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Lula salva Josué Gomes de ser "demitido" da Fiesp lhe entregando Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

Paulo Skaf liderando dezenas de pequenos sindicatos reflete o próprio estágio do setor industrial do Brasil.

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Fernando Castilho

Publicado em 14/12/2022 às 17:30 | Atualizado em 14/12/2022 às 17:40
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Josué Gomes, presidente da Fiesp é um caso raro de dirigente sindical empresarial que contraria sua base.

Ele foi eleito com 97% dos votos para mandato de 2022 a 2025 e, em menos de um ano, no cargo conseguiu a proeza de brigar com a maioria (86) dos seus 131 eleitores.

Isso não aconteceu por acaso. O ex-presidente da entidade, Paulo Skaf que a dirigiu por 17 anos começou a articular a oposição desde o dia em que Josué - que foi eleito em chapa única - assinou em nome da entidade uma carta “Em Defesa da Democracia e da Justiça”, liderada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e que teve apoio da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), que reúne 116 instituições financeiras.

Josué Gomes da Silva tem um mandato que se iniciou em 1º de janeiro de 2022 e irá até 31 de dezembro de 2025. Ou seja, menos de um ano após tomar posse ele corre o risco de ser “demitido” pelos seus ex-eleitores. Isso mesmo: em menos de um ano após a posse.

 

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Eleitores de Josué Gomes que hoje são contra ele no comando da entidade - FIESP DIVULGAÇÃO

O presidente da Fiesp resiste. Cercou-se de advogados para ganhar tempo na convocação de uma Assembléia Geral. Isso quer dizer que ainda que seja escolhido ministro do novo governo de Lula ele chega desprestigiado com sua própria classe. Imagina o constrangimento do ministro voltando à Fiesp de onde saiu a poucos dias de ser destituído do cargo?

É importante observar que, hoje, parece claro que Josué Gomes foi eleito mais como um nome de prestígio muito maior fora da Fiesp do que dentro de casa. Isso aplica porque Paulo Shak pôde articular rapidamente uma oposição capaz de propor algo inimaginável na ex toda poderosa entidade do setor industrial brasileiro.

Na verdade, a reação de Paulo Skaf liderando dezenas de pequenos sindicatos reflete o próprio estágio do setor industrial do Brasil que, em 15 anos, caiu da 9ª para a 14ª posição no mundo. E perdeu 28,7 mil empresas em seis anos quando caiu 15% nos últimos cinco - 2017/2021.

É um fenômeno brasileiro que São Paulo expõe. A participação da indústria de São Paulo no chamado Valor da Transformação Industrial (VTI) caiu de 43,8% para 37,5% em 2016 e continua perdendo posições.

A participação dos municípios do Grande ABC também diminuiu de 11,4% no PIB industrial para 7,2%. Na verdade, desde o 2º trimestre de 2008 (quando o setor manufatureiro teve peso de 16,8% no PIB, o maior dessa série histórica) tem havido queda gradual.

Nos primeiros três meses de 2021, chegou a 10,3%. Ou seja: Josué Gomes não representa mais um setor que literalmente mandava no Brasil quando Lula elegeu-se presidente pela primeira vez.

Isso não quer dizer que São Paulo tenha deixado de ser a mais base industrial brasileira, mas é que própria atividade está perdendo relevância pela obsolescência do setor. Aparece mais lá porque tem o maior parque industrial.

A ida de Josué Gomes para o novo MDIC é, na verdade, o pagamento de um apoio importante a Lula na época da campanha. Mas a própria posição de Josué Gomes na entidade que – teoricamente - deveria liderar como presidente o enfraquece para o cargo.

Se Lula não o convidasse para o cargo Josué Gomes poderia ser expulso da entidade que preside antes do primeiro ano de um mandato de quatro anos.

Isso é muito constrangedor não para Josué, mas para a própria Fiesp que está se livrando de um problema quando deveria ser prestigiada com a escolha de seu presidente para a pasta que a representa.

Uma coisa é como em 2003, Lula ter convidado José Alencar, seu pai para ser seu vice presidente como legitimo representante do setor industrial no Brasil . Outra bem diferente é o mesmo Lula, salvar o filho de uma destituição.

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Josué Gomes no dia da eleição com Paulo Skaf - FIESP DIVULGAÇÃO

Que tipo de prestígio, um ministro nessas condições chega a pasta? E o que o setor industrial vai lhe dar como crédito de apoio se chegou a cargo nessas condições?

Isso não quer dizer que Josué Gomes não possa ser um bom ministro. Pode e tem tudo para ser.

Mas uma coisa é Lula reunir a imprensa para anunciar ministros como fez na semana passada com os cinco primeiros. Outra bem diferente é um ministro ser escolhido ele próprio sair do gabinete de lula dizendo que foi convidado.

E outro, mais ainda, é escolher como ministro um presidente de federação de indústrias que, se demorar muito, pode chegar ao cargo já sem o mandato.

 

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