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Com Raquel Lyra no Governo, João Campos precisa criar marca na Prefeitura para salvar o PSB em 2024

A partir de janeiro, a prefeitura do Recife é o último bastião do partido e João Campos seu líder mais forte

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Fernando Castilho

Publicado em 13/12/2022 às 8:00 | Atualizado em 13/12/2022 às 10:46
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Elevado à condição de principal liderança do PSB no Estado, após a constrangedora derrota do partido nas eleições para governador, quando o seu candidato sequer foi ao segundo turno, o prefeito João Campos precisa entender o seu papel na prefeitura do Recife. Sob pena de em 2024 enterrar, de vez, a sigla como força política em Pernambuco.

O problema é que, a julgar pelo seu comportamento em dois anos, o prefeito parece não ter percebido que para isso precisa cunhar uma imagem junto aos recifenses de um gestor ativo e presente enquanto trabalha para que sua equipe apresente projetos de vanguarda para a cidade no futuro.

Ativo nas redes sociais (já fez 4.500 postagens no Instagram), João tem mostrado muita viagem e atividades fora de Pernambuco, inclusive, no Grupo de Transição do futuro governo. Além de ter feito viagem internacional seguida de uma recesso pessoal.

Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem

O conjunto de selfies pode render clicks na suas redes sociais, mas no duro ecossistema da política presencial passa a imagem de que vai pouco ao gabinete no 9º andar do Palácio Rio Capibaribe. E que não acompanha de perto as obras que a prefeitura consegue tocar, a despeito da falta de projetos de maior impacto na cidade.

Com as novas tecnologias, gerir uma empresa não exige mais a presença física das 7 da manhã às 7 da noite no gabinete. O gestor pode, sem dificuldades, tocar e cobrar resultados e acompanhar projetos em tempo real.

Mas numa prefeitura é diferente. Precisa - para usar um conceito moderno ser Figital (físico e digital) - para que a equipe não desligue a câmera nas reuniões como maus alunos fazem nas aulas de Educação à Distância (EAD).

João Campos parece ter esquecido que foi eleito num esforço dramático do PSB para não perder a prefeitura que já sinalizou a fadiga de material do partido junto aos seus eleitores. Tanto que a ruptura final se deu no mês de outubro quando Danilo Cabral não foi ao segundo turno.

A partir de janeiro, com o governador Paulo Câmara entregando o cargo e - por consequência - as centenas de cargos comissionados, a prefeitura do Recife será o último bastião do partido e João Campos seu líder mais forte.

Mas a questão para ele é: depois de dois anos a serem completados aqui a exatos 18 dias, João Campos entregou o que aos recifenses?

Que marca conseguiu passar como gestor inovador que cria uma referência de gestão pública? E se acredita que já conseguiu isso, como ele avalia que essa “marca” já está se consolidando no imaginário de seus munícipes?

Rodrigo Fernandes/JC
João Campos e presidente da TIM Alberto Griselli em evento que marcou cobertura em 100% dos bairros da cidade - Rodrigo Fernandes/JC

Talvez alguém com mais experiência política precise lhe dizer que para o cidadão, eleitor e contribuinte prefeito bom é aquele que, primeiro limpa a cidade; depois ilumina a rua e as praças e, a seguir, inaugura obra nova no sistema viário já avisando que vai ter mais. Tem que passar a imagem de que está insatisfeito com os resultados.

Com o nível de degradação das capitais brasileiras, João Campos precisa mostrar soluções para segurança, centro urbano e ajuda efetiva à população de rua e abaixo da linha da pobreza. E isso exige presença do prefeito na rua em contato direto com a população, inclusive, ouvindo desaforos e críticas. Faz parte. Está no seu subsídio mensal para administrar a cidade.

Isso não quer dizer que não precise estar olhando para o futuro, conversando com os promotores das novas tecnologias nem que não pense numa cidade conectada. Felizmente ele está numa cidade que é referência nisso. Mas o seu desafio é exatamente conseguir ligar isso às necessidades na ponta.

Jarbas Vasconcelos e, mais recentemente Rui Costa e ACM Neto, na Bahia, cunharam a imagem de tocadores de obra antes mesmo de ter dinheiro para todos os projetos. O que os une é a determinação de todos os dias, pela manhã, está na rua inspecionando obras infernizando a vida de empreiteiro chegando sem avisar.

Prefeito não tem que ser bom com empreiteiro aceitando prazo. Aliás, o seu pai, Eduardo Campos, era conhecido por exigir entregas sempre antes do prazo. Até porque, como dizia, estava pagando a fatura no prazo.

João Campos tem dois anos para salvar sua gestão e o seu partido. Se não entrar forte com a marca de ter entregue uma cidade melhor que Geraldo Julio terá enormes dificuldades.

DIVULGAÇÃO PCR
O prefeito postando numa visita a obras de limpesa - DIVULGAÇÃO PCR

Se, ao menos, conseguir vender a imagem de que limpou e iluminou sua cidade já parte na frente uma vez que a referência era muito ruim. Se transformar Boa Viagem num showroom do Recife turístico também melhora. Se melhorar o centro antigo. E se, de fato, criar soluções de mobilidade no caótico trânsito da cidade, o que puder apresentar de obra nova também ajuda.

Mas vai ter que aprender a sonhar grande. E fazer sua equipe desenhar o amanhã, incluindo ele como o tocador desses projetos. E não se impressionar com o tratamento que Lula hoje lhe dispensa em homenagem ao seu pai.

Sabendo que Raquel Lyra não é Paulo Câmara, que só não lhe deu mais obra de impacto na cidade, porque a administração de Geraldo Julio foi tão medíocre que sequer teve capacidade de escrever os projetos.

Resumindo: Quando Raquel Lyra sentar na cadeira na segunda feira 2 de janeiro, João Campos terá exatos 643 dias para mostrar a que veio na prefeitura do Recife.

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João Campos visita obra do canal do Bongi - DIVULGAÇÃO PCR

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