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Cartão de crédito vira porta de entrada da inadimplência e consumidor "esquece" dívida nas firmas de cobrança

Um dos motivos que fazem com que as pessoas "esqueçam" a dívida do cartão é uma frustração com as cobranças das taxas de juros para o uso do crédito rotativo

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Fernando Castilho

Publicado em 08/11/2022 às 15:00 | Atualizado em 08/11/2022 às 15:59
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O Brasil fechou o mês de setembro, segundo dados do Serasa, com 68,39 milhões de consumidores inscritos nos cadastros de inadimplentes. Desse total, 29,45% são dívidas ligadas apenas ao débito não pago do cartão de crédito, o que significa dizer que ao menos 20,14 milhões de pessoas estão na lista de negativados apontada pelas administradoras de cartões.

Curiosamente, na outra ponta, a renegociação de dívidas do cartão de crédito não aparece entre os setores que mais conseguem fazer algum tipo de renegociação.

Na verdade, os devedores do cartão nem aparecem entre os três setores que mais aceitam as propostas de um desconto de até 90%, o que significa dizer que o consumidor que deixou de pagar a fatura e a seguir teve o cartão suspenso simplesmente esquece a dívida.

Segundo dados do Serasa, os consumidores mais susceptíveis a fazer uma renegociação de suas dívidas são devedores das empresas de telecom, porque isso pode, em algum momento, impedir a assinatura de uma TV a cabo ou um contrato de telefonia móvel mensal e, ainda, resíduo de antigas assinaturas de empresas de telefonia fixa que ficam por anos no cadastro podem ser quitadas por valores abaixo de R$ 100. 

Em setembro, por exemplo, esses clientes foram responsáveis por 37,30% de todas as operações de renegociação.

A seguir vêm as dívidas securitizadas - que até incluem dívidas de cartões, mas estão relacionadas a contratos de crédito pessoal em bancos e financeiras que vendem esses créditos para empresas de recuperação de crédito, que vão atrás dos devedores, com 24,17%, e finalmente as dívidas relacionadas a compras no varejo, com 16,52%.

Dívidas específicas com cartões não aparecem como expressivas em termos de renegociação. O segmento de Utilities, que são as dívidas não pagas a concessionários de energia, gás natural e água vêm a seguir.

Os motivos para esse esquecimento são vários. Mas o maior deles é que o consumidor que ficou devendo no cartão não tem qualquer benefício além de retirar o nome da lista de negativados. Na maioria das vezes, as administradoras de cartão de crédito não reativam o crédito, de modo que o consumidor fica apenas com a prestação.

Isso não acontece, por exemplo, no comércio, no qual uma renegociação quase sempre permite que o consumidor volte a poder comprar fiado. Até porque as empresas de varejo, quando não vendem a dívida a empresas de recuperação de crédito, já consideram essa dívida como prejuízo nos seus balanços.

Outra coisa que faz com que as pessoas “esqueçam” a dívida do cartão é uma frustração com as cobranças das taxas de juros para o uso do crédito rotativo, cujas taxas são absurdamente altas. O cliente não vê como pagar e deixa a fatura vencer por meses, até que a dívida vai para o Serasa.

O devedor de cartão de crédito também não se interessa pela renegociação quando deixa de pagar integralmente a fatura: a conta de fato vira uma bola de neve.

Recentemente, o BC aprovou uma resolução que dá ao banco ou administradora de cartão o direito de automaticamente refinanciar a parte dívida não paga incorporando o saldo mais os juros ao débito do cliente.

Na prática, isso quer dizer que agora o banco não permite que o usuário pague a parcela mínima indefinidamente até que o limite fosse atingido. Esse procedimento está fazendo com que milhares de clientes abandonem o cartão na esperança de, anos depois, receber uma proposta de desconto.

Isso tem a ver com o perfil do cliente disposto a renegociar.

Apenas 19,21% dos usuários com idades entre 19 e 25 anos se mostram dispostos a renegociar suas dívidas. O número sobre para 31,27% entre os que têm 31 e 40 anos e 19,15% entre os que têm entre 41 e 60 anos.

Ou seja, devedores com idades entre 31 e 60 anos somam mais da metade (50,42%) do consumidores dispostos a renegociar suas dívidas.

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