Tecnologia ajudou na reação contra terroristas, mas revela que grupos podem continuar atuando virtualmente
Os adversários da Democracia demonstraram uma grande capacidade de articulação e de operação, que vai exigir acompanhamento permanente para se antecipar a novas tentativas
Por uma estratégia digital dos apoiadores de Jair Bolsonaro, não basta atacar a Democracia, mas postar vídeos, fazer comentários e propagar conceitos absurdos.
Então, quando as cenas de invasão chegaram aos sites e plataformas de mídia internacionais, foi possível não apenas uma reação dos chefes dos poderes brasileiros atacados, mas o Brasil receber, em tempo real, o apoio de chefes de governo de países importantes, a começar por Emmanuel Macron, da França, e Joe Biden, dos Estados Unidos.
Essa é a parte boa da internet. O nível de degradação dos prédios do Palácio do Planalto, do Congresso e do STF permitiu que diversos chefes de estado ao redor do mundo fossem alertados e acompanhassem para manifestar sua solidariedade.
Não precisaram dos informes de seus diplomatas no Brasil, a crueza da destruição lhes permitiu dimensionar o ataque à Democracia brasileira e ajudar a protegê-la. Portanto, a transmissão em tempo real ajudou a fortalecer a Democracia.
A tecnologia, inclusive, a de reconhecimento facial, vai ajudar não apenas identificar os terroristas, mas a procurar os financiadores e agentes do estado que colaboraram com esse movimento. Com tecnologia, será possível identificar e punir os culpados.
Mas isso tem um lado ruim. Os adversários da Democracia demonstraram uma grande capacidade de articulação digital e de operação presencial que vai, a partir de agora, exigir acompanhamento permanente para se antecipar a novas tentativas.
Claro que a operação de Brasília foi uma construção de enormes e sucessivos equívocos. Não se pode apontar o dedo apenas para o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, e seu secretário de segurança demitido, Anderson Torres.
O governo federal, através dos ministérios envolvidos no evento, tiveram atuação inadequada, a começar pela decisão de confiar no cumprimento da Polícia Militar do DF; que, como se viu, foi claramente solidária aos terroristas, inclusive fazendo sua escolta para a Praça dos Três Poderes, onde perpetraram o crime de destruição dos três edifícios sede da Republica.
Pode-se dizer que a União ainda não assumiu todos os sistemas, dado às dificuldades de acesso na transição. Mas não é razoável acreditar que um grupo que se articulava na internet convocando uma manifestação com a presença de pessoas vindas em mais de 100 ônibus iria fazer um protesto pacifico.
A tecnologia, que mais uma vez virou instrumento de alerta, não serviu apenas para os grupos de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro demonstrarem sua capacidade de articulação, mas deveria servir para que o Governo da União Federal se antecipasse. Isso precisa ser lido como uma lição pelas autoridades brasileiras.
O chamado "gabinete do ódio" do governo anterior chocou o ovo de uma serpente que já pôs centenas de ovos daqui para frente. E é sobre isso que o governo precisa se debruçar.
O mundo conheceu ontem o que um grupo articulado digitalmente pode fazer a uma Democracia. Soube que essa mesma tecnologia pode ajudar a fortalecê-la através da solidariedade de outras nações. Mas terá que ser o próprio governo e a sociedade quem vai precisar estar mais vigilante.
O ataque deste domingo não era para derrubar a Democracia, era para tentar desmoralizá-la. Felizmente conseguimos rechaçá-lo. Mas isso nos ensina que teremos que estar muito mais atentos para os sinais dos grupos adversários.
A democracia brasileira resistiu ao ataque deste domingo. Mas não devemos ter ilusões ou acreditar que teremos uma oposição civilizada. Não é disso que estamos falando. Eles não são apenas opositores do governo eleito democraticamente em 2022.