Os pernambucanos que forneceram o cimento de Itaipu Binacional
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiou a Eletrobras para fazer o obra gigantesca
Nesta terça-feira (28), a hidrelétrica de Itaipu Binacional informou que pagou a última parcela e quitou a dívida da construção da usina. O valor é de US$ 115 milhões e ocorreu 50 anos após a celebração do Tratado entre Brasil e Paraguai para realização da maior obra de todo o século 20.
O valor corresponde a um montante de US$ 107 milhões ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e US$ 8 milhões à Eletrobras, por recursos que custearam estudos, construção e operação da usina, além de instalações auxiliares.
Mas o que pouca gente sabe é que o cimento que foi usado numa das maiores usinas hidrelétricas do mundo foi produzido por duas empresas de origem pernambucana e que, 50 anos depois, têm situações completamente distintas.
O Grupo Votorantim, depois de fornecer o cimento da nova hidrelétrica, virou um conglomerado de empresas hoje presente em dezenas de setores. O João Santos concentrou-se apenas em cimento e hoje vive uma situação dramática de recuperação judicial. Eles produziram o cimento para a obra. Com as marcas Nassau e Poty.
Mas na década de 70 as duas empresas mantinham, em Pernambuco, suas fábricas de cimento e, quando foi decidido que Brasil e Paraguai fariam a usina, também foi decidido que o seu primeiro presidente seria o coronel José Costa Cavalcanti, ex-ministro do Interior nos governos militares, que desenvolveu amizade com os empresários João Pereira Santos e José Ermírio de Moraes, que fora senador por Pernambucoe até 1971 que faleceu em 1973.
No embate da contratação de assinados mais de 300 contratos de financiamentos, com cerca de 70 credores (brasileiros, paraguaios e de outros países), com o aval do governo brasileiro, José Costa Cavalcanti - que dirigiu a empresa entre 1974 e 1985 - convocou - meses antes de tomar posse - os dois empresários ao Rio de Janeiro onde os recebeu com uma frase que resumia todo o autoritarismo vivido pelo Brasil.
"Convoquei os senhores aqui para uma missão de serviços ao Brasil", disse Costa a Santos e Moraes, que até então não sabiam para que tinham sido literalmente convocados.
Como assim? Perguntou João Santos. Costa você tem ideia da quantidade de cimento que essa obra vai exigir? Você acha que vamos conseguir produzir isso? Itaipu vai precisar de duas fabricas dedicadas. Quem vai financiar essas plantas?
Cavalcanti não se perturbou. “O BNDES. Já acertamos com o presidente Ernesto Geisel e vocês podem se habilitar”. E assim foi feito.
As obras de construção civil da Itaipu ficaram a cargo dos consórcios Unicon (brasileiro) e Conempa (paraguaio), enquanto as obras de montagem eletromecânica foram executadas pelos consórcios Itamon (brasileiro) e CIE (paraguaio).
Na década de 1970, e em pleno regime militar, Itaipu Binacional virou uma afirmação nacional e peça-chave no tabuleiro de segurança energética de ambos os países governados por duas ditaduras.
A usina tem 20 unidades geradoras e 14 mil MW de potência instalada, a megausina é líder mundial na geração de energia limpa e renovável e nos últimos 12 meses, foi responsável por 8,6% do suprimento de eletricidade do Brasil e 86,3% do Paraguai.
A obra ganha contornos de uma operação bélica. Em 1980, apenas o transporte de materiais para a Itaipu Binacional mobilizou 20.113 caminhões e 6.648 vagões ferroviários. Já a demanda por mão-de-obra provoca filas imensas nos centros de triagem dos consórcios.
No dia 5 de novembro de 1982, com o reservatório já formado, os presidentes do Brasil, João Figueiredo, e do Paraguai, Alfredo Stroessner, acionam o mecanismo que levanta automaticamente as 14 comportas do vertedouro, liberam a água represada do Rio Paraná e, assim, inauguram oficialmente a maior hidrelétrica do mundo, após mais de 50 mil horas de trabalho.
Ela quebrou no dia 17 de dezembro de 2016 pouco depois meia-noite o recorde mundial de geração de energia elétrica ao ultrapassar os 98,8 milhões de megawatts-hora (MWh) produzidos pela Usina Três Gargantas, na China, em 2014. Com o resultado, a empresa brasileiro-paraguaia reassumiu a liderança no setor.
Tudo em Itaipu é gigante. Este mês o vertedouro da usina de Itaipu, na região de Foz do Iguaçu (PR), chegou a escoar no sábado (18) o equivalente a sete vezes a vazão média das Cataratas do Iguaçu. O pico ocorreu entre 2h e 5h30, quando passaram pela calha esquerda, a única aberta, um total de 10 milhões e 450 mil de litros de água por segundo (10.450 m3/s).
No mesmo horário, a cota do Rio Paraná na estação hidrológica de Itaipu na Ponte da Amizade era de 109,54 metros acima do nível do mar. Já a vazão das Cataratas do Iguaçu estava em um milhão e 41 mil litros de água por segundo (1.041 m3/s), diante do volume médio de, 1.500 m3/s.