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Lula volta defender tese de que Lava Jato foi para empreiteiras brasileiras saírem do mercado internacional

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Fernando Castilho

Publicado em 22/03/2023 às 15:40 | Atualizado em 22/03/2023 às 15:48
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Pouca gente lembra, mas no mês de abril de 2003, quando o governo Lula comemorava 100 dias, o então poderoso chefe da Casa Civil, José Dirceu convidou para uma reunião no seu gabinete, os presidentes das construtoras Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, UTC Engenharia, Engevix e IESA (Inepar) Óleo e Gás.

Com seu tom de voz conhecido, Dirceu informou aos senhores donos de mais de 80% de todos os contratos de obras públicas que no novo governo não teriam novas obras, mas a oportunidade de servir ao Brasil passando a atuar em novos negócios que incluíam desde concessões, PPP e obras e serviços de infra-estrutura. 

O desafio incluía a construção de super navios para a Transpetro, a subsidiária da Petrobras que iria renovar frota coma aquisição de até 40 novas embarcações e mais 10 plataformas de petróleo que deveriam ter altos índices de conteúdo nacional.

Ele também informou que o BNDES seria o veículo de acesso ao crédito para essas novas atividades que por sua vez seria abastecido por aportes da União para financiar a plantas desses novos empreendimentos. O governo estava disposto a tomar crédito no mercado e repassar ao banco para que emprestasse com taxas subsidiadas. A União transferiu nos anos seguintes ao BNDES R$ 500 bilhões. 

Os empresários saíram meio desconfiados da proposta. Afinal o negócio de eles era prestar serviços e não se envolver em atividades com as quais não tinham experiência.

O que se seguiu aquela conversa de abril de 2003 deu origem a uma nova rodada da estratégia do governo brasileiro em formar campões nacionais que como afirmavam seus defensores fez a Coréia do Sul gerar conglomerados como Samsung e LG, na Noruega com a Nokia e mais recentemente na China onde o governo apoiou fortemente seus investidores escolhidos.

Nasceram as empresas de construção navios, de plataformas, de aeroporto e portos além de concessionárias de serviços. Na ponta do governo a Petrobras se encarregou de ser a grande contratante de serviços e de investimentos como a Refinaria Abreu e Lima e Pólo Petroquímico do Rio de Janeiro.

O resultado desse movimento a história passou a registrar como o Escândalo da Operação Lava Jato que obrigou a Petrobras reconhecer prejuízos de R$ 14,8 bilhões de prejuízo em 2016 e no final receber perto de R$ 6,8 bilhões como ressarcimento acordo de leniência da empresa. A empresa também listou além dessas construtoras outras 15 companhias com quem não faria mais negócios.

Apesar de toda documentação, dos processos e documentação e acordo de leniência assinados por ela, o PT e o próprio presidente Lula nunca reconheceram os desvios.

E nesta terça-feira, agora na condição de presidente eleito para um terceiro mandato, Lula voltou a defender a tese construida pelo seu partido de que tudo que, a nível federal, a 13ª Vara de Curitiba, a 7ª Vara do Rio de Janeiro e da 6ª Vara de São Paulo fêz parte de um processo organizado para excluir as construtoras brasileiras do mercado internacional.

Nesta terça-feira (21) numa entrevista ao Portal 247, Lula voltou à tese afirmando ter “consciência de que a Lava Jato fazia parte de uma mancomunação entre o Ministério Público brasileiro, a Polícia Federal brasileira e a Justiça americana, o Departamento de Justiça". Na verdade, ele confundiu o Poder Judiciário e o órgão que equivale ao Ministério da Justiça nos EUA.

A interpretação do PT sobre isso é antiga e até motivou o livro “Operação Lava Jato: crime, devastação econômica e perseguição política”, organizado por Fausto Augusto Jr, José Sérgio Gabrielli e Antonio Alonso Jr que acolhe texto do filósofo amaericano Noam Chomsky, para quem o grande mérito do estudo é revelar a história oculta de como um programa que na aparência visava acabar com a corrupção foi convertido em uma arma de guerra de classes internacional, com graves consequências para o Brasil.

A tese de uma conspiração americana vem sendo difundida noutros documentos dos partidos de esquerda e das centrais sindicais que apóiam o atual governo desde que começaram as demissões em massas das empreiteiras algumas delas até mudando de nome como a Odebrecht que virou Novonor.

Mas o que impressiona é que o presidente fale disso numa entrevista a um órgão de imprensa. A ser verdade a tese, o governo brasileiro deveria formalizar uma denúncia formal em organismos internacionais de concorrência o que não aconteceu.

Também soa inusitado depois que o próprio Lula tenha visitado os Estados Unidos no mês de fevereiro sendo recebido por Joe Biden com atenção especial. Até porque os Estado Unidos foi um dos primeiros países a reagir conta as manifestações de 8 de janeiro e apoiado firmemente o governo do presidente Lula que havia tomado pose uma semana antes.

Pode ser, Mas também pode ser que Lula esteja explicitando sua conhecida animosidade antiamericana que remonta ao discurso tradicional da esquerda brasileira ainda nos tempos da fundação do PT.

E para complicar, neste domingo Lula está levando à China, a maior comitiva que o governo do Brasil já reuniu para visitar um país com quase 300 integrantes entre convidados e empresários que estarão naquele país acompanhando um chefe de Estado.

E tudo isso exatamente quando Estados Unidos e China vivem um dos seus momentos de maior tensão em função da guerra da Rússia contra a Ucrânia. O que, naturalmente, abre espaço para interpretações se ao criticar os Estados Unidos o presidente não estaria querendo passar uma mensagem simpática ao líder chinês Xi Jinping com quem vai se encontrar.

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