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Esqueçam Bolsonaro. Mourão isola radicais e se apresenta como líder dos que votaram para não eleger Lula

O general Mourão decidiu se apresentar, em rede nacional, avisando que junto com os "representantes eleitos farão dura oposição ao projeto progressista do governo de turno".

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Fernando Castilho

Publicado em 01/01/2023 às 8:00
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Em Política, se costuma se dizer, não existe vácuo de poder. Quem, por direito, não o ocupa o perde para que o conquista, de fato.

O general e senador eleito, Hamilton Mourão percebeu que seu lugar na História seria apagado depois de uma carreira de sucesso no Exército, ocupar a vice-presidência e ter servido ao país quando Jair Bolsonaro radicalizou sua gestão e se alinhou ao grupo de radicais na Internet e que, na derrota nas urnas, entraram numa aventura de ocupar a frente dos quartéis.

Profissional das Armas, tendo frequentado as escolas de alta patente e integrado o Alto Comando, o general de quatro estrelas resolveu agir. Candidatou-se e se elegeu senador pelo Rio Grande do Sul e avisou que, a partir de hoje, estará na oposição.

Quis a História que o mesmo Jair Bolsonaro que o escanteou no Governo e até o constrangeu em várias ocasiões acabasse lhe proporcionando a maior chance de sua carreira política ao se ausentar do país como o argumento de não passar a faixa presidencial a Lula.

Bobagem. Lula não precisa disso já que foi diplomado pelo TSE e será empossado pelo Congresso. O gesto da faixa é uma solenidade.

Bolsonaro foi quem não percebeu seu lugar na História. Ele ficou catatônico com a derrota e desrespeitou os 59 milhões de leitores que saíram de casa para tentar não eleger Lula.

Sem se colocar e sem se fixar como um líder dessas pessoas acabou virando o presidente dos (quem sabe?), 209 mil radicais que decidiram ocupar a frente dos quartéis. Esse grupo que, como muita boa vontade, pode ser medido com no máximo, 0,01% da população foi a opção de Bolsonaro esquecendo os que apostaram nele como líder da oposição

E foi vendo esse quadro o general Mourão decidiu se apresentar, em rede nacional, avisando que junto com os “representantes eleitos farão dura oposição ao projeto progressista do governo de turno, sem, contudo, promover oposição ao Brasil”.

Ele também lembrou que “a partir do dia 1º de janeiro de 2023 mudaremos de governo, mas não de regime!” e se colocou como político profissional (que agora é também de direito), ao dizer que vai manter o “caráter democrático, com Poderes equilibrados e harmônicos, alternância política pelo sufrágio universal, pessoal, intransferível, secreto, buscando sempre maior transparência e confiabilidade”.

Essa fala seria de Bolsonaro. Mas como ele preferiu sair do país, o vice-presidente cuidou de ocupar o espaço vazio, dizendo “Tranquilizemo-nos! Retornemos à normalidade da vida, aos nossos afazeres e ao concerto de nossos lares.”

Não antes sem falar para os seus colegas de farda ao cobrar duramente as “lideranças que deveriam tranquilizar e unir a nação em torno de um projeto de País deixaram com que o silêncio ou o protagonismo inoportuno e deletério criasse um clima de caos e de desagregação social”

Mourão e a quase totalidade das Forças Armadas está muito irritada com o silêncio e a falta de atitude de Jair Bolsonaro em silenciar o que, na realidade paralela dos grupos bolsonarista, foi interpretado como um sinal de “resistência” e de força motriz para “impedir” a posse de Lula.

Mourão expressou essa irritação ao dizer que de forma irresponsável essas lideranças “deixaram que as Forças Armadas de todos os brasileiros pagassem a conta, para alguns por inação e para outros por fomentar um pretenso golpe.”

Todo mundo (exceto os radicais na frente de quartéis) sabem que os militares nunca cogitaram colocar em risco sua história depois da vitória de Lula. Mas vai dizer isso a quem está disposto a colocar bomba em tanque de combustível?

O general Mourão - como os seus - está mesmo muito, mas muito, irritado com o patético espetáculo de gente orando, se ajoelhando e pensando que os militares darão um golpe e manterão Bolsonaro no poder.

E talvez por isso mesmo tenha se animado a manter pronunciamento formal que o presidente do Brasil sempre faz no dia 31 de dezembro para se apresentar e dar uma espécie de “ordem unida” na Oposição no Congresso que certamente não será conduzida por Flávio Bolsonaro, Carla Zambelli ou o Major Victor Hugo.

Se vai conseguir, a história dirá. Vai depender do próprio comportamento de Bolsonaro que está arranchado na casa de um ex-lutador de MMA nos Estados Unidos depois de ter saído pela porta dos fundos do Palácio da Alvorada e do poder.

Mas como diz a sabedoria popular e também disse o próprio rei Dom João VI, na saída do Brasil, ao filho Pedro. “se o Brasil se separar, antes seja para ti, que hás de me respeitar, do que para algum aventureiro."
Mourão que, ao contrário de Bolsonaro, leu bons livros de história, estratégia militar e de política, quer respeitar os votos de quem votou contra Lula no Congresso e começou a deixar isso claro na noite de 31 de dezembro de 2022.

Naturalmente sabendo que, em algum momento, Jair Bolsonaro vai querer reivindicar sua liderança.

Mas isso é outra história.

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