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GOVERNO RAQUEL LYRA: Briga de números de Priscila com Paulo Câmara é mais política do que financeira

O relatório do grupo de transição disse que o governo Paulo Câmara gastou muito no final do ano

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Fernando Castilho

Publicado em 28/12/2022 às 11:15 | Atualizado em 28/12/2022 às 20:13
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A menos de três dias da posse na nova governadora Raquel Lyra e da saída de Paulo Câmara, a busca por uma narrativa da situação financeira do Estado virou um tema central dos dois grupos, que mais confunde o cidadão, eleitor e contribuinte, que estão mais interessados no que o Governo Raquel Lyra vai fazer, do que pelo dinheiro que Paulo Câmara deixou no caixa.

Mas algumas coisas são importantes para não perder no debate de marcar posição.

A primeira é entender que, na segunda-feira, a nova secretaria da Fazenda não vai encontrar uma botija de ouro para que a governadora anuncie um pacote de investimentos. O que vai encontrar é um saldo na conta que pode se aproximar de R$ 3 bilhões, mas totalmente comprometido. Como qualquer trabalhador quando recebe o salário e sabe que tem uma lista de compromissos.

A planilha que o secretário da Fazenda, Décio Padilha, distribuiu é ilustrativa. Entrava na conta única do estado R$ 2,90 bilhões. Só que estava lá o dinheiro do FUNDEF, do custeio gratuidade transporte público, do custeio da secretaria da Saúde para combate à covid-19. Ou seja, está lá, mas tem destino.

A mesma coisa é quando o Governo afirma que deixará a disponibilidade de empréstimos de R$ 3,45 bilhões. Sabe aquele crédito pré-aprovado que o banco coloca na conta, tipo Cheque Especial, Crédito Pessoal e cartão de crédito? É a mesma coisa. Está ali, mas é preciso usar com cuidado. Aliás, para 2024, o crédito é de R$ 4 bilhões.

E tem aquela história de que tem um monte de contrato aprovado sem dotação orçamentária. Tem mesmo. Porque boa parte vai ser empenhada e paga na medida que o serviço for feito. Não tem isso de porque um contrato é de R$ 1 bilhão em quatro anos que o Governo tem que ter no caixa, parado, R$ 1 bilhão. Como a vida continua em 2023, o novo governo vai empenhar pagar desde que esteja no orçamento.

Mas tem coisas que estão muito claras quando o GT liderado pela vice-governadora, Priscila Krause, disse que o governo Paulo Câmara gastou muito no final do ano. Gastou mesmo. Se a gente pegar os investimentos de 2019 e comprar com 2022, dá para ver que o governador afundou o pé no acelerador.

Os minguados R$ 1,06 bilhão, de 2019, viraram R$ 4,37 bilhões este ano - dos quais o secretário Décio Padilha já pagou R$ 3,6 bilhões antes de comer o peru do Natal. E isso foi basicamente com o DER-PE e na secretaria de Infraestrutura.

GASTOU MAIS EM 2022

Mas o mesmo quadro de investimentos que junta o Governo e as empresas controladas mostra uma dificuldade de coisas novas. No quadro de investimentos, o que se tem é uma espécie de mais do mesmo por três anos, com alguma melhora em 2022, quando o governo resolveu pedir dinheiro emprestado. Mas também sem nada de novo, ou de impactado.

O resto fica por conta da narrativa e da falta de prática do governador em inaugurar obra, certamente porque nos últimos sete anos ele só cuidou mesmo foi de pagar os empréstimos feitos no Governo Eduardo Campos.

BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
Paulo Câmara: `"oposição responsável" a Raquel Lyra - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM

Mas tem coisas que preocupam pelo que anunciam para os próximos anos, como a questão de Fernando de Noronha, cujo aeroporto hoje só recebe avião pequeno da Azul. Noronha, em tese, deveria ser o showroom de Pernambuco. Deveria ser uma ilha de teste de inovação, energia limpa e convivência ambiental responsável.

Mas a pergunta é: Ela é isso hoje. Nem a pista de pouso foi atualizada.

Outra coisa complicada é o Sistema Prisional. É impressionante como Pernambuco não teve capacidade de captação de recursos federais para construir presídio. De fato, arrancar dinheiro do Fundo Penitenciário é difícil. Mas o Estado não buscou, enquanto a Polícia Judiciária prendia mais gente. No fundo, o Pacto pela Vida acabou enchendo o sistema de presos à espera de julgamento.

Então parece claro que Raquel está muito preocupada em avisar que o discurso de Paulo Câmara de que o estado está equilibrado não quer dizer dinheiro para ela gastar. Assim como Paulo Câmara está querendo valorizar o trabalho de saneamento do que encontrou em 2015, e que pagou calado em homenagem à memória de Eduardo Campos, que o escolheu para governar Pernambuco.

Pouca gente sabe, mas em agosto de 2019, Paulo Câmara tinha uma dívida equivalente a 52,45%. Este ano, ele chegou a 21,47%. Ou seja, grosso modo, pode-se dizer que Paulo Câmara governou para pagar dívida e salário de servidor público.

O governador só é injusto (como todo os demais) com Jair Bolsonaro e Paulo Guedes quando, em nome da emergência da covid-19, travou o reajuste dos servidores. Ainda não existem estudos sobre o impacto disso a nível nacional. Mas a maioria dos governadores reeleitos que viraram senadores foram salvos pela pandemia.

O caso de Pernambuco é um bom exemplo.

Em 2019, quando assumiu o governo, Paulo Câmara gastava 48,31% de receita líquida com pessoal. Este ano, está entregando a Raquel Lyra com 39,59%. Ora, isso não foi só performance do Estado, foi a trava de poder passar dois anos sem dar reajuste a servidor. Isso é uma situação que Raquel Lyra (como prefeita de Caruaru) também se beneficiou, não pode negar.

 

Janaína Pepeu/Divulgação
Raquel Lyra, dom Fernando Saburido e Priscila Krause - Janaína Pepeu/Divulgação

MARCAR LUGAR 

Então, como diz o colunista Igor Maciel, isso é passado. E o seu desafio é apontar para o futuro. Raquel Lyra, em 2023, assume com uma enorme expectativa porque precisa, pelo menos, repetir seu desempenho na Prefeitura de Caruaru.

O problema é que, como já se disse aqui, hoje ela não tem com que gastar aqueles R$ 3,45 bilhões que Paulo Câmara deixou, porque não tem projetos. No fundo, a governadora sabe que tem como pagar as contas do mês. O problema dela é dar uma geral na casa e contratar uma reforma para os próximos anos.

Mas ela não vai assumir dizendo que Paulo Câmara deixou a casa pobre, mas limpinha.

Não vai mesmo.

Silvna Victor - Sefaz
Decio Pasdilha apresenta os resultados do ano de 2022. - Silvna Victor - Sefaz

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