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Lula sofre com etarismo do mercado financeiro, mas seu entorno não o ajuda a melhorar imagem

Lula se acha credor das condições econômicas que seu governo deu aos bancos. E não entende como essa instituição chamada mercado o rejeita.

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Fernando Castilho

Publicado em 21/03/2023 às 14:20 | Atualizado em 21/03/2023 às 14:29
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No mercado financeiro, o investidor sênior só é cultuado quando aposta seu dinheiro na vanguarda da inovação. Faz parte do jogo. Quando o líder do segmento dos muito ricos desafia os "meninos" em suas carreiras, e cobra resultados de idéias novas, todos os executivos de finanças passam a respeitá-lo e, a seguir, a idolatralo.

Mas no geral, os jovens gestores ávidos por melhorar seu ranking entre seus pares não ouvem muito bem as recomendações dos mais velhos. Faz parte do jogo. No mundo corporativo é preciso ser mais agressivo e criativo mesmo arriscando o dinheiro dos outros.

O presidente Lula sofre com um enorme preconceito - pela sua idade - por parte dos gestores de fundos e operadores do mercado. Eles têm na sua memória recente, todo o escândalo da Lava Jato e não aceitam que, pelo comportamento do STF, o presidente tenha sido reabilitado.

Faz parte do jogo. O STF é também um tribunal político. E sabia muito bem o que aconteceria, por extensão, quando a tese de suspeição de Sérgio Moro fosse aplicada aos demais processos. Mas, na visão da Corte isso era o justo.

O problema é como Lula, seus advogados e o PT leram isso. E como ele se colocou diante da história. E agora como se coloca no seu terceiro governo. Especialmente em relação aos bancos.

Lula se acha credor das condições econômicas que seu governo deu aos bancos. E não entende como essa instituição chamada mercado agora o rejeita.

Como assim? Os bancos nunca ganharam tanto dinheiro como nos meus governos esbraveja irado. Não é mais verdade. Os bancos nunca ganharam tanto dinheiro como no governo Bolsonaro que entregou a economia à lógica de um banqueiro.

O problema do presidente é que ele não quer apostar na vanguarda da inovação.  E, de certa forma, o seu (novo?) entorno não lhe ajuda.

Como disse certa vez o saudoso colunista social do Jornal do Commercio, Orismar Rodrigues a uma socialite que insista em querer “acontecer” no mundo dos famosos: Amiga, você precisa de uma amiga sincera que lhe enquadre no mundo.

Lula nunca precisou tanto de um amigo sincero que o enquadre no mundo corporativo. Certo, é verdade. Mas aos 77 anos, que amigo Lula teria para lhe dizer que está errado? Os que poderiam, e teriam, condições de serem ouvidos já não estão entre nós. E o presidente, como acontece com todo ser humano, não faz amizades nesse nível depois de 60 anos. Isso exige um desprendimento de querer entender - sem preconceitos e uma reduzida taxa de certeza – os mais jovens e se aproveitar do frescor de suas "arrogâncias" da juventude.

O problema do presidente é que ele continua fiel aos seus amigos que já passaram nos 60 anos. Isso não quer dizer que eles não tenham se reciclado e boa parte tenham uma visão de mundo que dialoga com Metaverso e Inteligência Artificial. Eles fazem parte da história de Lula. Mas no geral são pessoas que olham apenas para o legado do presidente entre 2003 e 2010 e acreditam que o “Estado da Arte” aqueles oito anos ainda representa o novo.

Isso explica, por exemplo, a idéia de relançar todos os programas que ele criou. Isso não quer dizer que Lula devesse esquecer essas marcas e apresentasse algo novo. No fundo, aqueles projetos foram tão revolucionários que no inconsciente coletivo ainda são mesmo o que há de melhor em termos de ação social. É verdade. Mas onde está o novo?

É isso que o mercado financeiro cobra do presidente. Num fundo, a irritação do presidente e suas resistências aos "meninos" do mundo corporativo só ajudam a cristalizar esse etarismo. Lula simplesmente não os está desafiando. Não os provoca e nem se apresenta disposto a bancar a vanguarda da inovação. Na verdade nem sabe quem são.

Uma leitura atenta das suas falas e dos entendimentos replicado pelos seus ministros nos últimos meses é possível perceber que não há rigorosamente nada de novo a ser proposto. Virou uma repetição não criativa dos conceitos que Lula cunhou no passado e que deseja serem validados no mundo real de 2023.

Infelizmente não é assim que a banda (agora) toca. O Brasil não é o centro do mundo e Lula não é a maior liderança global, embora acredite que um dia possa ser. Na verdade, o presidente vem estabelecendo tantas limitações para sua equipe econômica que ela está ficando sem margem para inovar. Como ser disrruptiva com tantos preconceitos?

O etarismo é uma coisa abominável. Pune as pessoas apenas por terem nascido antes sem se preocupar com sua jornada até chegarem ao lugar onde é confrontada com o mais novos. Mas ele também proporciona desafios aos mais jovens pelos mais velhos. Permite o que chamamos de inovação da vanguarda que, naturalmente, é o que move os jovens.

Lula não tem como ignorar o mercado. Não está em condições disso como presidente de um país como o tamanho e a economia do Brasil. E não lhe ajudará muito continuar a ouvir apenas as propostas dos que se esforçam para dizer que pensam como ele. Não fará diferente se insistir em apenas refazer o que, no passado, deu certo.

Em 2010, Mark Zuckerberg informou que o Facebook se tornou a maior rede social do planeta ultrapassado a marca de meio bilhão de usuários ativos. O Facebook, como sabe, perdeu essa hegemonia para o TikTok que, em 2022, chegou aos 5 bilhões de usuários de internet em todo o mundo e tem 20,83% do serviço de compartilhamento de vídeos da Bytedance.

E mundo corporativo agora fala mais em aplicação direta de recursos de Inteligência Artificial (IA), Machine Learning, Computação na Nuvem e 5G que do Facebook. Lula precisa usar sua experiência de vida para desafiar sua equipe a usar essa nova realidade da tecnologia para seus programas sociais. E transformar seu terceiro governo num período 3.0 de gestão.

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