Copom afirma independência e avisa que sem ação do governo Selic pode até subir
O governo começou uma campanha tão violenta contra a figura do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto que o Copom não tinha como reduzir as taxas sem se desmoralizar.
Ben Bradlee, que era editor do 'Washington Post' quando irrompeu o caso Watergate em junho de 1972, era conhecido, entre os colegas, por ter provocado a premência de John Edgar Hoover no comando Federal Bureau of Investigation por ter "antecipado" sua demissão pelo presidente Lyndon Johnson o que não aconteceu. DEpois disse, o texano Jonson sempre que o encontrava na sala de imprensa da Casa Branca tirava uma onda com ele. O Hoover só está lá porque você o demitiu antes de mim.
O fato serve para ilustrar o resultado da feroz reação do governo Lula com a manutenção, por unanimidade, da taxa basica de juros em 13,75% na tarde desta quarta-feira. “Retuitando” Lula - para usar uma linguagem de rede social - todo o governo começou uma campanha tão violenta contra a figura do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto que o Copom não tinha como reduzir as taxas para não se desmoralizar e, com isso, a própria lei de autonomia da instituição aprovada no Governo Bolsonaro.
O presidente começou uma campanha contra Roberto Campos Neto que o tornou conhecido e, automaticamente, o colocou na condição de inimigo número um da nova administração o que, naturalmente, dividiu o debate que passou a ser personalizado. A reação do governo que usa palavras duras acabou dando a reunião um caráter plebiscitário de ou baixa a Selic ou você é um sabotador a serviço do rentismo e contra o governo Lula.
O problema é que a linguagem agressiva do Governo e centrada em Campos Neto acaba não encontra muita consistência quando os agentes econômicos procuram um sinal de que o governo pretende ter algum tipo de controle das contas públicas.
Existe uma percepção de que “no grito” não dá. O governo precisa fazer um gesto. Mas infelizmente não existe nada além do discurso político. Esse tipo de pressão não funciona para o mercado e o recado já havia sido dito na última segunda-feira quando saiu a previsão do Boletim Focus de que a inflação de 6%. As instituições sindicais e empresariais estão no papel delas de reclamar o diabo.
O fato é que Lula subiu demais o tom de modo que inviabilizou todo o esforço da equipe econômica em mostrar que está trabalhando.
Para completar, o presidente cedeu a pressão da ala radical do PT e adiou para abril a definição da questão da ancora fiscal. Então o que se pergunta é: porque motivo o BC deveria baixar a taxa se o presidente não dá força ao seu ministro da Fazenda?
Na verdade, Fernando Haddad perdeu o primeiro rouns da luta pela ancora fiscal. A desculpa da viagem só serve para confirar a força de Rui Costa.
É importante deixar claro. Uma taxa real de 8,15% é muito alta. Mas que sinais positivos o governo emite?
A nota do BC afirma que o ambiente externo se deteriorou. O Banco Central Americano está subindo novamente a sua taxa básica. E diz que as economias centrais segue avançando em trajetória contracionista, que em bom português quer dizer em queda.
O Copom informa na sua língua hermética que optou novamente por dar ênfase ao horizonte de seis trimestres à frente, referente ao terceiro trimestre de 2024. Ou seja, que olha para frente para sustentar sua decisão. E diz que vê sinais de desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional que fixa a meta de inflação em 3,45%.a de baixa depois que ele divulgar a ata.
Esse é um documento que dá um sinal para o futuro. Ali é que residem as esperanças das equipes do Governo mais racional. O que não impede a reação furiosa de personagens como Rio Costa que disse que presta um “desserviço” à população brasileira ao manter em 13,75%.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa faz política. Está na sua função de emular o que prensa o governo. Mas sua critica fica apenas nisso. Até porque Rui Costa foi um dos responsáveis pelo atraso da divulgação da âncora fiscal.
Mas a verdade é que o sofrimento vau durar pelo menos mais 45 dias e, até lá, os banqueiros vão poder (como Lyndon Johnson disse a Ben Bradlee) dizer a Fernando Haddad com que já conversam numa boa: A Selic poderia ter baixado. Se voces não fizessem tanto barulho.