentivo Fiscal do Estado (Prodepe).Criado em 2016, na crise do Governo Dilma e prorrogado até o final deste ano.

E do mecanismo de pagamento ICMS mínimo alterado, em 2019, que fixou valores mínimo de recolhimento anual do ICMS pelas empresas beneficiárias do Prodepe e que as empresas se queixam fortemente.

São temas bem específicos cujas respostas das candidatas mostraram visões diferentes, com Marília Arraes simplesmente dizendo que vai extinguir o mecanismo e pronto. E Raquel Lira também se comprometendo a rever o dispositivo e “extingui-lo quando for pessivel”, mas se dispondo a fazer contas e afirmando que vai brigar pela redução da carga tributária cobrada pelo estado de Pernambuco.

Evidentemente que pela condição de ex-prefeita, Raquel Lyra pôde dar respostas mais cuidadosas em relação a temas complexos como, por exemplo, a questão do gás natural para o Araripe.

Para Marília Arraes, não. Por que não criar um gasoduto? Mesmo sem levar em conta que a Copergás nunca chegou com o gás natural ali, devido ao grande espalhamento territorial das empresas de Gesso Calcinado, que inviabilizam um gasoduto.

Claro que é fácil para as duas se comprometerem com a questão da autonomia de Suape, uma conquista do governo Paulo Câmara depois de 10 anos de vigência de uma punição no governo Dilma.

Mas ainda que ambas tenham se comprometido com a reivindicação da redução das tarifas cobradas pelo Porto de Suape para a movimentação de contêineres, e que isso seja possível com a autonomia de Suape, a questão do Tecon Suape e do novo TUP da Maersk vai exigir uma grande negociação da nova governadora.

Para Marília Arraes, com a volta da autonomia, vamos ter melhores condições de competitividade. Com a volta da autonomia “sem dúvida devemos ter redução das tarifas e o Porto de Suape vai ser de novo, competitivo” disse. E Raquel Lyra na mesma linha diz que fará isso. Mas ambas sabem que não é uma coisa simples.

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DEBATE CNN/FIEPE DAS CANDIDATAS AO GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO: RAQUEL LIRA x MARÍLIA ARRAES. - RENATO RAMOS/JC IMAGEM

Finalmente tem uma questão importante relacionada às taxas de crescimento que a Fiepe pediu um compromisso para elevar os investimentos dos atuais 5,6% do orçamento geral do estado para os 13% que experimenta o Nordeste.

Raquel Lyra disse que isso é possível, pois já fez isso em Caruaru quando passou dos 3% para 13% da RCL de Caruaru e aumentou nível do investimento estatal.

Marília acredita que com isso estamos “mudando o ciclo político”. E disse estar disposta a bater na porta das empresas com a força da parceria, com o Governo Federal que lhe ajudaria na busca do apoio da iniciativa privada.

A reivindicação da Fiepe se apoia no fato que nos últimos anos o volume de investimentos de Pernambuco, de fato, tem se mantido na faixa dos 5,6%, considerada uma faixa de 10 anos. Só agora em 2021 e 2022 o Estado pode alocar mais dinheiro para novas obras.

Entretanto, ainda assim, essa determinação não está no orçamento de 2023 disponibilizado pela Secretaria de Planejamento na internet. No fundo, o documento apenas mantém as taxas dos últimos anos.

Isso abre, tanto para Marília quanto para Raquel, uma janela de oportunidades de afirmação, pois, devido ao equilíbrio das contas públicas, qualquer uma que seja eleita pode tomar emprestados R$ 3,45 bilhões ano que vem e mais R$ 4 bilhões em 2024.

Marília, pelo que deixou claro nesta teça-feira, sonha em repetir a dobradinha de Eduardo Campos, entre 2007 e 2010 com Lula. Raquel parece seguir um plano mais detalhado que, aliás, já divulgou.

De qualquer forma, a Fiepe agora tem um vídeo onde às duas candidatas se comprometem a não atrapalhar as empresas. O que já seria uma coisa boa se comparado aos oito anos de Paulo Câmara, segundo a entidade.

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