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Suíços sofrem com a perda do seu charmoso Credit Suisse para o UBS para quem muitos torciam o nariz

O UBS Group AG, como se sabe, anunciou neste domingo (19) a compra do Credit Suisse, por 3 bilhões de francos suíços, valor que corresponde a US$ 3,23 bilhões.

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Fernando Castilho

Publicado em 20/03/2023 às 15:50 | Atualizado em 20/03/2023 às 21:43
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Apenas três quarteirões separam, na cidade de Zürich, na Suíça, a sede do UBS AG, na Bahnhofstrasse 45, da sede do Credit Suisse, que fica na Paradeplatz 8, certamente, um dos endereços mais charmosos do mundo. Mas para os muito ricos da Europa, ter suas fortunas cuidadas pelo UBS não terá o mesmo charme que no Credit Suisse.

O problema está na origem das duas instituições. Importa pouco que a o UBS diga no seu portfólio que tenha sido fundado em 1862, como Bank in Winterthur. Para os suíços, o UBS que resultou da fusão da Union de Banques Suisses com a Société de Banque Suisse, em 1998, está a quilômetros da reputação do seu querido Credit Suisse, fundado pelo economista Alfred Escher, em 1856, com o nome alemão de Schweizerische Kreditanstalt (SKA). Para eles, o banco da Suíça é Credit Suisse.

Essa percepção pode explicar um pouco do sentimento de perdição que a Europa tem com a compra pelo UBS Group AG de uma empresa de serviços financeiros igualmente especializada na gestão de fortunas. Mesmo sendo banco de investimento, gestão e investimentos como seu concorrente, ele é é visto como um banco de segunda classe.

O UBS Group AG, como se sabe, anunciou neste domingo (19) a compra do Credit Suisse, por 3 bilhões de francos suíços, valor que corresponde a US$ 3,23 bilhões. Um dia após o anúncio, as ações do Credit desabaram 60% e a do UBS chegaram a cair 16% na manhã desta segunda-feira.

O negócio entre as duas empresas foi liderado pelo Departamento Federal Suíço de Finanças, o Banco Nacional Suíço e a FINMA (Autoridade Supervisora do Mercado Financeiro) que deu garantias e provisões de liquidez que superaram a oferta inicial do UBS de US$ 1 bilhão, considerado um acinte pelo integrantes do Credit Suisse que acusaram o concorrente de se aproveitar da situação.

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Sede do Credit Suisse em Zurique, na Suiça - DIVULGAÇÃO

O problema na incorporação do Credit Suisse não poupou todos os investidores de prejuízos. As primeiras contas falam que o total pode chegar a US$ 17,24 bilhões que virarem pó. Existem casos que papéis (Additional Tier 1 -AT1), foram contabilizados com valor zero por determinação das autoridades regulatórias.

Existem outras questões cruciantes. Importa pouco para quem perdeu tudo que a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, e o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, tenham elogiado os anúncios das autoridades suíças para apoiar a estabilidade financeira após o UBS ter chegado a um acordo para comprar o Credit Suisse.

Os árabes não estão gostando em nada do caminho tomado pelos suíços. Especialmente o príncipe herdeiro da Arábia Saudita Mohammed bin Salman. Através do seu banco, o Saudi National Bank (SNB), bin Salman aportou US$ 4 bilhões do Credit Suisse que agora foram reduzidas quase nada e que estão numa instituição que o príncipe não tem afinidade.

É claro que o príncipe sabia que 2008 o Credit Suisse, como muitos outros bancos globais, perdeu US$ 10 bilhões crise financeira do subprime nos Estados Unidos e que acompanhou o histórico de crises em que o banco suíço se envolveu.

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O príncipe herdeiro da Arábia Saudita Mohammed bin Salman - Divulgação

Mas quando o ano passado o banco anunciou um plano de reestruturação que envolve um corte de 15% em suas despesas, o herdeiro da Arábia Saudita viu uma oportunidade de comandar um banco cuja realeza era maior do que a de seu reino. Foi um erro, o Saudi National Bank (SNB) perdeu 1,1 bilhão de francos em menos de 15 semanas desde que concluiu a compra de sua participação no último aumento de capital do Credit Suisse.

Mas para os suíços a compra do Credit Suisse é algo que tem um valor bem mais intangível que apenas as fortunas que correram risco sério nas ultimas semanas. O UBS nunca será o que Credit Suisse representou a despeito de seu histórico de problemas.

Mas a vida segue o no final o que vale é que Ralph Hamers emergiu como o novo senhor do mercado no país da bandeira quadrada. E que venceu a disputa sobre Ulrich Koerner, o CEO do Credit Suisse que depois de herdar um banco quebrado que ele não conseguiu recuperar.

Até porque a história é sempre escrita pelos vencedores. Esse caso a história do Credit Suisse a partir agora será uma linha no perfil do UBS no seu novo portfólio. Embora os investidores sempre possa levar seu dinheiro para o Goldman Sachs, Bank of America, Deutsche Bank, Citigroup, Morgan Stanley, JPMorgan Chase e Barclays.

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