Movimentos sem lideranças conhecidas são berço de aproveitadores de ocasião
Em 2016 Jair Bolsonaro e André Janones.aproveitaram o vácuo de comunicação entre a categoria suas lideranças e o Governo e, pelo WhatsApp, se disseram represnetanets da categoria.
Quando em junho de 2016, um grupo de caminhoneiros autônomos começou uma paralisação do trânsito nas estradas federais, o Governo Michel Temer fez uma pergunta clássica: Quem lidera o movimento?
Ninguém sabia. Até porque não existia. E, naturalmente, a conversa foi procurar conversar com as entidades do setor.
O problema é que os “velhinhos” das entidades estavam a quilômetros de ter qualquer influência sobre a categoria e muito menos dos grevistas que nem os conheciam. E a Imprensa viu logo no primeiro dia que tinha liderança demais para caminhoneiro de menos.
O Brasil viveu duas semanas com o Governo atordoado tentando organizar uma solução sem que, efetivamente, soubesse quem falava em nome de quem.
E como sempre acontece surgiram os “apoiadores com voz” falando com extrema propriedade sobre uma categoria que não tinham qualquer conhecimento de sua realidade.
Michel Temer, finalmente, conseguiu parar a greve com um pacote de promessas tão absurdas como descolado da realidade das estradas.
SEM CAMINHÃO O BRASIL PARA
Saiu uma nova legislação tipo “aceita tudo por nada vai ser praticado”. E os lideres dos caminhoneiros saíram do movimento absolutamente convencidos de que tinham tornado real a célebre frase escrita nos para choque desde os anos 70 no Governo Ernesto Geisel: “Sem caminhão o Brasil para.”
Puro engano. O Brasil parou em 2016 porque havia gente o operando profissionalmente, e o movimento só obteve sucesso porque as transportadoras deixaram seus funcionários nas estradas e pressionaram o governo por valores maiores e financiamento de frota com juros baixos.
Mas, ao menos, dois personagens surgiram como apoiadores importantes? Jair Bolsonaro e André Janones. Eles aproveitaram o vácuo de comunicação entre a categoria suas lideranças e o Governo e, pelo WhatsApp, montaram uma rede de apoio que os tornou os canais diretos da categoria.
Jair Bolsonaro, como sabemos, virou presidente da República. André Janones virou o deputado mais votado em Minas Gerais sem, como Bolsonaro, nunca ter passado um sexta marcha num caminhão pesado já que nunca tinham tido qualquer contato com a categoria até a greve de 2016.
Janones e Bolsonaro são dois exemplos federais do que esse tipo de movimento acéfalo pode produzir. Mas não os únicos. E é possível nesse movimento de 2022 surjam outros aproveitadores se dizendo porta voz da categoria. Aliás, esse tipo de comportamento nem novo é.
Na década de 80, aqui no Recife, os motoristas de ônibus urbanos fizeram uma greve passando por cima do sindicato pelego liberado por anos pelo grupo de José Patrício. E nesse movimento surgiu a figura de um motorista que fazia bico no setor, Félix Roberto da Silva que falava bem, capturou o movimento e virou o porta voz da categoria.
Depois da greve, viu-se que Félix Roberto da Silva virou motorista da Prefeitura e depois tentou se eleger vereador sem sucesso e niunguém mais ouviu falar dele. José Patrício continuou no Sindicato dos Rodoviários até ser expulso numa eleição vencida pela oposição já nos anos 2010.
Janones e Bolsonaro são dois bons exemplos de como esse topo de movimento pode ser instrumentado. Mas não sã os únicos. Pelos estados teve muita gente teve votos com o discurso de eleger caminhoneiro.
No começo da campanha de 2022, ninguém entendeu muito como André Janones apareceu nas pesquisas de candidatos a presidente quando no Congresso era um deputado do baixo clero e sem cargos. Só depois que se soube que ele tinha milhões de seguidores nas redes sociais. Tinha uma forte presença nas redes sociais, assim como Bolsonaro.
BOLSA CAMINHONEIRO
Curiosamente, nem Janones nem Bolsonaro fizeram algo de importante para a categoria. E mesmo os R$ 5 mil da Bolsa Caminhoneiro não ajudam muito a quem tem um 4X6 porque não enche um tanque de óleo diesel.
De fato eles não poderiam mesmo.
O setor de transporte de cargas rodoviárias mudou completamente depois da greve de 2016, exatamente pelas medidas que Michel Temer para ajudar o setor, mas que não ajudaram aos caminhoneiros autônomos que em 2016 começaram a greve pedindo óleo diesel mais barato e frete mais rentável.
Até hoje eles não perceberam que foram usados pelos empresários e que simplesmente foram expulsos do negócio.
O primeiro grupo a mudar o conceito de transporte de cargas foi o das transportadoras que modernizam suas frotas e desenvolveram o conceito de operador logístico que contrata motorista com carteira assinada e não frete de autônomo.
A seguir, veio o setor de distribuição de combustíveis, que tem uma lógica diferente, pois seu frete paga a ida e a volta já que não pode misturar os combustíveis líquidos.
Finalmente, o agronegócio que - com receita em dólar e juros baixos do BNDES em real – decidiu comprou uma frota novinha e com o que há de mais moderno em termos de caminhão pesado.
No agronegócio transporte virou um novo negócio adjacente. A nova firma da fazenda cuida de levar o grão ao porto e trazer o fertilizante da próxima safra.
O aumento da carga, via contêiner e a cabotagem cuidaram do resto. O que sobrou para o autônomo virou residual.
Hoje, o caminhoneiro autônomo não transporta 10% do frete que trafega na estrada. Autônomos agora vivem de subcontratação ou frete urbano.
Eles simplesmente não tem como acessar as linhas de credito porque não tem renda para pagar a prestação do novo financiamento
Mas eles continuam apoiando Bolsonaro e Janones que se reelegeu fácil com ajuda de Lula a quem apoiou depois de abrir mão de sua candidatura.
Os caminhoneiros estão de novo fora das estradas. E desta vez apoiando Bolsonaro exigindo que o TSE dê vitoria a presidente que não lhe ajudou muito já que sem fretes eles sequer podem comprar caminhão novo.
E quando se observa como tanta gente fica parada nas estradas com seus caminhões se pode entender. Eles podem parar porque na verdade não tem o que transportar.
Nenhum deles é maluco de parar para liderar um desses bloqueios carregado uma carga que carregaram neste final de semana. Eles sabem que nunca mais vão pegar frete da transportadora. Porque quem está no movimento está sem frete. E, portanto, têm todo tempo do mundo.
Isso permite que o demais caminhoneiro empregado possa ficar presos nos bloqueios para desespero das transportadoras cada vez mais pressionadas por entregas mais rápidas.
A diferença entre os movimentos de 2016 e o de 2022 é um apoio velado da PRF, ou de parte de seus agentes, que não receberam ordens de travara no nascedouro qualquer bloqueio a começar pelo seu diretor geral que inventou uma fiscalização de rotina no dia da eleição.
E é claro a movimentação política numa reação infantil de achar que poderiam simplesmente mudar o resultado de uma eleição presidencial porque perderam a disputa.
O ruim de mais essa história é que, infelizmente, como sempre acontece, não tardará em aparecer um aproveitador de plantão se dizendo interlocutor da categoria.
Não há como o movimento ter sucesso nesse novo objetivo central. Mas eles vão criar uma série de problemas na cadeia de transporte que agora se chama operador logístico.