Num mar de 70 milhões de inadimplentes, Neurotech usa Inteligência Artificial para empresa oferecer crédito seguro
A Neurotech virou uma companhia que ajudara a viabilizar a transformação digital em grandes bancos brasileiros, evoluiu para o mercado segurador com incursões nas áreas de educação, indústria e até instituições governamentais
Há pouco mais 20 anos, quando palavras Inteligência Artificial, Machine Learning e Big Data circulavam apenas entre profissionais de Tecnologia da Informação, empresas procuraram no Porto Digital a recém criada Neurotech com demandas bem específicas como melhorar sua gestão de credito, de modo a obter redução de riscos; melhorar a chamada fidelização de clientes e, se possível, ter soluções para vendas digitais a partir do então novíssimo e-commerce.
Formada por engenheiros e desenvolvedores de software para o varejo, a empresa propôs usar Inteligência Artificial para tratar dados que estavam nos arquivos de créditos dessas empresas combinando-os com dados públicos que empresas e pessoas colocam na internet, às vezes sem perceber.
No fundo, o que as empresas queriam era uma plataforma que, a partir do histórico do cliente capturado além dos existente nos seus bancos de dados e, a partir dessas novas informações, ter um pouco mais de segurança na hora da concessão do crédito, portanto, reduzindo o risco.
Após duas décadas, a Neurotech virou uma companhia com uma plataforma de informações e soluções que ajudaram a viabilizar a transformação digital em grandes bancos brasileiros, evoluiu para o mercado segurador com incursões nas áreas de educação, indústria e até instituições governamentais onde a expressão Inteligência Artificial, de fato, faz todo sentido na hora de uma empresa dar crédito ao cliente.
Rodrigo Cunha, sócio fundador e Diretor de Produtos da companhia acompanhou de perto essa evolução e aposta que, em cenários como o atual aonde 70 milhões de pessoas estão com seus nomes negativados, empresas que puderem ter melhores informações sobre eles podem criar soluções diferenciadas e avançar com mais segurança.
Depois de 20 anos, o executivo da companha que agora pertence a B3 que a adquiriu por mais de R$ 500 milhões - se comprometendo a pagar mais R$ 500 milhões nos próximos anos pela performance da empresa em seus negócios - afirma que no fundo, o desafio é escolher entre os clientes considerados muito bons, bons, ruins e muito ruins quem tem potencial de gerar mais negócios com mais segurança.
Tudo é um processo de decisão a partir de boas informações, diz. “O que nós oferecemos é criar as condições para que o gestor de crédito tenha mais segurança”. A diferença é que hoje (2023) existem muitos mais dados disponíveis nas empresas, mais ainda nas diversas plataformas abertas e todos os dados públicos cujo processamento com inteligência artificial ajudam a formar um escore mais robusto.
Do comercio e do varejo, a Neutotech virou suporte importante ajudando hoje a mais 40 instituições financeiras a mudaram a forma de analisar, aprovar e conceder crédito. Ela expandiu a carteira de clientes ao ponto de 80% do mercado segurador já utilizam sua a Inteligência Artificial e agora mira o setor de Telecom.
A empresa iniciou 2023 tendo o setor como um de seus principais focos estratégicos para a geração de novos negócios por identificar possibilidade de concessão de crédito e o desenvolvimento de produtos customizados para seus clientes aproveitando os gigantescos bancos de dado que elas abrigam.
Faz sentido. Com a chegada do 5G, o país que tem de 260,2 milhões de acessos na telefonia móvel para uma população de 200 milhões de habitantes é um oceano a navegar com vento de calda. A empresa também está conversando com as algumas das maiores operadoras de planos de saúde do país com a finalidade de colher informações sobre os principais desafios dessas empresas. O setor tem 50 milhões de clientes.
O desafio está na demanda por crédito no Brasil tem tendência de queda. Em janeiro, por exemplo, o setor serviços caiu 28%, em janeiro, e o de bancos e financeiras -16%. Já o varejo apresentou comportamento distinto, com alta de 14%.
Os dados são do Índice Neurotech de Demanda por Crédito (INDC), indicador que mede mensalmente o número de solicitações de financiamentos nos segmentos de varejo, bancos e serviços mostra isso. Ano passado, em quase todos os meses do segundo semestre, a busca por financiamentos caiu e este movimento fez a demanda acumulada no período (julho a dezembro de 2022) ficar em -7%.
Para Rodrigo Cunha, o grande problema no Brasil continua sendo a falta de informações sobre o perfil do cliente. O que a Neurotech faz com Inteligência Artificial é ampliar as possibilidades de entregar mais informações para a decisão da empresa em dar crédito.
Ele lembra que há pouco anos as respostas que a IA oferecia levava semanas. Hoje ela trata muito mais dados e pode entregar em até uma hora para concluir seu processo de aprendizagem. E hoje dentro das exigências legais da proteção de dados do cidadão.
No mundo corporativo, o discurso charmoso de IA é ferramenta de negócio. Tem a ver com capacidade de pagamento, saber do momento de vida do cliente e quais os hábitos de consumo do cliente. Vai muito além do conceito binário de cliente com escore alto e o negativado nos birôs de crédito.
Rodrigo Cunha avalia que serão as empresas inovadoras quem mais vão performar entre saber como abordar o potencial de mercado do cliente muito, do bom e especialmente quele que está com dificuldades que um crédito específico e bem desenhado trás ele de volta ao mercado.
Isso tem a ver com a chamada gestão de limites que proporciona revisão das estratégias de atribuição e revisão de limite da carteira abrindo o leque para todo um pacote de soluções que consultando fontes mais robustas e aplicando as regras do negócio do cliente ajuda na tomada de decisão.
A chegada da B3 como acionista ampliou a convivência que já existia permitindo que a Bolsa amplie seus serviços como unidade de negócios. Para quem não está familiarizado com as atividades da empresa B3 não imagina que ela também atua com suporte mitigador de risco de crédito, registro das operações de seguro e até registro de recebíveis de cartões entre dezenas de serviços como formador de mercado.
Na verdade, lembra Rodrigo Cunha, a B3 é um colossal consumidor de informações sobre crédito até porque uma de suas funções é fornecer cenários para o fortalecimento do mercado. Ajudar as empresas a adquirirem informações que ajudem na definição de estratégias.
Embora para o grande público o uso de IA esteja muito associada à substituição do ser humano pelo computador, no mundo real ela está bem mais presente no dia a dia.
O que a Neutortech possibilita com oferta de soluções é permitir que coisas práticas como um simples empréstimo bancário ou contratação de um seguro de carro ou de vida possam ser feitas com mais segurança.