Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

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Por Fernando Castilho
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Otaviano Canuto, ex- vice-presidente do Banco Mundial e FMI, sugere que Dilma não comande banco do Brics 'com o ego'

Como todos os países têm peso igual, inevitavelmente lá existem feudos e há as disputas de poder

Fernando Castilho
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Publicado em 28/03/2023 às 16:00 | Atualizado em 28/03/2023 às 17:13
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O ex-diretor executivo e vice-presidente do Banco Mundial, diretor executivo do FMI, Otaviano Canuto. - FOTO: DIVULGAÇÃO

O ex-diretor executivo e vice-presidente do Banco Mundial, além de diretor executivo do FMI, Otaviano Canuto, disse nesta terça-feira (28) no Passando a Limpo, da Rádio Jornal, que a ex-presidente Dilma Rousseff tem a experiência gerencial que vai lhe permitir enfrentar os desafios que estarão colocados para comando do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), chamado de o banco dos BRICS.

Um deles é a presença de um dos sócios majoritários com 20% do capital (Rússia) estar sofrendo as sanções decorrentes do conflito com a Ucrânia. Ele lembrou que o banco suspendeu operações com o país que é um dos cinco acionistas, o que, é claro, trouxe consequências para a instituição. Até porque como todos têm peso igual, inevitavelmente você tem lá os feudos e lá há as disputas de poder - o que ela vai ter que ter personalidade para arbitrar, advertiu.

Canuto, que também foi vice-presidente do BID, tendo 16 anos na gestão de organismos multilaterais, disse que a expectativa é de que a ex-presidente tenha essa personalidade para tocar a instituição conciliando, na medida do possível, os interesses diferenciados dos cinco grandes acionistas, inclusive vários países que gostariam de entrar no banco. Este é o caso da Arábia Saudita que pleiteia entrar no grupo, em breve.

“Então você tem tanta gente batendo na porta. É porque tem um potencial de expansão é razoável o que confrontos natureza geopolíticas sejam devidamente tratados”, reconheceu o executivo hoje professor da Universidade de Columbia.

Apesar de acreditar que a ex-presidente terá sucesso, Otaviano Canuto disse que, evidentemente, a ex-presidente pode trazer sua experiência. “Mas sempre se aprende em todas as experiências de gestão com sucesso com as dificuldades. E ela, pelo menos, vai ter um bom quadro de formações locais que podem ajudá-la”, disse.

Entretanto, o executivo faz uma advertência sobre os caminhos para o sucesso de sua gestão. “Os casos de maior sucesso que encontrei foram os em que justamente o presidente teve o ego no lugar. Nas instituições em que trabalhei, os problemas aconteceram quando o presidente tinha um ego tão grande que entrou em conflito com as equipes, disse Canuto.

"Pelo que eu conheço a Dilma - quando operei com ela no governo no ministério da Fazenda e ela, a ministra das Minas e Energia - vi, concretamente, sua competência técnica e vi que ela pôde fazer um excelente trabalho no NBD. Mas eu diria que numa instituição como o NBD ela deve particularmente saber ouvir. Se souber, digamos assim, criará a sua própria opinião, mas olhando os diversos pontos de vista terá sucesso".

Para o ex-diretor executivo do Banco Mundial, o fato de Dilma completar o mandato que está com o Brasil lhe dá um tempo curto no sentido de fazer uma reformulação muito grande no Modus Operandi da instituição. Na verdade, não vai sobrar muito tempo para isso. Então, não verá provavelmente a implementação disso porque essas coisas tomam tempo e dão trabalho, revelou.

O economista falou ainda sobre as dificuldades de implantarem seus projetos nos diversos países. Bancos como o Banco Mundial sofrem com isso, ainda mais uma instituição nova como o NDB.

"Pelo que eu sei, pelo que eu acompanho o NBD hoje tem as suas operações muito concentradas em dois países, a própria China – que faz isso, inclusive, para alavancar o banco e não porque precise - e a Índia ainda que é um grande absorvedor de créditos dessas instituições multilaterais operando numa magnitude muito grande então a Índia a China tem concentrado tem concentrado a absorção de recursos lá do MDB.

Para Canuto, a presença de Dilma Rousseff pode ajudar a melhorar esse quadro, inclusive com projetos com outras instituições.

“Eu tive experiência no Banco Mundial de trabalhar, assistir, acompanhar e monitorar o trabalho o conjunto da instituição com o Banco Chinês num projeto de infra-estrutura asiática nas Filipinas. Eu tinha trabalhado pelo Banco Mundial num projeto com as palafitas aí em Salvador e vi que o trabalho foi similar, em Manila, a capital das Filipinas, ao desenvolvido Salvador, no Brasil”, disse Canuto.

Otaviano Canuto ainda falou sobre porque o BRICS decidiu, em 2016, fundar sua instituição. “Eu quero crer que não foi por conta de insatisfação do modo de operação dos demais bancos multilaterais. Sua existência veio, em grande medida, por causa dos limites de aumento da presença da participação do poder dos países nas instituições existentes. Mas a mecânica de atuação é bem similar. Assim, como foi o caso do outro banco proposto pelos chineses” avaliou.

Ele lembrou o mecanismo de captação de recursos que o NDB é igualmente clássico. Elas recebem um capital dado pelos países membros a acionista e com esse capital essas instituições são capazes de captar recursos no mercado é lançando papéis pagando em geral taxa de juros bem baixa, no caso, o Banco Mundial.

Essencialmente, é com esses recursos por conta do capital e das garantias implícitas colocados pelos acionistas. Assim como pelas garantias colocadas pelos países tomadores de recursos que esse dinheiro tem prioridade em relação a outros créditos com o setor privado. E se tornam bem abaixo daquilo que os países teriam que pagar se fosse um mercado, explica.

O economista que falou para os jornalistas Igor Maciel, Fernando Castilho, Maria Luiza Borges, Romoaldo de Souza a Fabiola Goes, correspondente da Radio Jornal em Washington (Estados Unidos).

A criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), que visa dar apoio financeiro a projetos de infra-estrutura e desenvolvimento sustentável, públicos ou privados, nos cinco países-membros e em outras economias emergentes e países em desenvolvimento, entrou em vigor no dia 3 de julho de 2015. O Banco tem sede em Xangai, na China onde a ex-presidente vai trabalhar e morar na nova sede da instituição inaugurada ano passado.

O capital subscrito inicial do banco era de US$ 50 bilhões, havendo autorização para chegar a US$ 100 bilhões. Vários países, entre a Arábia Saudita, estão pleiteando entrar no bloco, o que lhes daria condições de comprar uma cota do capital do banco.

As contribuições foram divididas de forma igualitária entre os cinco países que compõem o Brics: US$ 10 bilhões, cada. O NBD é composto por um conselho de governadores, um conselho de diretores, um presidente e quatro vice-presidentes.

A presidência do banco é rotativa e é periodicamente ocupada por um representante dos países do Brics, enquanto os membros dos demais países ficam responsáveis pela indicação dos quatro vice-presidentes. O Brasil está no comando da instituição até 2025.

O termo Brics foi criado em 2001 pelo o economista britânico Jim O´Neil que formulou o acrônimo "Bric", utilizando as iniciais dos quatro países considerados emergentes. Brasil, Rússia, Índia e China. Posteriormente, a África do Sul entrou para o bloco. O agrônomo virou BRICS.

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